Internacional

General aposentado veste uniforme, pega armas e lidera jovens contra terroristas em Israel: 'Governo paralisado'

Número de vítimas de incursão do Hamas chega a 1.200, a maioria delas civis desarmados; caso aponta para decadência de agências militares e da inteligência do país

Agência O Globo - 12/10/2023
General aposentado veste uniforme, pega armas e lidera jovens contra terroristas em Israel: 'Governo paralisado'

Israel Ziv, um general aposentado do Exército israelense, estava passeando de bicicleta na manhã de sábado quando uma enxurrada de ligações começou a chegar. Foguetes foram disparados de Gaza. Homens armados do Hamas, o grupo armado palestino que controla o território, atravessaram a fronteira. Logo ele descobriria que o filho de um amigo estava preso em um kibutz, uma comunidade isralense. Ele correu para casa, vestiu o uniforme e pegou sua arma, uma pistola 9 mm.

Ao aproximar-se da fronteira de Gaza, colunas de fumo negro ergueram-se à sua frente, e o Exército israelense, pelo menos no início, não estava em lado nenhum. Os atacantes do Hamas corriam pela paisagem, curvados sob o peso de metralhadoras pesadas e lançadores de granadas propelidos por foguetes, atirando nele.

— Eles estavam por toda parte — disse ele. — Centenas deles.

iv disse que, à medida que ele e colegas se aproximavam de Gaza no dia do ataque, havia incêndios por toda parte, e homens armados do Hamas disparavam contra edifícios e carros que passavam. A princípio, disse ele, não viu nenhum soldado israelense. Mas à medida que avançavam em direção às aldeias sitiadas, encontraram pequenos bandos de soldados israelenses que tentavam reagir, mas claramente em menor número.

— As coisas não estavam organizadas — disse Ziv.

Ele se uniu a um pelotão de jovens soldados e começaram a atacar homens armados do Hamas na estrada, disse Ziv. Foi difícil enfrentá-los apenas com uma pistola, relembra o general aposentado, mas depois que um soldado em seu carro foi ferido, Ziv pegou sua M16 e começou a atirar pela janela.

A pior sensação, porém, era saber que, embora fossem alguns dos primeiros a responder, já era tarde demais. Os corpos estavam espalhados na estrada, ao longo dos caminhos das comunidades, nos trechos de floresta sombreada por onde passavam.

Ziv disse que passou quase 24 horas seguidas correndo pelas aldeias sob ataque, disparando sua própria arma, organizando evacuações de civis e coordenando-se com os militares para enviar unidades de apoio o mais rápido possível.

Decadência do Exército

Ziv, atarracado, de cabelo espetado, um pouco irascível e antigo chefe da direção de operações das Forças de Defesa de Israel, é uma figura bem conhecida no país, especialmente agora. As suas ações durante o fim de semana – entrar precipitadamente na zona de batalha armado apenas com uma pistola, organizar um grupo confuso de soldados numa unidade de combate e supervisionar as evacuações – foram amplamente divulgadas nos canais de notícias locais.

No processo, ele se tornou um avatar do espírito "faça você mesmo" de Israel — e do fracasso das suas agências militares e de inteligência. O governo israelense disse que o número de vítimas da incursão do Hamas atingiu 1.200, a maioria delas civis desarmados.

No meio da angústia causada pela matança, as frustrações públicas já começam a ferver, com muitos israelenses, entre eles Ziv, contestando o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

— O governo está totalmente paralisado — disse Ziv, que, mesmo antes desta crise, era extremamente crítico de Netanyahu pelo que dizia serem políticas que dividiam amargamente os israelenses e colocavam em risco a segurança do país.

No entanto, Ziv ainda é bem-vindo nos corredores do poder de Israel. Na quarta-feira, ele realizou diversas teleconferências com capitães da indústria sobre a arrecadação de dezenas de milhões de dólares para ajudar as vítimas e suas famílias.

— Só para civis — gritou ele ao telefone. — Nada disso para o exército.

Ele falou com os altos escalões das forças armadas e da polícia sobre uma força de defesa civil que estava claramente sobrecarregada. Ele até entrou no Ministério da Defesa de Israel, onde se encontrou com o ministro da Defesa, Yoav Gallant, e manteve reuniões secretas com autoridades de segurança nacional. Eles deixaram seus celulares no chão do corredor antes de entrarem em um pequeno escritório para uma conversa que, esperava-se, não pudesse ser rastreado.

A fé pública nas forças armadas do país está tão enfraquecida que uma das maiores questões de que os israelenses falam é sobre se armar. Muitos já possuem armas, mas o governo anunciou esta semana que estava comprando 10 mil rifles de assalto para civis, juntamente com coletes à prova de balas. Ziv está liderando um esforço para capacitar generais reformados e antigos soldados para reconstruir esquadrões de defesa comunitários na área fronteiriça de Gaza e em todo o país.

— Precisamos de armas — implorou um homem a Ziv enquanto visitava o local do massacre na quarta-feira. — E precisamos de um sistema.

Ziv colocou a mão nas costas do homem e disse: — Estamos montando esse sistema agora mesmo.