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Trajetória imprevisível, mais de mil por hora: como são os mísseis hipersônicos que Putin enviou para 'monitorar' EUA e Israel

Kremlin ordenou 'controle visual' das movimentações no Mediterrâneo após Washington enviar porta-aviões para a região em meio à guerra no Oriente Médio

Agência O Globo - 20/10/2023
Trajetória imprevisível, mais de mil por hora: como são os mísseis hipersônicos que Putin enviou para 'monitorar' EUA e Israel
Vladimir Putin - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, determinou que caças armados com mísseis hipersônicos patrulhem e monitorem "o que está acontecendo" no Mar Mediterrâneo. A medida é uma resposta ao envio, pelos Estados Unidos, de dois porta-aviões para Israel com o objetivo declarado de "dissuadir ações hostis" contra o Estado judeu, numa referência implícita à possível interferência do Irã, aliado de Moscou, no conflito entre israelenses e extremistas do Hamas.

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Com a ordem de Putin, caças supersônicos MiG-31K passarão a circular pelo Mar Negro, que fica a 1,3 mil km da costa de Israel, e vão carregar o míssil hipersônico Kinjal, com alcance estimado em 1,5 mil km e capaz de atingir alvos na superfície marítima.

As armas foram apresentadas por Moscou em 2018. Classificados pelo governo de Putin como "invencíveis", mísseis hipersônicos foram empregados pela primeira vez por forças russas na invasão da Ucrânia. Em Pequim, Putin criticou Washington por enviar as embarcações "em meio ao conflito".

— Isso não é uma ameaça. Baseadas nas minhas instruções, as Forças Aeroespaciais Russas irão começar patrulhas de forma permanente na zona de espaço aéreo neutro sobre o mar Negro, e os MiG-31 estarão armados com sistemas Kinjal — disse ele, ao ser questionado sobre o objetivo da ordem de patrulhamento. — Eu enfatizo que isso não é uma ameaça, mas vamos exercer controle visual, controle com armas sobre o que está acontecendo no Mar Mediterrâneo.

Como são os mísseis hipersônicos

Os mísseis hipersônicos recebem esse nome por conseguirem atingir velocidades até mais de cinco vezes superiores a velocidade do som. Ao atingir 1.200 km/h, um objeto em alta velocidade produz uma onda de som, denominada estrondo sônico. Essa é a velocidade do som, chamada de Mach 1. Ao se atingir pelo menos cinco vezes esse valor, Mach 5, se está diante de um objeto que se locomove em velocidade hipersônica.

Os modelos desenvolvidos pelos russos atingem altas altitudes e, por serem mais manobráveis que mísseis convencionais, são de interceptação mais difícil. Putin chegou a comparar o avanço científico e tecnológico desses armamentos com a criação do Sputnik, primeiro satélite a orbitar a Terra, criado pelos soviéticos em 1957. Ele descreve os novos armamentos como de alcance 'ilimitado'.

Os mísseis hipersônicos Kinjal ("punhal" em russo) permitiram a destruição de um depósito subterrâneo de armas no oeste da Ucrânia. Equipados em aviões de guerra MiG-31, esse tipo de míssil consegue burlar os sistemas de defesa antiaérea, segundo Moscou. Durante os testes, eles atingiram todos os seus alvos a uma distância de até 1.000 a 2.000 km.

Mas os mísseis Kinjal não são o único modelo hipersônico disponível no arsenal russo. Outro com a mesma tecnologia é o míssil balístico intercontinental Sarmat. Pesando mais de 200 toneladas, é mais eficiente que seu antecessor — o míssil Voevoda com alcance de 11.000 km — e "praticamente não tem limites em termos de alcance", segundo Putin, que garante que é até adequado para "pontar em alvos que atravessam o polo norte e o polo sul".

Outro modelo de míssil hipersônico é o Zircon. Em novembro de 2021, em um teste realizado no Ártico, o míssil teria atingido um alvo naval a mais de 400 quilômetros, segundo informações do Ministério de Defesa russo. Armas que voam a velocidades superiores à acima da velocidade do som não são novidade. A diferença apresentada por esses novos modelos de mísseis hipersônicos é que eles não seguem, necessariamente, uma trajetória previsível. Mísseis convencionais tendem a viajar em uma trajetória parabólica. Os novos modelos, por sua vez, por poderem ter seu curso alterado, conseguem desviar de defesas antiaéreas.

