Internacional

Daniel Noboa, filho de um dos homens mais ricos do Equador, é eleito presidente

Pleito foi marcado pela violência com o assassinato do candidato Fernando Villavicencio durante a campanha; derrota da candidata do ex-presidente Rafael Correa é revés para esquerda da região

Agência O Globo - 16/10/2023
Daniel Noboa, filho de um dos homens mais ricos do Equador, é eleito presidente
Daniel Noboa

Com mais de 87% das urnas apuradas, o Equador elegeu neste domingo Daniel Noboa, filho de um dos homens mais ricos do país, como presidente com 52,2% dos votos. Aos 35 anos, o empresário foi a principal aposta para derrotar o correísmo representado pela candidata Luisa González, 45, que ficou em segundo lugar com 47,7%. Noboa será o mais jovem chefe de Estado da História, mas terá como desafio lidar com o aumento da violência — que marcou o pleito após o assassinato do presidenciável Fernando Villavicencio por narcotraficantes durante um comício em agosto.

Buzinas de carros nas ruas acompanharam o fim das votações às 17h (19h no horário de Brasília) para escolher entre Luisa González, aliada do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), e Daniel Noboa, filho do presidenciável Álvaro Noboa — que concorreu cinco vezes ao cargo, a última contra o ex-presidente Correa, em 2006.

Os candidatos votaram usando coletes à prova de balas, acompanhados por guardas armados e clamaram pelo fim da violência no país de 16,9 milhões de habitantes. Nos últimos anos, o Equador se transformou num centro de operação de cartéis do tráfico de drogas, com tentáculos internacionais que impõem um regime de terror que soma milhares de mortes. Cerca de 100 mil militares e policiais foram mobilizados em todo o país para garantir a segurança durante a votação.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) informou que a participação foi de aproximadamente 82,33% dos 13,4 milhões de equatorianos convocados para votação obrigatória. Durante a tarde, surgiram denúncias de fraude após a circulação nas redes sociais de imagens de uma pessoa preenchendo cédulas a favor de Noboa em um centro de votação.

Diana Atamaint, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), anunciou a abertura de uma investigação "imediata" sobre essa suposta irregularidade, que foi repercutida por Rafael Correa na rede social X, antigo Twitter.

— Vou votar com medo. O que mais me preocupa é o tema da insegurança e da delinquência — disse à AFP Freddy Escobar, um cantor de 49 anos que votou em Quito.

Presidência fugaz

O vencedor governará o Equador por quase 17 meses, até o final do mandato do presidente de direita Guillermo Lasso, que dissolveu o Congresso em uma manobra inédita chamada "morte cruzada", prevista na Constituição, e convocou eleições antecipadas para evitar um impeachment. Ele estava sendo acusado de corrupção pelo Congresso.

Especialistas consideram que o novo mandato será uma espécie de pré-campanha para as eleições de quatro anos em 2025.

— Hoje nós vencemos! — disse Noboa com o punho erguido após votar em Olón, cidade onde mora, no sudoeste do Equador.

González também havia se mostrado confiante em Canuto, também no sudoeste, onde votou:

— O desejo é de que o Equador triunfe, ou seja, que a Revolução Cidadã vença — disse, referindo-se ao partido do correísmo.

Violência política

A campanha foi marcada pela violência política. Oito candidatos foram mortos, incluindo Fernando Villavicencio, um dos favoritos, que foi baleado ao sair de um comício em uma escola em Quito poucos dias antes da votação do primeiro turno, em 20 de agosto. Depois, sete dos presos envolvidos em seu assassinato foram mortos dentro dos presídios.

O assassinato do candidato Fernando Villavicencio, dias antes do último debate presidencial, mudou completamente o cenário no primeiro turno, mas também ajudou a alavancar a candidatura de Noboa. No debate, ele acabou de sobressaindo: sem ser atacado pelos demais candidatos, já que aparecia bem atrás nas pesquisas, conseguiu apresentar de forma clara suas propostas, principalmente no setor de empregos e na área de segurança, mostrando-se como uma opção fora da tradicional polarização que tem marcado as últimas eleições no país.

Assim como González, Noboa se comprometeu a combater o crime e os cartéis de drogas. Entre 2018 e 2022, os homicídios quadruplicaram e atingiram 26 por cada 100 mil habitantes. Este ano, especialistas calculam que esse número subirá para 40.

Gangues ligadas a cartéis mexicanos e colombianos lutam pelo negócio das drogas e usam prisões como escritórios logísticos, onde ocorreram massacres cruéis. Desde 2021, mais de 460 detentos morreram nesses confrontos.

Pobreza e desemprego

No Equador, 27% da população vive abaixo da linha da pobreza em um país dolarizado, enquanto a soma de desemprego e subemprego está em 26%.

— As pessoas mais velhas não recebem mais oportunidades de emprego — disse a desempregada Eufemia Idrobo, de 51 anos, sem revelar seu voto.

Tatuada, esportista e ativista dos direitos dos animais, González propunha um Estado mais solidário após os governos de direita que sucederam Correa, condenado a oito anos de prisão por corrupção. Embora tenha reafirmado sua independência, seu mandato simbolizava para muitos o retorno do ex-presidente, que vive exilado na Bélgica desde 2017.

No primeiro turno, González obteve 34% dos votos e Noboa, 23%, mas várias pesquisas mostraram um aumento nas intenções de voto para o filho do magnata do setor bananeiro. Noboa aspirava realizar o sonho frustrado de seu pai.

Reservado e pouco sorridente, o jovem candidato chegou ao segundo turno sendo praticamente um desconhecido na política. Muito ativo nas redes sociais, Noboa propõe dinamizar a economia, oferecendo facilidades de crédito para pequenas e médias empresas.

Sua proposta mais comentada foi a criação de navios-prisões para isolar os presos de suas redes criminosas. No entanto, sem maioria absoluta no Congresso, qualquer um dos candidatos enfrentará dificuldades para concretizar suas reformas.