Internacional
Israel nega cessar-fogo com o Hamas e prioriza preparo de invasão de Gaza, apesar de pedidos de alívio humanitário
Representação israelense na ONU afirmou que trégua não está em pauta diante de movimentação de países árabes para propor resolução; mais cedo, tanques entraram no enclave palestino para 'preparar terreno'
A pressão internacional por alívio humanitário e por uma trégua nos bombardeios para poupar a população civil na Faixa de Gaza ainda não parece ter surtido efeito na cúpula do governo de Israel. Horas após as Forças Armadas do país ordenarem uma incursão de tanques e infantaria contra o norte do enclave palestino para "preparar terreno" para a próxima fase do conflito — a possível invasão por terra, há muito especulada —, a representação do país na ONU negou que qualquer proposta de cessar-fogo seria aceita em um momento em que os israelenses ainda contam os mortos no atentado terrorista de 7 de outubro.
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Na mesma semana em que esteve na linha-de-frente do atrito entre Israel e o secretário-geral da ONU, António Guterres, o embaixador do país na organização internacional, Gilad Erdan, mostrou pouca abertura para discutir qualquer desescalada durante uma reunião de emergência da Assembleia-Geral convocada por Jordânia e Mauritânia após o fracasso do Conselho de Segurança em apresentar uma resolução à comunidade internacional. Repetindo chavões repetidos pelas autoridades israelenses nos últimos dias, Erdan classificou o Hamas como "nazistas da atualidade" e comparou o grupo palestino ao Estado Islâmico, dizendo que o país continuará sua ofensiva em Gaza.
— 20 dias se passaram e Israel ainda está contando seus mortos — disse Erdan, argumentando que um cessar-fogo "não é uma tentativa de paz, mas de amarrar as mãos de Israel", que apenas garantiria a continuidade da violência.
O posicionamento do israelense foi de encontro à linha coordenada entre países árabes e a Autoridade Nacional Palestina na tentativa de garantir um cessar-fogo. O observador permanente do Estado da Palestina, Riyad al-Maliki, defendeu uma pausa no conflito para aliviar a crise humanitária em Gaza — que somou mais de 7 mil mortos desde 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave, administrado pelo Hamas.
Malik fez um paralelo entre a população civil de Gaza e os reféns israelenses capturados pelo Hamas, afirmando que enquanto o Estado judeu pede para que seus cidadãos sejam mandados de volta para casa, milhões de palestinos "não têm para onde voltar". Ele pediu ajuda para aprovação de uma resolução suspenda os ataques — de acordo com a Al-Jazeera, o esboço de um projeto que deve ser apresentado ao plenário na sexta-feira, liderado pela Jordânia e outros países árabes, incluiria um cessar-fogo imediato, a revogação do ultimato israelense sobre o norte de Gaza e a liberação da fronteira para chegada de ajuda humanitária.
— Votem para acabar com a matança, votem para acabar com esta loucura”, disse ele. “Escolham a justiça, não a vingança. Escolham a paz, não mais guerras. Votem para pôr fim a quase três semanas do pior 'dois pesos, duas medidas' que vimos em décadas — disse o representante palestino.
Cerco humanitário
Em um ritmo completamente diferente da frente de negociação diplomática, agências que prestam ajuda humanitária em Gaza apontam que um ponto de exaustão é virtualmente inevitável diante do severo bloqueio israelense a entrada de insumos básicos em território palestino e dos bombardeios incessantes.
A Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA), que na quarta-feira havia dito ter combustível para manter seus geradores funcionando por cerca de 24 horas apenas, afirmou ter reduzido significativamente sua operação nesta quinta-feira, classificando a situação como "desesperadora". A UNRWA também afirmou que três escolas sofreram "danos colaterais" causados pelos bombardeios em Gaza nas últimas 24 horas. Trinta e nove funcionários da agência já morreram desde o início do conflito.
— Insistimos no acesso imediato e irrestrito para fornecer ajuda urgente. Cada momento que passa coloca inúmeras vidas em perigo. O mundo não deve tolerar mais impedimentos à nossa missão de salvar aqueles que estão em risco — afirmou o diretor regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o Leste do Mediterrâneo, Ahmed Al-Mandhari.
Além das vítimas diretas dos bombardeios, e centenas de pessoas que estariam soterradas, autoridades de saúde afirmam que o risco de doenças como cólera aumentam diante da escassez de insumos e deterioração de condições de higiene.
Israel e o Egito chegaram a um acordo para permitir a entrada de água, alimentos e suprimentos médicos, porém, entre sábado e quinta-feira, apenas 74 caminhões com ajuda humanitária entraram em Gaza, uma quantidade irrisória frente aos "100 por dia" que as Nações Unidas dizem que Gaza necessita desesperadamente.
O acordo para entrada da ajuda inclui o aceite de que Israel inspecione os carregamentos em busca de armas ou outras coisas que, segundo ele, possam ser úteis para o braço militar do Hamas.
Funcionários humanitários da ONU e um funcionário da União Europeia, ouvidos pelo The New York Times, disseram que as exigências de Israel para inspecionar os caminhões de perto tornaram as entregas maiores difíceis ou impossíveis.
Em restrição adicional, Israel informou a ONU que tinha capacidade e mão-de-obra para inspecionar no máximo 40 caminhões por dia, disse um dos responsáveis humanitários da ONU, que não estava autorizado a falar publicamente sobre a situação.
Tensão militar
Sem acordo político ou solução humanitária, as articulações militares correm em uma velocidade mais apressada. Autoridades israelenses voltaram a fazer menção a esperada invasão terrestre de Gaza, e enviaram tanques e equipamentos de infantaria para o norte do enclave, em uma missão controlada para "preparar o terreno" para a próxima fase do conflito, segundo as Forças Armadas de Israel.
Os militares também afirmaram que a campanha de bombardeios eliminou outro chefe das Brigadas al-Qassam, Shadi Barud, vice-chefe da diretoria de inteligência do Hamas e um dos idealizadores do atentado terrorista de 7 de outubro. De acordo com o Hamas, 50 reféns capturados em Israel morreram desde o começo dos bombardeios a Gaza.
Em uma articulação no campo palestino, que responde a ofensiva militar isralenese com disparos de foguete no norte e no sul do país, uma delegação do Hamas visitou Moscou, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores russo. Um dia antes, autoridades do Hamas, Jihad Islâmica e Hezbollah se encontraram, de acordo com o grupo libanês,
Em paralelo, Estados Árabes impuseram uma nova frente de pressão ao Estado judeu. Uma declaração conjunta assinada por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Jordânia e outros afirma que o direito de autodefesa de Israel não pode justificar violações do direito internacional, incluindo o que chamaram de "punição coletiva" à população civil.
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