Internacional

Ninguém pode ignorar os resultados das primárias, diz oposição venezuelana após invalidação judicial

María Corina Machado, rival de Nicolás Maduro, havia sido escolhida para disputar eleição de 2024, sub acusação de fraude do governo

Agência O Globo - 01/11/2023
Ninguém pode ignorar os resultados das primárias, diz oposição venezuelana após invalidação judicial

A oposição da Venezuela reiterou nesta quarta-feira o apoio a María Corina Machado como candidata nas eleições presidenciais de 2024, apesar de ela estar inabilitada politicamente e de a Justiça ter invalidado as eleições primárias das quais saiu vitoriosa.

— Nada, nem ninguém, pode ignorar os resultados e seus efeitos políticos — disse Biagio Pilieri, membro da coalizão Plataforma Unitária Democrática (PUD), em entrevista coletiva. — E menos ainda desconhecer (...) os fatores democráticos. Todos nós que participamos das primárias, elegemos uma candidatura unitária que tem um mandato claro do povo venezuelano, que hoje as forças democráticas são lideradas por María Corina Machado e que, com ela como candidata, vamos ganhar a eleição presidencial de 2024.

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As primárias para eleger o rival do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 2024 foram realizadas na forma de autogestão em 22 de outubro, com a participação de 2,4 milhões de eleitores, segundo seus organizadores, e a vitória de Machado com 92% dos votos.

O chavismo não reconhece o resultado e insiste em que os números foram inflados.

Em resposta a uma liminar, o Supremo Tribunal venezuelano —de linha governista— suspendeu "todos os efeitos" das primárias. Além disso, o Ministério Público abriu uma investigação contra a comissão organizadora sob suspeita de fraude.

— A primária foi um absoluto, enfático e inegável sucesso e não vão apagar isto nem com intimações, nem com sentenças — acrescentou Pilieri. — Está muito claro: o governo perdeu, e o país ganhou.

Machado está inabilitada a se candidatar e a ocupar cargos públicos, embora ela não reconheça esta decisão. No entanto, a Suprema Corte reafirmou a sanção, em sua sentença, ao se referir a ela como "cidadã inabilitada de forma definitiva por 15 anos" por suspeita de corrupção e promover sanções.

— A inabilitação ficou resolvida para nós em 22 de outubro, quando o povo se expressou — disse Pilieri, alinhado ao discurso de Machado sobre o tema.

'Natal sem presos políticos'

As eleições internas foram realizadas cinco dias depois de o governo e a oposição terem acordado, em uma mesa de diálogo, realizar as eleições presidenciais no segundo semestre de 2024 com a observação da União Europeia e de outros atores internacionais.

Washington, em resposta, aliviou por seis meses o embargo petrolífero imposto ao país em 2019 —condicionado ao cumprimento do acordo— e o governo libertou cinco presos políticos, incluindo o ex-deputado Juan Requesens e Roland Carreño, jornalista e colaborador próximo de Juan Guaidó.

Cerca de 50 pessoas se reuniram nesta quarta-feira em uma praça de Caracas para pedir a libertação de outros presos.

— A ideia é que isto possa continuar ocorrendo (...) que nunca mais haja violação dos direitos humanos na Venezuela, que todos os que estão presos hoje, possam ficar livres — disse à imprensa Tomás Guanipa, membro da mesa de negociação, presente ao ato.

Alguns manifestantes gritavam "Justiça e liberdade!", enquanto exibiam cartazes com os nomes de presos e os dias que estão atrás das grades. "A liberdade não tem condições", "chega de tortura", diziam outros.

— São 22 anos esperando um Natal sem presos políticos. São 22 anos rezando a Deus e a todos os santos que a mesa de unidade faça valer os acordos — diz María Isabel Bolívar, de 66 anos, tia de Erasmo Bolívar, um dos policiais presos após o golpe de Estado frustrado, em 2002, conta o então presidente Hugo Chávez, morto em 2013.

A ONG Fórum Penal reporta 270 presos políticos, incluindo oito cidadãos americanos.