Internacional

Esquerda, direita, centro: veja o mapa político da América do Sul após a eleição no Equador

A vitória de um empresário da elite equatoriana no pleito de domingo não não alterou profundamente o mapa de forças políticas da região, que conta agora com oito presidentes de esquerda, um de direita, dois de centro e uma ditadura

Agência O Globo - 16/10/2023
Esquerda, direita, centro: veja o mapa político da América do Sul após a eleição no Equador

O Equador elegeu presidente Daniel Noboa, filho de um dos homens mais ricos do país, em uma eleição marcada pelo medo da violência do narcotráfico, após o assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio, durante um comício em agosto. No pleito de domingo, Noboa conquistou 52% dos votos. Aos 35 anos, o empresário se tornou a principal aposta para derrotar a corrente de esquerda do ex-presidente Rafael Correa, representada pela candidata Luisa González, que venceu o primeiro turno e terminou em segundo lugar com 48% .

Ao vivo: veja a cobertura completa do conflito entre Israel e Hamas

Entenda: Assassinado no Equador, Villavicencio era de direita ou esquerda?

Noboa será o mais jovem chefe de Estado da História do Equador, um país de 16,9 milhões de habitantes mergulhado na violência. Nos últimos anos, o Equador se transformou num centro de operação de cartéis do tráfico de drogas, com tentáculos internacionais que impõem um regime de terror que soma milhares de mortes. Cerca de 100 mil militares e policiais foram mobilizados em todo o país para garantir a segurança durante a votação.

O vencedor governará o Equador por quase 17 meses, até o final do que seria o mandato do presidente de direita Guillermo Lasso, que dissolveu o Congresso em uma manobra inédita chamada "morte cruzada", prevista na Constituição, e convocou eleições antecipadas para evitar um impeachment. Ele estava sendo acusado de corrupção pelo Congresso.

Forças Armadas do Equador entram em prisão e rendem suspeito de mandar matar o candidato presidencial Fernando Villavicencio

Com esse resultado, o mapa de forças políticas da América do Sul segue como a mesma divisão ideológica. Das 12 nações sul-americanas, 8 são governadas por líderes que se identificam com a esquerda, depois que o ex-guerrilheiro Gustavo Petro foi eleito na Colômbia e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um terceiro no Brasil, no ano passado.

Confira os posicionamentos dos atuais governos sul-americanos:

Argentina — Alberto Fernández, esquerda

O país vai às urnas no próximo domingo para o primeiro turno de uma eleição em que a direita pode tomar o poder. O atual presidente, Alberto Fernández, é um advogado e professor argentino, filiado ao Partido Justicialista, também conhecido como Partido Peronista, fundado pelo líder histórico Juan Domingo Perón. O mandatário, que enfrentou uma deterioração da crise econômica no país, decidiu não concorrer à reeleição. O candidato peronista é o atual ministro da Economia, Sergio Massa, que enfrenta o principal candidato de oposição, o ultradireitista Javier Milei, que ficou na frente nas prévias eleitorais em agosto.

Bolívia — Luis Arce, esquerda

Eleito presidente da Bolívia nas eleições gerais do país em 2020, Luis Arce é economista, contador e professor. Foi Ministro da Economia de seu antecessor, Evo Morales, duas vezes. Arce participa do partido Movimento ao Socialismo (MAS), que tem origem na organização política dos cocaleros, camponeses-indígenas bolivianos.

Brasil — Lula, esquerda

Presidente do Brasil entre 2003 e 2011, Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um terceiro mandato pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2022, disputada com o direitista Jair Bolsonaro, então no poder.

Chile — Gabriel Boric, esquerda

Gabriel Boric foi eleito presidente do Chile no final de 2021 com apenas 35 anos, tornando-se a pessoa mais jovem da História do país a ocupar o cargo. O ex-líder estudantil representou em sua eleição a coalizão "Aprovo Dignidade", que reuniu a Frente Ampla e o Partido Comunista do Chile. Sua posição como líder político começou a crescer desde 2011, quando comandou protestos estudantis por educação gratuita.

