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Guerra Israel x Hamas: Brasil completa operação de repatriação nesta 2ª após fim do drama do grupo de Gaza

Previsão é que brasileiros e familiares que estavam em Gaza cheguem às 23h30 desta segunda no aeroporto de Brasília

Agência O Globo - 13/11/2023
Guerra Israel x Hamas: Brasil completa operação de repatriação nesta 2ª após fim do drama do grupo de Gaza

Chegou ao fim no domingo o drama de um grupo de 32 pessoas — 22 brasileiros, sete palestinos com residência no país e três parentes — que esperavam sair da Faixa de Gaza desde o início do conflito entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas, em 7 de outubro, e que tiveram uma primeira tentativa frustrada na última sexta-feira. A previsão inicial era que 34 pessoas saíssem do enclave, mas uma mãe e sua filha de 12 anos decidiram permanecer em Gaza por “motivos pessoais”, segundo o Itamaraty.

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“Chegamos ao Egito com apoio do governo federal. Muito obrigado, presidente Lula”, anunciou Hasan Rabee, palestino com cidadania brasileira de 30 anos, que ficou conhecido nacionalmente após começar a usar as redes sociais para denunciar a guerra e relatar a situação daqueles que desejavam voltar ao Brasil.

O grupo enfrentou uma viagem de entre seis e sete horas até a capital do país, Cairo, onde chegou ao redor das 19h (horário de Brasília) e passou a noite em um hotel. Na manhã desta segunda-feira, o grupo deixou o Cairo em um voo da FAB, com destino final em Brasília. No traslado até a capital do Egito, o grupo fez uma parada para almoço na cidade de el-Arish, de onde Rabee postou um vídeo mostrando as crianças brincando na praia — no grupo, há 17 crianças, nove mulheres e seis homens.

“Estavam presos por mais de 35 dias. Chegamos aqui para almoçar e todo mundo correu para a praia”, disse.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo ainda não confirmou se ele se encontrará com o grupo, celebrou na rede X (antigo Twitter) a travessia, parabenizando o “Itamaraty e a FAB [Força Aérea Brasileira] pela dedicação e competência exemplares na Operação Voltando em Paz”.

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Logo após a travessia, o embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco de Carvalho Neto, afirmou que havia um “espírito de alegria” no grupo.

— Eles estão relativamente bem, recebendo atenção médica e psicológica. O espírito do grupo é de alegria após os desafios enfrentados ao longo de tantos dias — disse em entrevista à GloboNews.

Chegada em Brasília

Segundo a FAB, uma aeronave VC-2 (Embraer 190) decolou às 11h50 (6h50 em Brasília) do Cairo. Estavam previstas paradas em Roma (Itália), Las Palmas (Espanha) e na Base Aérea do Recife, onde grupo deve ser recepcionado pelo ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho. A expectativa é de que cheguem a Brasília às 23h30. Na manhã desta segunda, contudo, a parada em Roma foi cancelada, e o avião seguirá direto para a Espanha.

Quando o avião chegar à capital federal, o governo terá transportado 1.477 passageiros — 1.462 brasileiros, 11 palestinos, três bolivianas e uma—, além de 53 animais domésticos, nos últimos 37 dias. Três aeronaves da FAB e duas da Presidência da República foram utilizadas na operação.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a saída da Faixa de Gaza ocorreu com “muito êxito” e que a situação das 32 pessoas estava “momentaneamente resolvida”, mas que o problema do conflito não.

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— A situação deles está momentaneamente, agora, resolvida. Mas a situação do conflito é gravíssima, e o presidente Lula continua muito envolvido na solução da questão — disse o chanceler durante uma coletiva ontem. — Ele tem falado constantemente com muitos chefes de Estado.

Segundo Vieira, o governo brasileiro voltará a insistir no Conselho de Segurança da Organização da ONU em um acordo de suspensão do conflito.

Acolhimento

Na operação de acolhimento montada pelo governo federal, o grupo repatriado de Gaza terá apoio para regularizar sua situação no Brasil, acesso a programas sociais e ao Sistema Único de Saúde (SUS), além de apoio psicológico, cuidados médicos e imunização. Ficarão dois dias hospedados em Brasília, em um alojamento da FAB. Parte já tem local para ficar depois disso. Quase a metade, contudo, não tem onde ficar, e será direcionada para um abrigo do governo no interior de São Paulo, sem um prazo máximo de permanência.

— Há todo um esquema de recepção e depois de contato com famílias — afirmou Vieira, acrescentando: — O Ministério do Desenvolvimento Social, junto com a Casa Civil, tem esse sistema de acolhimento, [fornecendo] identidade, permissão de trabalho, acesso ao SUS, à toda rede de apoio social para refugiados.

Em nota divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), o secretário Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Augusto Botelho, afirmou que a ajuda se estenderá pelo período que for preciso.

“Estamos preparados para o tempo que for necessário, para que essas pessoas possam se integrar ao nosso país. Eles ficarão em um local com longa experiência de acolhimento de refugiados da forma mais completa, mais digna, sem prazo”, afirmou.

Desinformação

Em sua coletiva, o chanceler brasileiro também afirmou que “todo o esforço” para a saída dos brasileiros foi feito pelo governo federal, e que outras informações são “desinformação”. A declaração é uma resposta a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que tentaram atribuir a ele um papel na operação.

— Todo o esforço para a libertação dos brasileiros, desde o início, foi feito pelo governo do presidente Lula, por instrução dele, acompanhamento diário — declarou. — E foi isso que resultou na conclusão exitosa desse acordo entre todos os países envolvidos. Isso é o que eu posso dizer, isso é o que existe. Além disso, acho que é desinformação.

Além disso, Vieira desconversou quando questionado sobre o encontro que o embaixador de Israel no Brasil, Daniel, manteve com Bolsonaro.

— Não conheço — disse.