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Governo de Israel é acusado de 'abandonar os reféns e desaparecidos'; Netanyahu irá se encontrar com familiares neste domigo

Até este domingo, eles não sabem o local para onde os reféns foram levados e não há um canal oficial de comunicação para negociações

Agência O Globo - 15/10/2023
Governo de Israel é acusado de 'abandonar os reféns e desaparecidos'; Netanyahu irá se encontrar com familiares neste domigo

As famílias dos israelenses sequestrados pelo Hamas se sentem cada vez mais indignadas com o rapto dos seus familiares e com a falta de informações. Até este domingo, eles não sabem o local para onde os reféns foram levados e não há um canal oficial de comunicação para negociações.

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Após críticas dos familiares, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se reunirá neste domingo com representantes das famílias dos reféns e pessoas desaparecidas, em uma base das Forças de Defesa no centro de Israel.

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As famílias estão desesperadas e imploram por ajuda de “qualquer pessoa, organização ou país” para ter seus parentes de volta:

— Eles são civis inocentes. Eles têm direitos. Deve-se exercer pressão sobre a Turquia e o Egito, para que a Cruz Vermelha possa visitá-los — disse Yfrat Zailer, durante uma coletiva de imprensa neste sábado. Ela é tia de Kfir (9 meses) e Ariel (4 anos), crianças sequestradas em 7 de outubro com a mãe Shiri.

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Além da incerteza do local onde os seus parentes estão, os familiares dos reféns convivem com a dúvida de sequer saber se eles estão vivos. Israel promete uma incursão em Gaza e os familiares apelam ao governo israelense que os reféns precisam ser trazido de volta vivos. Eles sabem que as chances disso acontecer logo após a ofensiva é mínima.

— Temos que trazê-los vivos para casa. Eles foram sequestrados vivos — reiterou Zailer diante das câmeras.

De acordo com o Exército de Israel, uma semana após o ataque do grupo islâmico, 126 pessoas, entre civis e militares, entre eles também estrangeiros, foram levadas para o território palestino. E não há informações se eles estão vivos ou mortos. Esse número, que não é definitivo, era de 150, incluindo nesta lista crianças e recém-nascidos, foi revisto para baixo depois de terem sido encontrados corpos no sul de Israel, segundo as autoridades.

O porta-voz do exército israelense, Richard Hecht, afirmou que o número de 126 reféns tinha sido "confirmado" e que os soldados tinham encontrado os corpos de alguns deles durante as incursões no enclave palestiniano. O exército não deu mais informações. Ainda de acordo com Hecht, 286 soldados israelenses foram mortos em operações lançadas desde a ofensiva do Hamas em 7 de outubro.

O exército israelense informou neste sábado que encontrou diversos cadáveres durante uma incursão em território palestino. De momento, Israel não mencionou nenhum canal de negociação e limitou-se a nomear uma “referência” para as famílias, Gal Hirsch, um general reformado envolvido caso de corrupção, cuja nomeação foi criticada por vários especialistas.

— Não negociamos com um inimigo que prometemos erradicar da superfície da terra — declarou no sábado o conselheiro de segurança nacional do governo israelense, Tzachi Hanegbi.

O exército israelense, em resposta ao ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro, bombardeia massivamente a Faixa de Gaza, um pequeno e empobrecido enclave sob o controle da organização palestiniana. Estes bombardeios causaram mais de 2.300 mortes, a maioria delas civis e, destas, pelo menos 700 crianças.

O Hamas, que governa o pequeno território de mais de dois milhões de habitantes desde 2007, afirmou que 22 reféns tinham sido mortos nos bombardeios de Israel, sendo cinco israelenses e quatro estrangeiros apenas nas últimas 24 horas. O movimento ameaçou matar os reféns se Israel continuar a bombardear alvos civis sem aviso prévio.

Abandono

Para Ronen Tzur, um comunicador que foi escolhido como porta-voz das famílias, “isto significa pura e simplesmente que o governo israelense escolheu como estratégia abandonar os reféns e os desaparecidos”.

Parentes e amigos dos sequestrados se reuniram neste sábado no Fórum de Famílias de Reféns e Pessoas Desaparecidas, uma organização criada para pressionar o governo de Israel e a comunidade internacional para obter a sua libertação.

Nas instalações da organização, no centro de Tel Aviv, o seu criador, um empresário que prefere não revelar o seu nome, faz todo o tipo de coisas, desde telefonar a “um conselheiro do Vaticano” até encomendar pizzas para voluntários.

— No sábado passado, quando entendi o que estava acontecendo (com os reféns), pensei que, pela primeira vez, não lutaria esta guerra uniformizado, mas sim abrindo minha agenda de contatos — explica este homem de 50 anos, também oficial da reserva. O fórum está em contato com organizações internacionais como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

— Formamos esta equipe com cerca de vinte ex-diplomatas, mas atrás de nós existem círculos que reúnem todos os países do planeta. Estamos aqui para contribuir com a nossa experiência, as nossas ideias, os nossos contatos ao serviço deste magnífico projeto da sociedade civil para apoiar as famílias —disse à AFP o ex-diplomata israelense e embaixador na França, Daniel Shek.