Internacional

Rabino veterano em ONG por direitos humanos ajuda na proteção de palestinos na Cisjordânia

Território, administrado pela Autoridade Nacional Palestiana (ANP), vive aumento da violência desde o início da guerra; pelo menos 180 palestinos já foram mortos na região

Agência O Globo - 14/11/2023
Rabino veterano em ONG por direitos humanos ajuda na proteção de palestinos na Cisjordânia
palestinos na Cisjordânia - Foto: Reprodução

Arik Ascherman, de 64 anos, está parado sob uma oliveira, vestindo um pesado colete à prova de balas, embora a ameaça de violência não o intimide. Na aldeia de Taybeh, na Cisjordânia, próximo a Ramallah, o rabino observa os agricultores palestinos trabalharem. Contudo, ele não é mais um dos colonos ilegais sobre o território administrado pela Autoridade Nacional Palestina (ANP). Ascherman é um veterano ativista do grupo Rabinos pelos Direitos Humanos B’Tselem e sua presença no olival evoca segurança — não violência.

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— Não há desculpa, não há explicação, não há justificação para o que o Hamas fez — pontua o rabino à AFP, em referência aos ataques terroristas contra Israel no dia 7 de outubro, que matou 1.200 civis e soldados em Israel, acrescentando: — Mas, o israelense não está preparado ou disposto para diferenciar um terrorista palestino de um palestino aterrorizado.

Na Cisjordânia, onde a ANP administra os territórios palestinos, vivem cerca de 3,2 milhões de pessoas, acima dos pouco mais de 2,3 milhões da Faixa de Gaza, porém abaixo dos cerca de 9 milhões de Israel.

Todos os anos, no outono, colonos judeus incendeiam ou derrubam árvores, segundo a agência francesa, enquanto soldados israelenses — que detêm o controle militar da região — bloqueiam o acesso às oliveiras. Porém, essa temporada é diferente, especialmente por conta da guerra e a escalada dos confrontos na Cisjordânia.

Desde o início do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, iniciada no dia 7 de outubro, a região presencia uma escalada de violência: 180 palestinos e mais de 1.350 pessoas já foram presas durante varreduras e buscas, segundo o Exército de Israel, citado pelo New York Times.

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Apesar do Hamas não atuar na região — o grupo controla a Faixa de Gaza desde 2007 —, a Cisjordânia vive há cerca de 50 anos com os assentamentos ilegais israelenses, o que gera tensão entre palestinos e colonos judeus.

— É uma guerra total entre dois povos — observa Ascherman à agência francesa. — Ninguém, nesta altura, está disposto a ajudar os palestinos por causa da nossa raiva.

O rabino atua na ONG há 28 anos e afirma que “sempre houve um número significativo” de israelenses que apoiavam sua causa. No local, há alguns israelenses com ele, colocados como vigias para o caso da chegada de colonos ilegais. Contudo, as últimas semanas mudaram o posicionamento de muitos judeus:

— Evaporou. Quase não há apoio.

‘Era um festival, mas hoje não mais’

Por conta da guerra, as ações contra palestinos se multiplicaram. Os soldados israelenses intensificaram as incursões nos centros das cidades: segundo a ONU, citada pela AFP, os ataques passaram de três a sete por dia.

Segundo a ONG, um agricultor que trabalhava nas oliveiras foi morto, no final de outubro. A B’Tselem afirma que os confrontos “aumentaram”, nos quais “palestinos são atacados por colonos violentos vestidos com uniformes militares e em posse de armas estatais”. Ainda de acordo com a ONG, em quase metade dos casos de violência, “as forças de segurança de Israel estão acompanhando ou apoiam ativamente”.

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Em resposta, o Exército de Israel afirmou que, no caso do agricultor morto, “um soldado fora de serviço participou”. Eles abriram uma investigação. A agência francesa pontuou que, durante a reportagem, não viu nenhum colono na região.

Uma palestina, identificada como Suad Mahmud, de 60 anos, da cidade de Dura al-Karia, afirmou que na Cisjordânia há cerca de 10 milhões de oliveiras. O fruto da árvore, que se desenvolve em condições difíceis e pode viver até centenas de anos, é símbolo do seu enraizamento no território.

— A temporada de colheitas era um verdadeiro festival, mas hoje já não é mais o caso — lamentou a mulher à AFP, acrescentando: — As azeitonas são muito importantes para nós e sem elas não poderíamos viver.