Propulsão nuclear, experiência em guerra: os navios dos EUA

No fim de semana, os Estados Unidos enviaram um segundo grupo de ataque de porta-aviões para o leste do Mediterrâneo para "dissuadir ações hostis contra Israel ou qualquer esforço direcionado a ampliar a guerra após os ataques do Hamas", disse o secretário de Defesa, Lloyd Austin.

O porta-aviões USS Eisenhower se juntou aos equipamentos militares já deslocados para a região após os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro. O site do comando naval americano destaca que a embarcação de propulsão nuclear "oferece uma ampla gama de capacidades flexíveis de missão, incluindo operações de segurança marítima, projeção de poder expedicionário, presença naval avançada, resposta a crises, controle marítimo, dissuasão, contraterrorismo, operações de informação e cooperação de segurança".

O navio é alocado em missões das Forças Armadas americanas desde os anos 1970. Foi deslocado para a atuação militar durante a Guerra do Golfo, nos anos 1990, e mais recentemente nas guerras no Afeganistão e no Iraque. A embarcação chega a até 56 km/h, tem capacidade para levar 90 aeronaves e dispõe de dois lançadores de mísseis RIM-7 Sea Sparrow, dois lançadores de mísseis de fuselagem rolante RIM-116 e ao menos três canhões Phalanx CIWS 20 mm.

O envio do porta-aviões indica por parte de Washington "o compromisso inabalável com a segurança de Israel e nossa resolução de dissuadir qualquer ator estatal ou não estatal que busque escalar essa guerra", disse Austin em um comunicado.

Os EUA já haviam enviado para Israel o maior navio de guerra do mundo, o USS Gerald R. Ford, com intuito de realizar "operações marítimas e aéreas, a fim de assegurar aliados e parceiros em toda a região e garantir a estabilidade". Segundo comunicado do Ministério da Defesa dos Estados Unidos, o grupo de militares na embarcação "está preparado para toda a gama de missões".

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Além das embarcações, o Departamento de Defesa afirma que "também está trabalhando com a indústria dos EUA para acelerar o envio de equipamento militar que os israelenses já tinham encomendado". O país vai aumentar o apoio a Israel, incluindo "capacidades de defesa aérea e munições", segundo o governo.

Com 333 metros de comprimento e 41 metros de largura, o navio USS Gerald R. Ford, da Marinha dos Estados Unidos, tem capacidade de abrigar 4,5 mil pessoas, além de 90 aviões e helicópteros.

Recentemente, a embarcação foi colocada sob comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para participar em manobras no mar da Noruega. O veículo chegou às águas de Oslo, capital norueguesa, em 24 de maio com objetivo de realizar “atividades de segurança marítima”, além de treinos no mar do país. De acordo com a Otan, a ação era programada. As atividades que tiveram participação do navio ocorreram ao longo de uma semana e tiveram a Noruega como anfitriã.

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Ao todo, o Grupo de Ataque Gerald R. Ford é composto por seu carro-chefe e homônimo, o porta-aviões USS Gerald R. Ford (CVN 78), um agrupamento de esquadrões aéreos chamado de Carrie Air Wing Eight (CVW 8), o Esquadrão de Contratorpedeiros Dois (DESRON 2), o cruzador de mísseis guiados Ticonderoga USS Normandy (CG 60) e o contratorpedeiro classe Arleigh Burke USS Ramage.

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“Essa transferência de autoridade constitui uma exibição tangível e transparente de capacidades avançadas em operações de todos os domínios e o compromisso defensivo da Aliança da Otan na Área de Responsabilidade do Alto Comando Conjunto na Europa (SACEUR)”, disse o comunicado da organização na época do empréstimo à Noruega.

A última vez que a Otan havia assumido o comando de um grupo de ataque de porta-aviões dos EUA foi em março de 2023, com o porta-aviões norte-americano USS George H.W. Bush no Mediterrâneo e a participação no exercício Neptune Strike.