Internacional
Israel x Hamas: chanceler de Lula volta a procurar Egito para pedir abertura de fronteira
Explosão em hospital de Gaza aumenta preocupação com brasileiros que estão na região
A demora da abertura da fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza e o agravamento da situação no território palestino que está sob o cerco de Israel levou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a procurar novamente o chanceler egípciom Sameh Shoukry. Foi a segunda conversa entre os dois em menos de uma semana.
— Reiterei a ele nosso pedido para que brasileiros que estão no sul de Gaza possam passar para o Egito logo que o posto de Rafah seja reaberto — disse Vieira ao GLOBO.
Ele disse ter informado ao chanceler, no telefonema, que o Brasil vai doar medicamentos e purificadores de água para a região, quando for reaberta a fronteira. Os produtos chegarão na mesma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) que buscará os brasileiros no Egito. Segundo Vieira, a abertura de corredores humanitários é uma prioridade.
— Transmiti nosso interesse e empenho em dar resposta à crise humanitária na região, com a abertura de corredores humanitários no prazo mais rápido possível — afirmou.
Vieira e Schoukry se conhecem há mais de uma década. Ambos chefiaram as embaixadas de seus respectivos países em Washignton.
O clima entre os diplomatas envolvidos, diretamente ou indiretamente, na repatrição dos brasileiros que estão em Gaza, aguardando a abertura da fronteira, é de apreensão. O temor sobre o que pode acontecer com os cidadãos nacionais cresceu após a explosão de um hospital em Gaza, nesta terça-feira, que deixou mais de 500 mortos.
Não está claro de quem foi a autoria do ataque. O governo de Israel acusa o grupo extremista Hamas — que no último dia 7 atacou Israel de surpresa com bombas, foguetes e assassinatos e sequestros de civis. Os palestinos afirmam que a responsabilidade é dos israelenses.
Interlocutores do governo brasileiro procurados pelo GLOBO evitam falar sobre essa guerra de versões. Argumentam que a situação é delicada e complexa e que o foco, agora, é repatriar os cidadãos nacionais que esperam ser retirados o quanto antes.
— Nossos diplomatas e servidores têm bons canais de diálogo e grande sensibilidade para dar resposta às demandas das nossas comunidades no exterior, e esse fator tem sido fundamental, mais uma vez, em uma situação de emergência. Nessas horas críticas, fica ainda mais clara, para a sociedade brasileira, a importância de termos uma rede de embaixadas e consulados à altura da importância do Brasil, com presença em todo o mundo e com funcionários preparados e motivados — disse Mauro Vieira.
O chanceler brasileiro tem conversado várias vezes ao dia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive presencialmente. Mauro Vieira também trabalha em articulação com governos de outros países, como os da União Europeia e os Estados Unidos.
Até o momento, 916 brasileiros deixaram Israel em aeronaves da FAB. Outros cerca de 30 nacionais aguardam a abertura da fronteira entre Gaza e o Egito, em Rafah, para que possam embarcar para o Brasil no aeroporto do Cairo.
— O Itamaraty tem um excelente histórico de relacionamento com o Ministério da Defesa e isso é fundamental na resposta rápida a emergências humanitárias como a da atual operação de repatriação em Israel e em Gaza — disse.
O Brasil preside, neste mês, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU). O órgão deve se reunir na quarta-feira, em Nova York, em busca de um acordo.
Na segunda-feira passada, havia dois textos em discussão. Um deles era do Brasil — que, segundo interlocutores — condenava o Hamas, chamava de terroristas os ataques contra Israel, pedia a libertação imediata dos reféns e fazia um apelo para que os israelenses suspendessem a ordem de retirada de pessoas da região. O outro, da Rússia, não mencionava o Hamas.
Os representantes dos países que compõem o Conselho de Segurança rejeitaram a proposta russa. Restou a brasileira que, na visão de diplomatas, tem mais chances de ser aprovada.
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