Internacional
Trator, bomba em bunker e tiros à queima roupa: entenda como o Hamas realizou o pior ataque a Israel em 50 anos
Civis foram baleados em seus carros ou a pé, em festival de música ou enquanto esperavam o ônibus; socorristas e soldados refazem passos do último sábado
Pouco depois do amanhecer de sábado, centenas de homens armados do Hamas romperam as barricadas entre Gaza e Israel correram pela área rural na zona fronteiriça, e chegaram atirando em um festival que havia começado na noite anterior. Mais de cem pessoas, a maioria jovens, foram mortas.
— Fumaça, chamas e tiros — disse Andrey Peairie, sobrevivente de 35 anos. — Tenho formação militar, mas nunca estive numa situação como esta.
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Dias após o ataque surpresa do Hamas, que matou mais de 1.200 israelenses e deixou milhares de feridos, as provas que emergem dos locais mostram um lastro de crueldade e morte, e refazem o caminho dos terroristas ao atacarem civis israelenses em todos os lugares comuns de uma manhã de sábado: em um festival de música ao ar livre, em kibutzs, em suas próprias casas, ou nas ruas e estradas do sul do país.
Festival Universo Paralello
Os terroristas invadiram o festival — que acontecia no deserto de Negev, perto de Re-im, a cerca de cinco quilômetros da fronteira de Gaza —, sequestraram um número desconhecido de pessoas no evento e mataram a tiros vários outros. Pelo menos dois brasileiros que participavam da rave, Bruna Valeanu e Ranani Glazer, ambos de 24 anos, foram assassinados.
Um vídeo mostra uma pessoa — no chão perto de um carro, mas em movimento — sendo baleada por um homem com um rifle, e depois sendo levada, já imóvel. Outro vídeo verificado pelo New York Times mostra membros do Hamas dirigindo uma moto com uma mulher israelense espremida entre eles, gritando enquanto seu namorado é levado a pé, com o braço torcido nas costas.
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Algumas pessoas conseguiram se abrigar em um bunker, mas o local acabou sendo atingido por uma bomba. Ranani Glazer chegou a gravar um vídeo diretamente do local, antes de morrer: "Foi cena de filme", disse em imagens postadas em suas redes sociais.
Ele precisou correr quilômetros para achar um lugar seguro para se esconder. "No meio da rave a gente parou num bunker, começou uma guerra em Israel, pelo menos a gente está num bunker agora, seguro", disse antes de o local ser atingido pela bomba.
A namorada de Ranani, Rafaela Treistman, conseguiu sair, e a polícia pediu que ela fosse para o hospital, onde os feridos estavam sendo atendidos. Outra brasileira, Karla Stelzer Mendes, de 41 anos, estava no festival com o namorado e está até agora desaparecida.
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"Pelos áudios dela a gente ouve os tiros. Graças a Deus os tiros estavam longe dela, mas ela viu os terroristas correndo e dá para sentir o desespero dela e o desespero de todas as pessoas que estavam lá", afirmou Patrícia Hallak, amiga de Karla, em um vídeo publicado no Instagram.
Kibutz Be'eri
Autoridades e trabalhadores de emergência encontraram mais de 100 pessoas mortas, incluindo crianças, no Kibutz Be'eri. O ataque ao local começou por volta das 6h de sábado, quando câmeras de segurança no portão do kibutz mostram dois homens armados tentando entrar. Quando um carro para na estrada, os dois homens disparam contra eles e entram no abrigo.
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Por volta das 7h, pelo menos oito homens armados já estavam dentro do local. Cerca de duas horas depois, os terroristas do Hamas podem ser vistos em um vídeo retirando três corpos do carro emboscado. Outro vídeo mostra vários israelenses sendo capturados — mais tarde, são aparentemente mortos na rua.
Equipes de emergência removeram os corpos de mais de 100 pessoas mortas no kibutz, disse Moti Bukjin, segundo o porta-voz da organização de ajuda humanitária Zaka.
— Foi um trabalho horrível, havia crianças foram mortas lá — disse, acrescentando que também havia dezenas de homens armados mortos na cidade. — Ainda não examinamos todas as casas.
A aldeia de Kfar Azza
Quatro dias após o ataque à aldeia de de Kfar Azza, do outro lado de alguns campos da fronteira com Gaza, os soldados israelenses foram de casa em casa, procurando armadilhas e retirando os mortos. Jornalistas do The New York Times que viajaram para a aldeia também viram corpos abandonados pelas vias e nos gramados, em casas e outros locais.
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Soldados e equipes de resgate disseram que dezenas — ou mesmo centenas — de pessoas foram mortas:
— Não é uma guerra ou um campo de batalha; é um massacre — disse o major-general Itai Veruv, comandante israelense no local. — É algo que nunca vi na minha vida, mais parecido com um pogrom da época dos nossos avós.
A cidade de Sderot
O ataque a Sderot, uma cidade a cerca de 1,5 km de Gaza, começou na manhã de sábado, quando pelo menos dois tratores cheios de homens armados, com uma grande metralhadora acoplada, chegou à cidade. Civis foram baleados em seus carros ou a pé, sob um viaduto e enquanto esperavam o ônibus. Sete civis foram encontrados mortos em um ponto de ônibus. No total, pelo menos 20 civis mortos, bem como cerca cerca de dez soldados, bombeiros e policiais.
Vídeos filmados por moradores de Sderot mostraram terrorista armados atirando contra civis, trocando tiros com a polícia nas ruas e assumindo o controle da delegacia.
“Todo mundo morreu”, pode-se ouvir um homem dizendo em um deles.
Detalhes ainda estão sendo divulgados em muitas comunidades localizadas ao redor da Faixa de Gaza, e as autoridades ainda contabilizam o número de vítimas. Mas vídeos, fotos e sobreviventes mostraram muitos ataques em toda a região.
Um vídeo de 30 minutos publicado no Facebook e cuja localização foi verificada pelo New York Times mostra homens armados atravessando a cerca da fronteira e dirigindo-se à comunidade de Nir Oz, no sul. O vídeo segue o grupo até o que parece ser um kibutz. Seguem-se sons de gritos altos e tiros. Depois, já no interior de uma sala, pelo menos seis corpos ensanguentados jazem no chão. Um atirador abre fogo contra os corpos e o vídeo é interrompido.
Quando o Exército israelense reuniu todos os sobreviventes do kibtuz — que tinha cerca de 350 a 400 pessoas quando o ataque começou — em uma escola, uma moradora, Irit Lahav, e a sua filha de 22 anos, Lotus Lahav, notaram que muitos estavam desaparecidos.
— Percebemos que são apenas metade das pessoas aqui — disse Lotus.
Arie Itzik, enfermeira aposentada, voltou a Nir Oz no domingo para ajudar com os corpos. Ele disse na terça-feira que alguns estavam completamente queimados.
— Não consegui reconhecer algumas pessoas.
Em Nahal Oz, Noam Tibon, um general reformado que viajou para ajudar o filho, disse ter encontrado as ruas repletas de corpos, de palestinos e israelenses. Em Alumim, fotos exibiam vários sacos para cadáveres alinhados do lado de fora de um prédio.
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