Internacional

Erdogan sugere ao Parlamento da Turquia que ratifique adesão da Suécia à Otan

Presidente turco envia pedido após 17 meses de bloqueio por conta do abrigo de dissidentes curdos no país nórdico; se aprovado, faltará apenas o sim da Hungria, hoje aliada da Rússia, para suecos entrarem na aliança ocidental

Agência O Globo - 23/10/2023
Erdogan sugere ao Parlamento da Turquia que ratifique adesão da Suécia à Otan
Erdogan - Foto: Reprodução

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apresentou ao Parlamento, nesta segunda-feira, o pedido de adesão da Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), após 17 meses de impasse. A informação foi divulgada por Ancara, em uma rede social.

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"O protocolo de adesão da Suécia à Otan foi assinado em 23 de outubro de 2023 pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan e enviado à Grande Assembleia Nacional da Turquia", escreveu a presidência na rede social X (antigo Twitter).

Historicamente neutra, a Suécia passou a avaliar a possibilidade de se tornar membro da organização em maio do ano passado, poucos meses após a invasão russa à Ucrânia, em fevereiro. Contudo, a adesão requer aprovação de todos os integrantes da aliança — algo que a Turquia não estava disposta a conceder tão facilmente.

Parte da hesitação turca partia da percepção de que os suecos não agiam suficientemente para conter grupos considerados terroristas por Ancara com militantes curdos exilados no país nórdico, especialmente do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Os curdos são a minoria étnica de maior peso na Turquia e defendem mais autonomia. Além disso, com o poder de veto nas mãos, a Turquia pôde negociar concessões com o ocidente: em julho, Erdogan disse que o apoio à entrada da Suécia na aliança só ocorreria se a União Europeia (UE) retomasse negociações de adesão com Ancara.

A Suécia chegou a aceitar algumas condições, implementando uma lei que transforma em crime a filiação de indivíduos vivendo no país em grupos considerados terroristas por Estocolmo e, mais importante, de concordar com a extradição de cidadãos turcos acusados de crimes em seu país — algo anteriormente vetado pela Justiça do país.

O sinal verde veio em julho deste ano, embora Erdogan já tivesse indicado dias depois que a ratificação ocorreria somente em outubro, quando o Congresso retornasse do seu recesso. Nesse meio tempo, manifestações anti-Alcorão em cidades suecas irritaram Ancara e quase comprometeram a entrada do país ao bloco.

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Com a aprovação da Turquia, a Suécia agora aguarda apenas o sinal verde da Hungria. O primeiro-ministro Viktor Orbán é próximo da Rússia, que vê na adesão dos países nórdicos uma ameaça à sua segurança, com o Mar Báltico sendo "dominado" pela Otan. O líder direitista disse em setembro que o país não tinha pressa para ratificar a adesão sueca à aliança, como informou a Reuters. Ainda assim, segundo a agência, o ministro das Relações Exteriories da Hungria, Peter Szijjarto, havia sugerido em julho que a aprovação do país seria concomitante à turca.

Se aprovada pelos dois Parlamentos, a Suécia será o 32º país a fazer parte do bloco militar liderado pelos Estados Unidos e criado no fim da Segunda Guerra Mundial para conter o avanço da influência soviética em direção ao Ocidente. A adesão representa o ápice de uma virada histórica, mas também uma derrota estratégica para a Rússia, que classifica a expansão da aliança como um "ataque à segurança" do país — a aproximação de Kiev da Otan foi uma das justificativas de Moscou para invadir o país vizinho.