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'Orgulho' e 'medo': soldados israelenses mobilizados perto da fronteira com Gaza enfrentam a expectativa de envio ao front

Jovens entre 18 e 21 anos estão posicionados na retaguarda, em kibutzs próximos ao enclave, abandonados pelos moradores depois do ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro

Agência O Globo - 08/11/2023
'Orgulho' e 'medo': soldados israelenses mobilizados perto da fronteira com Gaza enfrentam a expectativa de envio ao front

"Medo" e "orgulho" se misturam nos relatos de soldados israelenses mobilizados perto da Faixa de Gaza. A agência de notícias France Presse conversou com alguns desses militares, todos com idades entre 18 e 21 anos. Alguns acabaram de sair da adolescência e estão cumprindo o serviço militar obrigatório, que em Israel dura 3 anos para os homens e 2 para as mulheres. Há alguns dias, eles estavam posicionados na retaguarda dos combates, nos kibutzs na fronteira com Gaza, abandonados por seus habitantes após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro.

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— Sim, tenho um pouco de medo. Não sabemos se vamos retornar vivos — admite um soldado de 20 anos, que pelo regulamento militar não pode revelar o nome.

Embora tenha iniciado o serviço militar há apenas seis meses, ele imagina uma possível ordem de envio para o território palestino.

— Nós faremos o que tivermos que fazer, mas é um lugar terrível para ir — acrescenta, enquanto ouve palavras de otimismo dos companheiros. — Queremos entrar lá com uma energia positiva. Estou realmente irritado com o que o Hamas fez — explica o soldado, nascido em Gush , um conjunto de assentamentos na Cisjordânia ocupada.

A Faixa de Gaza fica a apenas dois quilômetros do local onde estão posicionados. O som da guerra é incessante — bombardeios e disparos de artilharia. A defesa aérea intercepta um foguete lançado a partir do território palestino. A guerra começou depois do ataque de 7 de outubro em que morreram mais de 1.400 israelenses. O Hamas também sequestrou 240 reféns e Israel prometeu "aniquilar" o grupo terrorista. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 10 mil pessoas morreram nos bombardeios a Gaza - quase dois terços menores de idade e mulheres.

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'Se ele não for, quem irá?'

Desde o início da invasão por terra do enclave, em 27 de outubro, 30 soldados israelenses morreram em território palestino, segundo o Exército. O braço militar do Hamas ameaçou Israel, afirmando que seus soldados retornarão em "sacos pretos" ao país.

Em outro kibutz transformado em base, uma militar de 21 anos admite que mentiu para a mãe.

— Eu disse que estava no centro do país, não perto de Gaza. Não quero que ela fique preocupada — confessa.

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Outro jovem de 19 anos, que começou a servir há oito meses, diz estar “orgulhoso”.

— Tenho muito orgulho de ser soldado. Quem poderia saber onde estaríamos agora? — reflete.

O rapaz recebeu a visita calorosa de toda família. Os pais, avós, as irmãs e até o cachorro viajaram de Tel Aviv até o kibutz para uma visita. Os parentes chegaram com roupas e comida.

— A última vez que o vimos foi há cinco semanas. Não sabemos quando o veremos novamente — afirmou a mãe do jovem, que diz ter medo que o filho seja enviado a Gaza — Espero que ele não vá para Gaza, mas se ele não for, quem irá? Se o Exército não existisse, Israel não existiria.

Uma hora depois da chegada, a família precisa ir embora.

— Eu choro o tempo todo — disse a mãe do jovem, que abraça o filho, antes de partir.