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'Brasileiros em Gaza não puderam passar porque posto de controle não foi aberto', diz chanceler sobre operação de repatriação

Grupo estava na fronteira de Rafah na manhã desta quarta-feira e esperava para entrar no Egito; Mauro Vieira diz não haver estimativa de quando poderão sair de área de conflito com Israel

Agência O Globo - 10/11/2023
'Brasileiros em Gaza não puderam passar porque posto de controle não foi aberto', diz chanceler sobre operação de repatriação
israel - Foto: AGENCIA BRASIL

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que, apesar de os brasileiros na Faixa de Gaza terem sido autorizados a deixar a região, a saída deles não aconteceu nesta sexta-feira porque o posto de controle na fronteira com o Egito permaneceu fechado. O governo brasileiro montou uma operação para repatriar 34 pessoas com nacionalidade brasileira ou seus parentes.

Veja vídeo: Brasileiros já estão na fronteira do Egito e esperam para deixar Faixa de Gaza, diz Itamaraty

"Novamente não saíram, apesar de terem sido mobilizados até a região do posto de controle, não puderam passar porque o posto de controle não foi aberto. Estamos em contato com todas as partes e esperamos que esses nomes sejam autorizados a cruzar o mais rapidamente possível. Os nomes fazem parte da lista dos que foram autorizados a cruzar, mas até o momento nenhum desses nacionais de nenhuma nacionalidade cruzou nos ultimos três dias", afirmou o ministro.

Segundo Vieira, não é possível estimar quando eles poderão cruzar a fronteira por causa da situação de conflito em Gaza. Ele também disse que o governo trabalhou desde o começo para retirar brasileiros e, ele próprio falou em quatro ocasiões diferentes com o chanceler israelense, Eli Cohen.

"A passagem é complexa porque fica aberta durante poucas horas por dia. Há entendimento que primeiro passa ambulância com feridos e só depois disso passam os nacionais de outros países. Foi o que aconteceu hoje, ontem e quarta. Não teve passagem de Gaza para o Egito por impossibilidade de terminarem de passar as ambulâncias", justificou o ministro, completando: "A situação em Gaza não nos permite dizer se hoje, amanhã ou quando. É uma região conflagrada, e são inúmeras as questões que dificultam a abertura".

Antes de fronteira fechar e impedir saída de brasileiros, só ambulâncias passaram, diz embaixador no Egito

Questionado sobre o motivo dos brasileiros não terem entrado nas listas anteriores de autorizados a deixarem Gaza, o ministro afirmou que Israel tem uma "palavra definitiva" e que a abertura da fronteira é feita com "autorização e participação direta de Israel.

Passaram alguns nacionais de terceiros países, as listas com os brasileiros já estão, que eu me lembre, há duas ou três semanas com os dois lados, e Israel sim tem uma palavra definitiva com relação a quem sai, a militares de Israel em Gaza e a abertura é feita do lado de Gaza com autorização e participação direta de Israel.

Questionado se a demora para a entrada dos brasileiros na lista seria uma retaliação de Israel ao Brasil em razão da presidência do país no Conselho de Segurança da ONU, Vieira afirmou que "não há nenhuma relação" e que "em nenhum momento isso foi manifestado pelas autoridades de Israel". O Brasil defendeu um cessar-fogo humanitário, mas a resolução foi vetada pelos Estados-Unidos por um entendimento que Israel teria direito de defesa.

"De forma alguma não há nenhuma relação. Inclusive já saíram nacionais de países que não têm relação diplomática que não reconhece o Estado de Israel. em nenhum momento isso foi manifestado pelas autoridades de Israel", afirmou posteriormente, durante entrevista à GloboNews.

Vieira afirmou ainda espera que a ordem de saída de nacionais seja mantida quando a fronteira for aberta, mas que será uma definição das duas partes.

"Esperamos e contamos com o fato de que, no momento que for aberta a passagem de Rafah, essa ordem de passagem seja mantida, com atraso de dois dias, três dias, mas que seja mantida. A ordem de passagem será a que for estabelecida pelas duas partes."

Ainda durante a entrevista, o ministro afirmou que os brasileiros e familiares foram para um alojamento próximo a Rafah providenciado pela embaixada brasileira para esperar a abertura da fronteira.

"Os grupos foram reunidos perto de Rafah em nova localidade disponibilizada pela embaixada para que estejam mais próximos e prontos para sair assim que for aberta a passagem. Assim que for aberta a passagem, eles passarão."

O grupo de brasileiros e familiares autorizados a sair da Faixa de Gaza — zona de conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas desde o dia 7 de outubro — estavam no posto de fronteira de Rafah desde o começo da manhã e esperavam para entrar no Egito. A fronteira, no entanto, foi novamente fechada horas depois.

Muitas negociações foram necessárias até a autorização para os brasileiros saírem de Gaza, nesta sexta-feira. Só na última quarta-feira, o primeiro grupo foi liberado a deixar o enclave palestino, desde o atentado do Hamas em 7 de outubro e do início dos bombardeios israelenses no território. Até então, apenas caminhões com ajuda humanitária haviam entrado em Gaza.

Até quarta feira, nenhum brasileiro havia sido incluído nas seis listas de pessoas liberadas para cruzar para o Egito pela passagem de Rafah, frustrando as expectativas do governo, que vinha pressionando diariamente as autoridades israelenses pela liberação. Ao todo, são 24 brasileiros, 7 palestinos com residência no Brasil e 3 parentes próximos que esperavam na fronteira em Rafah. Antes, mais de mil brasileiros que estavam em Israel e na Cisjordânia já haviam sido repatriados.

Segundo Vieira, o grupo em Gaza continuará recebendo auxílio do governo brasileiro enquanto permanecerem na região, o que inclui uma casa alugada perto da fronteira e dinheiro para que comprem comida. A operação de resgate prevê que eles desembarquem em Brasília e, em seguida, sejam levados para cidades onde têm familiares ou amigos.

"São brasileiros ou parentes. Metade são crianças e há avós de brasileiros, pais", disse Vieira.

Na quinta-feira, Vieira ligou para o chanceler de Israel, Eli Cohen. Após a conversa, o Itamaraty divulgou, em uma publicação no X (antigo Twitter) que o ministro israelense havia garantido que os brasileiros seriam incluídos na lista de estrangeiros autorizados a deixar Gaza que seria divulgada nesta sexta-feira. O telefonema foi o quarto contato entre os dois ministros para tratar do assunto.

As negociações envolveram também conversas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os presidentes de Israel, Isaac Herzog; do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi; e da Autoridade Nacional Palestina.