Internacional

Visita de Biden a Israel é celebrada diante de temores de restrições de ação dos EUA

Presidente americano deu apoio total a Netanyahu na guerra contra o Hamas, mas não significa endosso a todas as decisões tomadas pelo país

Agência O Globo - 20/10/2023
Visita de Biden a Israel é celebrada diante de temores de restrições de ação dos EUA
Joe Biden - Foto: Reuters/Kevin Lamarque/Direitos Reservados Fonte: Agência Brasil

A visita do presidente dos EUA, Joe Biden, a Israel durante a guerra para reiterar apoio total ao governo local foram fortemente elogiadas pela população israelense nesta quinta-feira (19), mas o nível de influência do líder americano no conflito gera preocupação. O enfraquecimento do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu diante dos ataques, que já levaram à morte de mais de 1,4 mil israelenses desde o último dia 7, abriu brecha para Biden influenciar a forma como Israel deve agir durante a guerra contra o grupo terrorista Hamas.

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Biden abraçou Israel, mas também alertou para que não exagerasse no conflito na região a seu favor — e, implicitamente, aos Estados Unidos. Ele chegou a comparecer a um gabinete de guerra para ser informado sobre os planos de Israel, como fez antes dele o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Esse nível de consulta é raro — se não inédito —, mesmo em uma relação tão próxima como a de Israel e Estados Unidos, na avaliação de analistas israelenses. Opera como uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que traz benefícios para Netanyahu, há riscos inerentes. Esse movimento pode dar a ele cobertura política para estender a guerra, mas pode limitar a sua postura em campo. Por outro lado, caso Israel seja culpado por ter avançado demais no conflito, os EUA podem ser vistos como colaboradores.

"O falecido Ariel Sharon já dizia: 'Nós iremos nos dever por nós mesmos'", afirmou o analista Nadav Eyal, em artigo publicado no jornal Yedioth Ahronoth. "Esses não são os valores que Netanyahu vinha projetando nesses últimos dias. Ele parece ansiar se tornar o 51º presidente dos EUA. Isso vem com um preço, tanto simbólico quanto prático", escreveu.

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A avaliação do analista foi endossada por Nahum Barnea, um dos mais respeitados comentaristas de Israel, que destaca a posição clara de Biden no conflito em artigo ao Yedioth: o presidente afirmou que não vai abandonar o Estado judeu, mas não vai permitir que faça o que bem entender.

"Israel não compartilha seus planos militares com os Estados Unidos. Aviso prévio, sim; consideração, sim; pedir permissão, não", afirma Barnea. "Netanyahu, ao contrário, incluiu os americanos no processo de tomada de decisão no gabinete de segurança e no gabinete de emergência. Isso quer dizer que Biden vai ser responsabilizado por qualquer coisa que Israel fizer em Gaza", disse.

Da esquerda à direita

As críticas ao papel ativo dos EUA na condução da guerra, no entanto, partem da esquerda à direita. Conferencista da Escola de Política Pública e do Departamento de Comunicação da Universidade Hebraica de Jerusalém e apoiadora de longa data de Netanyahu, Gadi Taub defende que Biden limitou a habilidade de Israel para lutar a guerra até uma conclusão necessária.

"Biden bloqueou qualquer caminho para uma inequívoca vitória de Israel, algo que deixará claro aos nossos inimigos que somos fracos e dependentes de outros. Apesar da promessa de solidariedade e ajuda, ele deu uma contribuição importante para alterar o equilíbrio do poder na região a nosso favor", afirmou, em uma publicação no X, ex-Twitter.

Elinat Wilf, ex-integrante esquerdista do Parlamento Israelense, destaca que, com a perda de poder de Netanyahu, o país vive um vácuo de poder e precisa de apoio e liderança. "Não tem governo. Os Estados Unidos entenderam isso logo e estão agindo em sintonia".