Internacional
A dias da eleição na Argentina, guerra em Israel une Milei, Massa e Bullrich contra Hamas
Conforme se aproximam as eleições presidenciais, legislativas e algumas provinciais na Argentina, o tema eleitoral ganha mais espaço na agenda dos argentinos. Ainda que a guerra em Israel cause preocupações, especialmente com os argentinos que continuam em área de conflito e os que foram sequestrados, as notícias envolvendo os escândalos dentro do peronismo e os últimos acontecimentos eleitorais são os temas que ocupam maior espaço.
A Argentina tem a maior comunidade judaica da América Latina e houve manifestações de solidariedade a Israel em Buenos Aires. Entre os três principais candidatos presidenciais, o tema não é um dos que causam polarização, tendo os três condenado os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro. No último debate presidencial, de 8 de outubro, cada um tirou alguns segundos para dedicar palavras de solidariedade a Israel.
"Em primeiro lugar, minha solidariedade para Israel, que está em seu pleno direito de defender seu território de terroristas", afirmou o libertário Javier Milei logo nas suas primeiras falas. O candidato é um dos mais levanta a bandeira de Israel na campanha presidencial.
"Minha solidariedade ao povo de Israel neste momento triste do ataque terrorista do Hamas", foram as palavras da oposicionista Patricia Bullrich. Já o peronista Sergio Massa, depois de ter feito uma manifestação mais tímida de solidariedade às vítimas, prometeu que, se eleito, vai "incluir o Hamas na lista de organizações terroristas da Argentina".
Argentinos reféns
Nos jornais, a preocupação é com a repatriação dos nacionais argentinos em Israel e principalmente com os relatos de argentinos sequestrados pelo Hamas. O governo lançou o programa "Retorno Seguro" para repatriar os mais de 1.300 argentinos que vivem em Israel. No último domingo, 15, chegaram os primeiros dois voos com mais de 240 deles a bordo.
Mas com o alto número que ainda ficou, a Argentina solicitou ajuda ao Brasil para trazê-los. Os argentinos, bem como nacionais de Chile e Paraguai que solicitaram ajuda devem entrar numa lista de espera, já que os brasileiros são prioridade para repatriação pelo governo.
Segundo o presidente Alberto Fernández, há cerca de 16 argentinos levados pelo Hamas para dentro da Faixa de Gaza. Ele se reuniu virtualmente com famílias dos sequestrados. "Estamos trabalhando com a inteligência israelense. Estamos em contato com as autoridades palestinas na Cisjordânia que nos dizem que não têm quaisquer laços com elo Hamas ou qualquer forma de identificar as vítimas, e não temos qualquer contato em a Faixa de Gaza, qualquer representação diplomática", afirmou o mandatário.
"Não há margem para dúvidas para o Governo argentino. É inadmissível, imperdoável, indescritível que tenha ocorrido um acontecimento como o que ocorreu. A única coisa que fazemos é condenar esta atitude que este grupo terrorista tem tido. O que aconteceu não pode ser tolerado, permitindo a morte, a privação de liberdade e o desaparecimento, mesmo que momentâneo, de pessoas", concluiu.
Economia e escândalos como foco
O motivo pelo qual Israel não ocupa tanto espaço nessas eleições é porque a economia já tem a prioridade, tanto para os eleitores quanto para as campanhas. Os mais recentes dados colocaram a inflação internanual perto dos 140%, sendo que o mês de setembro foi o segundo a registrar taxa de dois dígitos.
Além disso, o valor do dólar paralelo disparou, ultrapassando a barreira dos 1.000 pesos pela primeira vez. Tudo isso somado ao última dado de pobreza no país, que mostrou como mais de 40% dos argentinos sofrem para ter o mínimo para comer e vestir.
Desta forma, o descontrole econômico é o grande tema desta eleição, muito acima de preocupações com segurança e política externa. Toda essa disparada da moeda, bem como limitações à saída de dólares do país, tem provocado uma escassez de alimentos, remédios e outros produtos importados que cada vez mais se sente no dia a dia.
"A verdade é que as pessoas estão com outras preocupações para se colocarem no meio de uma agenda internacional", afirma Facundo Galván, professor de ciência política da Universidade de Buenos Aires.
Em meio a este cenário, as campanhas saíram em brigas judiciais pela culpa do descontrole. Apesar de ser ele o ministro da Economia, Massa atribuiu a culpa à Milei por inflamar os mercados com suas declarações. Alberto Fernández decidiu ir aos tribunais contra o libertário pelas falas de que o peso era "excremento". E Milei também recorreu à Justiça para acusar o governo de propagar notícias falsas sobre suas promessas de campanha.
Outro tema que tem ganhado as manchetes argentinas são os escândalos envolvendo dois peronistas que podem abalar os votos de Massa. Primeiro, o kirchnerista e ex-chefe de Gabinete de Buenos Aires, Martín Insaurralde, que foi pego ostentando em um iate na Espanha. Segundo, o Julio "Chocolate" Rigau, um influente político do Partido Justicialista (PJ) que foi pego sacando dinheiro de ao menos 48 cartões de débito pertencentes a funcionários da Assembleia Legislativa de Buenos Aires.
As repercussões e possíveis prisões nesses casos ganham maior destaque, não só na imprensa argentina, mas também entre os eleitores que conversam nas ruas sobre "o caso Insaurralde" e como os escândalos caem mal ao governo.
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