Internacional

Jovens de kibutz devastado por ataque em Israel voltam à escola

Dos 1.200 habitantes do local, ao menos 85 morreram e outros 30 foram feitos reféns

Agência O Globo - 14/11/2023
Jovens de kibutz devastado por ataque em Israel voltam à escola

Os jovens do Kibutz Beeri, devastado pelo ataque do Hamas em 7 de outubro, voltaram à escola nesta terça-feira. Mas não há nada de normal neste novo ano escolar para estas crianças traumatizadas, que enterraram os seus entes queridos.

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"Havia 17 alunos na minha turma. Restam apenas 15 porque dois morreram", disse Lotan Ron, 15 anos, à AFP.

Na turma superior, há apenas dez estudantes porque três foram feitos reféns e dois morreram. O kibutz de Beeri, a menos de cinco quilômetros a leste da fronteira com a Faixa de Gaza, foi devastado por comandos do grupo Hamas. Dos 1.200 habitantes, pelo menos 85 pessoas morreram ali e outras 30 foram feitos reféns.

Os sobreviventes foram evacuados, assim como todos os residentes das áreas atacadas. Os residentes de Beeri vivem em hotéis próximos ao Mar Morto há mais de um mês, a mais de 100 quilômetros de casa. No dia 8 de novembro, os alunos do ensino médio começaram a retornar às aulas, em prédios que foram convertidos em salas de aula, próximos ao seu alojamento temporário.

“Não é uma escola normal. Até os professores estão profundamente traumatizados”, diz Ron, de bermuda e chinelo. “Os professores, os psicólogos, ninguém tinha vivido algo assim antes e ninguém sabe realmente o que fazer conosco”, afirma.

Terapia

As aulas não duram mais de três horas por dia. Fazem matemática, literatura, mas acima de tudo passam muito tempo conversando.

“Estamos tentando aprender, mas ninguém consegue se concentrar”, continua o menino. Para esse adolescente que se sente “vazio”, a “verdadeira terapia” é encontrar os amigos. Mas cinco deles morreram. “Durante o funeral de um amigo, me perguntei por que não estava vendo outro amigo meu e então percebi que ele também estava morto”, lembra ele.

Segundo as autoridades, mais de 1.200 pessoas, a maioria civis, foram mortas em solo israelense no ataque do grupo islâmico palestino, sem precedentes em sua escala e violência. Cerca de 240 pessoas ainda estão mantidas como reféns em Gaza.

Israel, que quer “aniquilar” o Hamas, está bombardeando o pequeno enclave em retaliação, onde mais de 11.200 pessoas morreram, incluindo 4.600 crianças, segundo o movimento islâmico. Nadav Kipins, de 27 anos, ofereceu-se para ajudar a supervisionar as crianças desta escola. Seus pais foram assassinados e sete membros de sua família são reféns.

“Alguns perderam tudo e se perguntam por que deveriam ir à escola. Nada mais importa para eles. É difícil entender isso”, diz ele.

Para Miri Gad Messika, consultora de marketing de 45 anos, mãe de filhos de 9, 14 e 15 anos, o novo ano letivo tem o mérito de recriar “uma certa forma de rotina”.

“Antes ficavam na cama ou no quarto, entediados e esperando”, lembra.

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No dia 7 de outubro, a família escapou saltando do segundo andar do prédio incendiado pelo Hamas. A escola primária também reabriu, em uma aldeia um pouco mais distante. Tom Gaz, uma menina de 10 anos, diz que não gosta de ir à escola, mas sente que isso lhe faz bem.

“Se ficarmos em nosso hotel e não fizermos nada, nunca superaremos isso”, diz ele.

A menina, que ficou trancada por 20 horas no quarto blindado de sua casa, ainda está “assustada”.

"Estou tentando me preparar para outro ataque. Se os terroristas vierem, terei que pular pela janela?", questiona. Na escola, ele gosta especialmente do recreio. “Tentamos brincar, não falar sobre o que passamos porque, para algumas crianças que perderam a família, é muito difícil.”