Internacional
Oposição comemora vitória nas eleições da Polônia após boca de urna apontar derrota de governo de extrema direita
Apesar do partido governista aparecer como a legenda que recebeu o maior número de votos, coalização opositora pode superar quantidade de assentos e formar maioria no Parlamento
As forças centristas e progressistas na Polônia parecem capazes de formar um novo governo depois de garantir mais assentos nas eleições deste domingo, apesar de o partido de extrema direita do governo, Lei e Justiça, ter obtido o maior número de votos em uma única legenda. Segundo as pesquisas de boca de urna, o principal grupo opositor, a Coalizão Cívica, obteve o segundo lugar na votação, conquistando resultados melhores do que o esperado. Caso o levantamento se confirme, a reviravolta frustraria a esperança do partido governista de obter um inédito terceiro mandato consecutivo.
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Donald Tusk, líder da Coalizão Cívica, declarou os resultados projetados como uma retumbante "vitória para a democracia" que acabaria com o governo da Lei e Justiça, conhecido por sua sigla polonesa PiS, no poder desde 2015.
— Nós conseguimos! Nós realmente conseguimos! — Tusk, ex-primeiro-ministro, disse a seus apoiadores na noite de domingo. — Este é o fim deste período ruim! Este é o fim do governo do PiS!
A eleição para um novo Parlamento, realizada após uma campanha violenta no país altamente polarizado, foi acompanhada de perto no exterior, inclusive na Rússia e na Ucrânia, e vista por muitos poloneses como a votação mais importante desde que rejeitaram o comunismo na primeira eleição parcialmente livre do país em 1989. Refletindo os altos riscos, quase 73% do eleitorado votou, o maior comparecimento em uma eleição polonesa desde o fim do regime comunista.
Tanto o partido governista Lei e Justiça quanto a Coalizão Cívica consideraram a eleição como um momento decisivo sobre o futuro da Polônia como um Estado democrático estável.
Se as previsões iniciais estiverem corretas quando os resultados oficiais finais forem anunciados, provavelmente na terça-feira, a Coalizão Cívica e seus possíveis parceiros conquistaram 248 assentos no Legislativo de 460 membros, em comparação com os 200 conquistados pelo Lei e Justiça.
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Jaroslaw Kaczynski, presidente do partido do governo e líder de fato da Polônia nos últimos oito anos, também reivindicou a vitória, declarando a votação "um grande sucesso para nossa formação, nosso projeto para a Polônia". Mas ele reconheceu que seu partido teria problemas para formar um governo se as pesquisas de boca de urna estiverem corretas.
O Konfederacja, um grupo de direita radical que compartilha muitas das visões nacionalistas do Lei e Justiça, obteve apenas 6,2% dos votos, o que lhe deu 12 assentos.
As pesquisas de boca de urna divulgadas pelos três principais canais de televisão da Polônia indicaram que o Lei e Justiça obteve o maior número de votos no geral, 36,8%, em comparação com 31,6% para a Coalizão Cívica. Dois partidos menores, Terceira Via, uma aliança de centristas, e A Esquerda, atingiram o limite necessário para entrar na Câmara Baixa do Parlamento, a Sejm (equivale à Câmara de Deputados no Brasil), a mais poderosa.
Os assentos no Sejm são distribuídos de acordo com um complicado sistema proporcional que torna difícil determinar com precisão o futuro equilíbrio de poder até que todos os votos tenham sido contados e os dos partidos menores que não atingiram o limite (5% para partidos e 8% para coalizões) sejam redistribuídos entre os primeiros colocados.
Przemyslaw Adynowski, um advogado de Varsóvia, disse que votou na Coalizão Cívica no que ele descreveu como "provavelmente a eleição mais importante dos últimos 30 anos". Uma vitória do Lei e Justiça, acrescentou, completaria a "fase de transição da democracia para um sistema autoritário" da Polônia e a colocaria em desacordo com seus aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e na União Europeia (UE), com exceção da Hungria, uma nação muito menor e com pouca influência.
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Piotr Buras, chefe do escritório de Varsóvia do Conselho Europeu de Relações Exteriores, declarou que a eleição foi "um triunfo da democracia e do liberalismo" que "abre caminho para uma reorientação maciça da política interna e europeia da Polônia".
O resultado foi particularmente surpreendente, uma vez que o Lei e Justiça teve uma grande vantagem graças ao seu controle rígido do sistema de transmissão pública da Polônia, uma rede nacional de estações de televisão e rádio que deveria ser neutra, mas que serviu principalmente como um megafone de propaganda para o partido no poder.
O campo de jogo foi ainda mais inclinado a favor do partido do governo pela realização de um referendo junto com a eleição parlamentar. Os eleitores foram solicitados a responder a quatro perguntas sobre imigração e outras questões que tinham a clara intenção de colocar a União Europeia e, por associação, a oposição, em maus lençóis.
Uma delas perguntava: "Você apoia a admissão de milhares de imigrantes ilegais do Oriente Médio e da África, de acordo com o mecanismo de realocação forçada imposto pela burocracia europeia?"
O referendo causou um curto-circuito nas restrições de financiamento de campanha, permitindo que o Lei e Justiça empregasse fundos estatais para promover informações supostamente neutras sobre perguntas fortemente inclinadas a seu favor. No entanto, muitos eleitores se recusaram a responder às perguntas do referendo, considerando o exercício como uma manobra do partido do governo.
Kaczysnki, presidente do partido, alertou que votar em seus oponentes, liderados por Tusk, ex-presidente do Conselho Europeu, o principal centro de poder da UE, significaria subordinar os interesses nacionais da Polônia aos de Berlim e Bruxelas e o fim da Polônia como um país democrático independente.
— Eles pretendem eliminar a democracia e qualquer vestígio do estado de direito na Polônia — disse Kaczysnki este mês em uma convenção do partido.
O campo de Tusk, por sua vez, apresentou Kaczynski como uma ameaça mortal à democracia liberal e à permanência da Polônia como membro da UE, com a qual o governo Lei e Justiça, que está de saída, entrou em conflito repetidamente sobre o Estado de direito, a proteção dos direitos das minorias e outras questões.
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