Internacional

Forças israelenses ‘lutam no coração da Cidade de Gaza’ após um mês de conflito, diz ministro da Defesa de Israel

Yoav Gallant negou que Israel vá 'governar' Gaza após o fim da guerra, em aparente contradição com declarações do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que geraram reações em Washington

Agência O Globo - 07/11/2023
Forças israelenses ‘lutam no coração da Cidade de Gaza’ após um mês de conflito, diz ministro da Defesa de Israel
israel - Foto: Reprodução

As Forças Armadas de Israel disseram nesta terça-feira que estão lutando em “centros importantes” da Cidade de Gaza, principal localidade do enclave, durante uma guerra “complexa e difícil” com militantes do grupo terrorista Hamas. Há um mês, o grupo lançou o mais mortífero ataque contra Israel desde a criação do Estado judeu, em 1948, desencadeando uma campanha aérea e terrestre israelense contra o território palestino. Nesta terça, o país homenageou os 1,4 mil mortos do ataque de 7 de outubro, quando 240 reféns foram levados para o enclave palestino.

Guerra Israel X Hamas: veja a cobertura completa

Dor, trauma e vingança: um mês depois do atentado, discurso que criminaliza civis de Gaza ganha força em Israel

— Estamos no centro da Cidade de Gaza — declarou o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, numa coletiva de imprensa. — Gaza é a maior base terrorista alguma vez construída.

Segundo o Exército israelense, o enclave está cercado, com suas forças avançando a partir do norte e do sul.

— Estamos combatendo neste exato momento em centros importantes da Faixa de Gaza. Acabei de voltar de lá. Pela primeira vez em uma década, as Forças de Defesa de Israel estão lutando no coração da Cidade de Gaza. No coração do terror. Esta é uma guerra complexa e difícil e, infelizmente, tem custos — disse o major-general Yaron Finkelman em um comunicado.

Veja imagens dos tanques de Israel posicionados ao norte de Gaza

Finkelman também afirmou que os soldados israelenses estão “eliminando terroristas, descobrindo túneis, destruindo armas e mantendo o avanço em direção ao centro do inimigo”. Segundo ele, o comando do Sul de Israel luta sem parar há um mês para “atacar o núcleo das capacidades do Hamas”, que controla Gaza desde 2007.

As Forças Armadas israelenses afirmaram que seu objetivo é pressionar os redutos do Hamas, incluindo o campo de refugiados de Shati e o centro de controle do grupo terrorista dentro dele, além dos túneis que ficam sob o Hospital Shifa. O número de soldados israelenses mortos na invasão por terra a Gaza já chega a 30, segundo o Exército.

Diplomacia: Mauro Vieira diz que é 'lamentável' e 'moralmente inaceitável' ONU não conseguir acordo sobre conflito entre Israel e Hamas

'Não apoiamos a reocupação'

Durante uma audiência especial da Comissão de Relações Exteriores e Segurança da Knesset (Parlamento de Israel), Gallant afirmou que os objetivos após o fim do conflito em Gaza são remover a ameaça de segurança para os cidadãos israelenses, pôr fim à atividade militar e governamental do Hamas e garantir às forças israelenses liberdade de ação em Gaza "sem limitações nas operações".

Mais tarde, porém, durante a coletiva de imprensa, ele afirmou que Israel não controlará o enclave depois do conflito.

— Posso lhe dizer quem não vai governar (Gaza). Não será o Hamas, e não será Israel. Tudo mais é uma possibilidade — disse.

As declarações vieram um dia depois de o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmar, durante uma entrevista à ABC News, que Israel assumirá a "responsabilidade geral de segurança" em Gaza por um "período indefinido" após o fim da guerra.

Líder do governo no Senado: ‘Tudo indica que amanhã os brasileiros em Gaza vão sair’

— Acho que Israel terá, por um período indefinido, a responsabilidade geral pela segurança, porque vimos o que acontece quando não a temos — disse o premier, acrescentando que Gaza deve ser governada por "aqueles que não querem continuar o caminho do Hamas".

Nesta terça-feira, os EUA se posicionaram contra uma ocupação israelense de longo prazo em Gaza, como sugeriu Netanyahu.

— Na nossa opinião, os palestinos deveriam estar na vanguarda dessas decisões, Gaza é território palestino e continuará sendo território palestino — disse o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, a repórteres. — De modo geral, não apoiamos a reocupação de Gaza e Israel também não.

A última incursão terrestre de Israel a Gaza, como ocorre agora, foi em 2014. O porta-voz do Departamento de Estado fala em "reocupação" porque o enclave já foi território ocupado por assentamentos judeus, como é a Cisjordânia. Os israelenses se retiraram do enclave palestino em 2005, após a revolta conhecida como Segunda Intifada e uma escalada de violência que tornou difícil proteger milhares de colonos judeus que viviam no território. No ano seguinte o Hamas venceu as únicas eleições parlamentares realizadas em Gaza e, em 2007, expulsou do enclave o Fatah, o grupo político que controla a Autoridade Nacional Palestina (ANP) de Mahmoud Abbas, após uma breve guerra civil.