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Conheça a 'sala de guerra' de Israel onde especialistas em tecnologia se unem na busca de reféns

Voluntários compartilham seus conhecimentos de inteligência artificial e plataformas inovadoras para ajudar na identificação dos desaparecidos após o ataque do Hamas

Agência O Globo - 26/10/2023
Conheça a 'sala de guerra' de Israel onde especialistas em tecnologia se unem na busca de reféns

Parece qualquer startup de tecnologia em Tel Aviv, com funcionários em roupas modernas reunidos em torno de computadores e tomando café expresso. No entanto, eles são os voluntários de uma espécie de “sala de guerra” montada para ajudar Israel a trazer os reféns do grupo terrorista Hamas para casa.

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Homens armados do grupo capturaram mais de 220 pessoas – incluindo israelenses, estrangeiros e civis com dupla nacionalidade – quando invadiram a fronteira da Faixa de Gaza com Israel em 7 de outubro. Segundo autoridades israelenses, a ação do grupo terrorista matou mais de 1,4 mil pessoas.

Em poucos dias, enquanto Israel lançava ataques de represália que, segundo o Ministério de Saúde na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, já mataram mais de 7 mil pessoas, voluntários do setor tecnológico israelense uniram-se para ajudar na crise dos reféns.

– Somos uma sala civil de guerra. Nosso principal objetivo é salvar vidas – disse Refael Franco, de 48 anos, presidente-executivo da Code Blue, empresa de gerenciamento de crises cibernéticas que lidera o esforço no grupo de comunicações Gitam BBDO. Ao seu redor, havia mapas digitais detalhados de Gaza, pontilhados com marcadores codificados por cores e ligados a informações específicas sobre os cativos.

Durante anos, o setor tecnológico de Israel emergiu como um pilar que sustenta a economia do país. Agora, voluntários do setor começaram a reunir-se nos escritórios do grupo Gitam, onde uniram os seus conhecimentos com inteligência artificial e plataformas inovadoras para ajudar na identificação dos desaparecidos na sequência dos ataques.

Inteligência artificial ajuda

Neste centro de resposta improvisado, os voluntários passaram dias combinando o dilúvio de postagens nas redes sociais em inúmeras plataformas para coletar informações sobre os cativos.

Depois de criar um banco de dados com imagens das redes sociais, juntamente com fotos fornecidas pelas famílias dos desaparecidos e sequestrados, a equipe alimenta as evidências em um software de inteligência artificial especializado em reconhecimento facial.

Com a ajuda de especialistas em geolocalização, programadores e fluentes em árabe, a equipe rapidamente reuniu uma imagem emergente de quem foi sequestrado, quando foi visto pela última vez e onde.

A informação é então compartilhada com a unidade especial militar israelense que supervisiona a crise dos reféns, com cerca de 60 prisioneiros identificados com sucesso pela equipa até à data.

Mobilização nacional

A reação da comunidade tecnológica à crise dos reféns representa apenas um microcosmo da mobilização abrangente que ocorre em Israel, com jovens e idosos apoiando as famílias afetadas, soldados e uma série de outros esforços de resposta após os ataques.

No meio do trauma desencadeado pelo massacre do Hamas, a crise dos reféns continua a ser uma ferida aberta, alimentando a ansiedade e a incerteza durante o que os líderes israelenses dizem que será uma longa guerra com o grupo militante.

– As pessoas aqui deixaram seus empregos. Há CEOs, CTOs e fundadores de empresas que deixaram tudo de lado e vieram aqui para ajudar – disse Ido Brosh, um programador voluntário de 24 anos da Gitam com experiência em assuntos militares. – É horrível que este evento nos tenha tornado tão unidos, mas essa é também a beleza deste país.

Mas mesmo que a comunidade tecnológica reúna os seus recursos para ajudar na resposta aos reféns, a agonia para as famílias dos mantidos em cativeiro continua a ser insuportável.

Sobrevivente do Holocausto, Tsili Wenkert, de 82 anos, diz que o sequestro de seu neto, Omer Weknert, trouxe uma “torrente interminável de dor”. O jovem estava no festival de música no sul de Israel e que foi atacado pelo Hamas.

– O que passei no passado é pequeno. Agora estou vivendo um pesadelo – disse ela à AFP. – É muito difícil para uma avó da minha idade saber que seu neto é um prisioneiro.

O jovem de 22 anos foi visto pela última vez em imagens postadas em um canal Telegram ligado ao Hamas, mostrando-o despido, apenas de cueca, e amarrado na traseira de um caminhão cheio de militantes armados, comemorando quando retornavam a Gaza.

'Traga ela de volta'

Até esta quinta-feira, apenas quatro reféns foram libertados, em parte graças às negociações paralelas envolvendo o Egito e o Qatar. Yocheved Lifshitz, 85 anos, estava entre os libertados. Ela disse ter sido conduzida por uma “teia de aranha” de túneis sob Gaza, onde foi mantida com outros prisioneiros.

A presença dos reféns provavelmente complicará a tão esperada ofensiva terrestre do Exército israelense, após semanas de ataques aéreos na sitiada Faixa de Gaza.

Para Omri Marcus, diretor criativo da Gitam, o projeto de identificação e salvamento de reféns é pessoal. Ele apontou para o papel de parede de seu laptop – uma foto da prima de seu melhor amigo, que está entre os sequestrados. A foto, disse ele, serve como um lembrete constante da missão que tem em mãos.

– Precisamos trazê-la de volta – disse ele.