Colômbia — Gustavo Petro, esquerda

Gustavo Petro foi eleito o primeiro presidente de esquerda da História da Colômbia em junho do ano passado, com uma meta de campanha de alcançar a “paz total” com os grupos armados. Ex-guerrilheiro, foi vereador, prefeito de Bogotá e senador. Sua campanha também foi pioneira ao eleger Francia Márquez, a primeira mulher e pessoa negra no cargo de vice-presidente do país.

Equador — Daniel Noboa, centro-direita

Muito ativo nas redes sociais, o jovem político teve uma ascensão meteórica. Filho do magnata das bananas Álvaro Noboa — que tem uma fortuna estimada em US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) — é formado em Administração de Empresas pela Stern School of Business, da Universidade de Nova York. Apesar de se autodenominar de centro-esquerda, o empresário notabilizou-se pela defesa do liberalismo econômico, colocando-o à direita da candidata do correísmo e mais perto do direitista Luis Arce, o que levou analistas equatorianos a posicioná-lo na centro-direita. Sua proposta de campanha mais comentada foi a criação de navios-prisões para isolar os presos de suas redes criminosas. Na economia, ele prometeu incentivos de crédito para pequenas e médias empresas.

Guiana — Irfaan Ali, esquerda

Irfaan Ali atua desde 2020 como o décimo presidente da Guiana depois da independência conquistada em 1966. A sua eleição foi marcada por uma crise eleitoral, quando a recontagem dos votos foi pedida, demorando mais de cinco meses para que os resultados se tornassem públicos e Irfaan fosse empossado.

Paraguai — Santiago Peña, centro-direita

Pai aos 17 anos e defensor da chamada "família tradicional", Santiago Penã foi eleito o novo presidente do Paraguai no domingo pelo conservador Partido Colorado, no poder há mais de 70 anos (com o único intervalo do governo de Fernando Lugo, eleito em 2008 e destituído em 2012).

Peru — Dina Boluarte, esquerda

Dina Boluarte, de 60 anos, tornou-se a primeira mulher a assumir a Presidência do Peru depois que Pedro Castillo, um professor e líder sindical, tentou fechar o Congresso, mas acabou destituído e preso no início de dezembro, acusado de tentativa de golpe de Estado após sofrer seu terceiro pedido de impeachment em um ano e quatro meses de governo. Desde então, Boluarte tem enfrentado uma onda de protestos contra seu governo.

Suriname — Chan Santokhi, esquerda

Santokhi foi eleito o nono presidente do Suriname em 2020 pelo Partido da Reforma Progressista, que representa a comunidade indiana que vive no país. Ele ocupa a cadeira após 10 anos consecutivos do governo de Dési Bouterse, que comandou o país durante o regime militar entre 1980 e 1987 e voltou ao poder em 2010, eleito.

Uruguai — Luis Lacalle Pou, direita

O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, foi eleito em 2019 pelo Partido Nacional, que é reconhecido pelos posicionamentos alinhados à direita e à centro-direita. Pou afirma ser um liberal e diz que quer favorecer os empresários face à "pressão fiscal", além dos planos de privatizar empresas públicas, como a de telecomunicações, Antel.

Venezuela — Nicolás Maduro, esquerda (ditadura)

Nicolás Maduro é o atual presidente da República Bolivariana da Venezuela, estando no cargo desde 2013. Em 2012, como vice-presidente de Hugo Chávez, assumiu interinamente a Presidência em razão da enfermidade do presidente eleito. Chávez faleceu em 2013 e, após novas eleições, Maduro foi eleito o 57º presidente da Venezuela. Em 2018, foi reeleito em um processo eleitoral controverso e não reconhecido pela oposição e pela comunidade internacional.