Internacional
Guerra de Israel com o Hamas reacende esforços para uma solução de dois Estados, o judeu e o palestino
Abandonada há anos após diversos esforços, ideia voltou à mesa de debates nas últimas semanas e vem sendo defendida como o caminho mais seguro para se alcançar a paz na região
Descartada há anos das mesas de negociação após diversos esforços internacionais, a solução de dois Estados para o conflito histórico entre Israel e Palestina parece ter voltado ao centro do debate. Desde os ataques terroristas do Hamas ao território israelense em 7 de outubro, líderes de potências como EUA, Reino Unido e França têm reverberado a ideia, agora vista como o caminho mais seguro para se alcançar a paz na região.
— É preciso ter em mente o que está por vir — afirmou o presidente americano, Joe Biden, na semana passada. — Em nossa opinião, tem que ser uma solução de dois Estados.
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À primeira vista, parece um retorno a uma ideia antiquada: invocar, como remédio para os confrontos mais sangrentos entre israelenses e palestinos em muitos anos, a relíquia desbotada de um processo de paz que muitos de ambos os lados consideravam morto e enterrado há anos.
E, no entanto, a solução de dois Estados — israelenses e palestinos vivendo lado a lado em seus próprios países soberanos — está sendo ouvida novamente, não apenas nos círculos de política externa em Washington, Londres e Paris, mas também, mais discretamente, entre as partes beligerantes. Em parte, isso reflete a falta de qualquer outra alternativa viável.
— Não podemos voltar a um padrão em que, a cada dois anos, há um confronto violento entre Israel e o Hamas — disse Gilead Sher, que ajudou a liderar as negociações de judeus com palestinos no final da década de 1990 e início dos anos 2000, quando os dois lados chegaram mais perto de firmar um acordo de dois Estados.
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Tal esforço, porém, teria que superar um emaranhado de obstáculos, entre eles a proliferação de assentamentos judaicos na Cisjordânia, que, segundo os palestinos, corroeu o sonho de criar um Estado viável naquela terra. A ascensão dos ultranacionalistas em Israel complica ainda mais a tarefa: eles se opõem à criação de um Estado palestino, buscam anexar a Cisjordânia e sabem que a remoção dos colonos é dinamite política.
Sher listou uma série de ressalvas para as conversações entre israelenses e palestinos: os dois lados teriam que começar de forma modesta, com um processo político focado na desvinculação, em vez de uma negociação de alto nível sobre os detalhes de dois Estados. Ambos também precisariam de novos líderes, uma vez que os atuais se mostraram relutantes ou incapazes de chegar a um acordo, afirmou. Acima de tudo, o Hamas teria que ser derrotado e a Faixa de Gaza desmilitarizada.
As autoridades israelenses dizem que estão concentradas na guerra contra o Hamas, que pode durar meses, e que qualquer discussão sobre um processo de paz deve esperar até que as armas se calem. Porém, nos centros de debate e no entorno do Ministério das Relações Exteriores de Israel, a discussão sobre como seria um processo político posterior já começou.
Entre os palestinos, que sofrem com os bombardeios e o bloqueio de Gaza por parte de Israel e com as crescentes tensões na Cisjordânia, as perspectivas de um Estado parecem ainda mais improváveis. Mas alguns argumentam que o choque dos ataques do Hamas em 7 de outubro tirou dos israelenses a ilusão de que eles podem administrar o conflito com os palestinos sem confrontar suas aspirações mais profundas de nação.
— O que aconteceu em 7 de outubro deveria nos impulsionar a sermos mais criativos e mais inovadores em relação à solução de dois Estados — disse Nidal Foqaha, diretor geral da Coalizão de Paz Palestina, um grupo sem fins lucrativos com sede em Ramallah, na Cisjordânia. — Sem um horizonte político, essa é uma missão impossível.
Negociações de paz
A mecânica de tal processo está longe de ser clara. Na semana passada, a União Europeia pediu uma conferência internacional para discutir a paz na região, uma ideia defendida pela Espanha. As nações árabes também poderiam convocar negociações de paz, embora um esforço inicial do Egito na semana passada, quando a operação militar israelense em Gaza estava se aproximando, tenha produzido pouco resultado.
De acordo com todos os relatos, os Estados Unidos teriam que assumir um papel central em qualquer negociação entre israelenses e palestinos. Isso não acontece desde o governo do presidente Barack Obama (2009-2017), quando o secretário de Estado da época, John Kerry, se equilibrou entre os dois lados em 2013 e 2014, antes de desistir por frustração. Era uma missão que, mesmo naquela época, alguns assessores da Casa Branca consideravam quixotesca.
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Sob o comando de Donald Trump, os Estados Unidos mudaram sua ênfase na resolução da questão palestina para normalizar as relações entre Israel e seus vizinhos árabes. Essa estratégia se enquadrou na visão do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que estava em uma coalizão ultranacionalista que desdenhava abertamente da ideia de um Estado palestino. Netanyahu oscilou entre dizer que estaria disposto a considerar uma nação palestina com poderes de segurança limitados e se opor totalmente a ela.
Apesar de sua fidelidade ao sonho de dois Estados, o governo Biden adotou em grande parte o projeto de Trump. O republicano vinha tentando intermediar um acordo que normalizaria as relações entre Israel e a Arábia Saudita, um prêmio ainda maior para Tel Aviv do que os emirados do Golfo, dado o status de Riad como vanguarda do mundo árabe.
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Essas conversas foram suspensas pela guerra entre Israel e o Hamas. Mas se Israel conseguisse retomá-las, isso poderia colocar a solução de dois Estados novamente sobre a mesa. Os sauditas disseram ao Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que querem que os passos em direção a um Estado palestino façam parte de qualquer acordo de normalização com Israel.
Blinken, por sua vez, planeja dizer aos líderes israelenses pessoalmente que o governo americano apoia a criação de um Estado palestino ao lado de Israel como um objetivo em potencial para o rescaldo da crise, disse Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, em uma entrevista coletiva na quarta-feira.
É provável que os países árabes também pressionem para que a questão palestina seja tratada como condição para desempenhar um papel na estabilização e reconstrução de Gaza no pós-guerra. A perspectiva de um Estado palestino poderia tranquilizar o Egito e a Jordânia, que estão alarmados com a possibilidade de receberem milhões de refugiados de Gaza.
— Parte disso é dar a eles o enquadramento, a embalagem de que precisam para participar de uma solução para Gaza — disse Ghaith al-Omari, membro sênior do Instituto de Washington para Política do Oriente Próximo, uma organização de pesquisa. — Essa é uma das razões pelas quais acho que o presidente [Biden] falou sobre isso, mesmo que parecesse irrelevante.
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