Economia

Starbucks vai fechar? Entenda a crise

Dona da marca no Brasil pediu recuperação judicial e atrasou pagamento da licença para uso da marca. Justiça negou o pedido

Agência O Globo - 01/11/2023
Starbucks vai fechar? Entenda a crise

A notícia do pedido de recuperação judicial da SouthRock Capital , dona da Starbucks no Brasil, deixou os fãs da mundialmente famosa rede de café americana preocupados com o fechamento das lojas no país. No fim da tarde, a Justiça rejeitou o pedido da rede, o que deixa em aberto quais serão seus próximos passos.

Entenda: O que deu errado no Starbucks no Brasil?

Malu Gaspar: Empresa de Eike Batista pede recuperação judicial pela segunda vez após cobrança de R$ 400 milhões

A SouthRock Capital - que também responde pelas marcas Eataly e Brazil Airport Restaurantes - afirmou em seu pedido ter dívidas de R$ 1,8 bilhão e justificou a decisão de recorrer à proteção contra credores "para proteger financeiramente algumas de suas operações no país e ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica".

No pedido de recuperação a empresa afirma que a Starbucks é uma das suas principais operações e informa a necessidade de reestruturação do negócio.

Queda: Ações da WeWork se desvalorizam com notícia de que empresa pode pedir recuperação judicial

Entenda o que está acontecendo:

Perda de licença de uso da marca Starbucks no Brasil

Na semana passada, a SouthRock Capital perdeu a licença para usar a marca Starbucks. A perda da licença levou à antecipação do pedido de recuperação judicial da empresa.

Houve atrasos no pagamento do licenciamento que, segundo a SouthRock, já vinham sendo negociados com a licenciadora.

A companhia explica que no dia 13 de outubro, a Starbucks Coffee International Inc. encaminhou o documento “Notice of Termination of Licensing Agreements” (“Notificação de Rescisão Starbucks”). Por ele, foi declarada a imediata rescisão dos acordos de licença para uso da marca Starbucks celebrados entre as partes. A SouthRock tem 187 lojas da marca no Brasil.

Fim de processo: CVM absolve Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, de acusação de 'insider trading'

Saiba: O que Lira quer de Lula para aprovar pautas econômicas

“Os acordos de licença Starbucks tidos por rescindidos são justamente os instrumentos pelos quais foi garantido aos requerentes o direito de exploração e operação das lojas de varejo da marca Starbucks no Brasil”, diz a SouthRock na petição enviada à Justiça paulista.

Como está a negociação para manutenção da marca no país

A SouthRock informou que segue operando a marca Starbucks no Brasil em estreita colaboração com seus parceiros comerciais.

No pedido de recuperação judicial a empresa argumenta que a manutenção das atividades da rede de café é “absolutamente essencial” para viabilizar a reestruturação do passivo.

Em busca do 'match' perfeito? Já há apps de namoro para veganos, negros e até para quem é de esquerda. Veja como funcionam

O faturamento bruto da Starbucks é de R$ 50 milhões e "representa relevantíssima parcela do fluxo de caixa consolidado" do grupo, diz a petição.

O escritório Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil, que representa SouthRock, pede que seja mantido o direito de uso da marca, evitando queda no fluxo de caixa.

Fechamento de lojas e demissões

A empresa não comentou demissões, mas na petição do pedido de recuperação judicial há menção de "ajuste na força de trabalho e no número de lojas operantes".

Contas: Auxiliares de Lula temem ‘Dilma 3’ com manutenção de déficit zero para 2024

"Alinhamentos sobre licenças fazem parte do processo de Recuperação Judicial e são realizados diretamente com esses parceiros", informou a empresa em nota.

Os ajustes a serem feitos pela companhia incluem a revisão do número de lojas operantes, do calendário de novas aberturas, de alinhamentos com fornecedores e stakeholders (partes interessadas), bem como de sua força de trabalho tal como está organizada atualmente, diz a empresa, que também opera a marca Subway, mas que ficou fora do pedido de recuperação judicial.

Efeito pandemia sobre a Starbucks

No pedido de recuperação judicial, a empresa informa queda de venda de 95% durante 2020, ano de início da pandemia de Covid-19, 70% durante 2021 e 30% durante 2022. A empresa alega ter sido atingida pela inadimplência de seus parceiros comerciais.

Também menciona dificuldade de conseguir crédito para capital de giro e cita a alta dos preços de insumos para o varejo e das dificuldades de manutenção de lojas físicas durante a pandemia. Tudo isso afetou sua capacidade de pagamento, diz a companhia na petição.

Por que os parques da Disney têm cada vez mais opções de ingressos, passes e extras? Como escolher o melhor?

"Diante do delicado cenário econômico-financeiro, não restou alternativa que não o ajuizamento do pedido de recuperação judicial não apenas para proteger o seu interesse privado, mas também para garantir a continuidade de sua atividade empresarial, manter os postos de trabalho, a produção de bens e o recolhimento de tributos", justifica a empresa, observando que a crise é passageira e tem condições de ser resolvida.

Conheça a SouthRock

Fundada em 2015, a SouthRock promoveu a expansão de marcas internacionais no país de alimentação com franquias. A Brazil Airport Restaurants inaugurou suas primeiras lojas de aeroporto em 2017 e atua em alguns dos terminais mais movimentados do Brasil.

Atualmente, são 25 pontos localizados em São Paulo, Rio, Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte. A empresa também controla a Brazil Highway com seis restaurantes nas principais rodovias do estado de São Paulo.

Seguro que desliga com o carro na garagem? Modelo 'pay per use' reduz preço da apólice

Em 2018, a SouthRock tornou-se a master licenciada da Starbucks e TGI Fridays no país. A operação rede de cafés Starbucks foi vendida no Brasil, naquele ano, por um valor não revelado para a SouthRock, fundada por Ken Pope, que foi sócio da Laço Management. O acordo de licenciamento fechado entre as duas empresas deu à SouthRock o direito de desenvolver e operar as lojas da Starbucks no país.

Em 2019, a Starbucks expandiu sua operação inicialmente focada em São Paulo e Rio, para Santa Catarina, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. E, em 2022, a SouthRock passou a operar o centro gastronômico Eataly, em São Paulo.