Internacional

Conheça mulheres vítimas do regime dos aiatolás no Irã

Mahsa Amini, Nika Shakarami e Armita Geravand são algumas das jovens vítimas da violência da polícia moral iraniana

Agência O Globo - 06/10/2023
Conheça mulheres vítimas do regime dos aiatolás no Irã

A premiação da ativista iraniana Narges Mohammadi com o Nobel da Paz, nesta sexta-feira, colocou em evidência a luta pelos direitos humanos e das mulheres no fechado regime teocrático, controlado pelos aiatolás e com pouco espaço para a liberdade feminina. Apenas Narges, de acordo com a presidente do Comitê Norueguês da premiação, foi presa 13 vezes e condenada 5 vezes a penas que somam 31 anos de prisão e 154 chicotadas por sua atividade política.

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O próprio comitê do Nobel afirmou, em nota, que a premiação à jornalista "reconhece as centenas de milhares de pessoas que se manifestaram contra as políticas de discriminação e opressão do regime teocrático contra as mulheres". Em nota, a família da ativista destacou que o prêmio marca "um momento histórico para a luta do Irã pela liberdade".

O registro de violações de direitos humanos no Irã é longo e tem como vítimas recorrentes as mulheres. Apenas do ano passado para cá, alguns casos emblemáticos mancharam com sangue a história do país secular. Conheça alguns desses casos.

Mahsa Amini

Mahsa Amini, de 22 anos, visitava Teerã com a família, em setembro do ano passado, quando foi detida pela polícia moral do Irã por supostamente não utilizar o hijab - véu que cobre os cabelos das mulheres, segundo a tradição islâmica - de forma adequada. De família religiosa, Mahsa usava a vestimenta, mas aparentemente deixou alguns fios de cabelo à mostra, o que foi suficiente para chamar a atenção dos fiscais do comportamento. Levada para uma delegacia de polícia, supostamente para ser submetida a uma "aula de reeducação", a jovem foi transferida para um hospital em coma, e morreu três dias depois. A família afirmou que ela teria sido agredida até a morte pelos policiais. As autoridades negaram e disseram que ela tinha problemas de saúde anteriores.

A morte de Mahsa provocou os maiores protestos contra o governo iraniano em anos, com protestos violentos e enfrentamento entre manifestantes e autoridades policiais espalhados por todo o país. Em resposta, o regime coordenou uma repressão implacável, com centenas de mortos. Os números são imprecisos, mas ONGs internacionais estimam mais de 500 vítimas um ano após os protestos. Mais escassos, os dados oficiais das autoridades iranianas apontam por volta de 200 mortos, incluindo integrantes das forças de segurança.

Teerã denunciou os protestos após a morte de Mahsa como um movimento patrocinado pelo Ocidente para derrubar o regime dos aiatolás. Alguns dos manifestantes presos durante os atos, considerados de terrorismo pelo governo, foram condenados à morte na forca.

Nika Shakarami

Nika Shakarami, de 16 anos, desapareceu no dia 20 de setembro do ano passado, em Teerã, enquanto a capital do país registrava fortes protestos pela morte de Mahsa Amini. De acordo com publicações que fez na rede social antes de sumir do mapa, Nika queimou seu hijab em um ato antigoverno, e entoou com os outros manifestantes músicas de contestação. O último contato que ela teve com alguém foi com uma amiga, em uma ligação, em que disse estar sendo perseguida por policiais. Dias depois, ela foi encontrada morta com várias escoriações.

Autoridades iranianas tentaram culpar trabalhadores de uma obra pela morte da adolescente, afirmando que ela teria entrado em um prédio durante a noite, e que homens teriam a atirado de um andar alto — o que explicaria as múltiplas fraturas na pélvis, costelas, braços e pernas.

A família questionou a versão oficial das autoridades, com a mãe de Nika declarando que os ferimentos que constatou no corpo da filha eram muito diferentes dos descritos publicamente pelos funcionários do governo. O certificado de óbito verificado pela rede britânica BBC, na época dos fatos, indicava que a morte foi provocada por traumas causados por um “objeto duro”.

Posteriormente, membros da família da adolescente foram a público confirmar a versão das autoridades, de que a menina teria sido jogada de um prédio. A mãe de Nika, contudo, contestou as declarações, e disse que as pessoas foram forçadas a respaldar o relato oficial.

Armita Geravand

Armita GEravand, também de 16 anos, ficou gravemente ferida após ser agredida por homens da polícia da moral iraniana em uma estação de metrô de Teerã. O caso foi notificado pela ONG Hengaw, com sede na Noruega, que informou que a adolescente entrou em coma em razão das agressões e está internada no hospital Fajr, sob altas medidas de segurança. Alemanha e Estados Unidos expressaram preocupação com o caso, que teria acontecido “apenas porque seu cabelo era visto no metrô”, segundo a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.

Assim como nos outros casos, as autoridades iranianas negaram qualquer o envolvimento das forças de segurança do país ou qualquer tratamento violento. O diretor-geral do metrô de Teerã, Massod Dorosti, negou que a adolescente tenha tido qualquer “desentendimento verbal ou físico” com “passageiros ou funcionários do metrô”, enquanto a agência estatal Irna noticiou que Armita teria perdido a consciência “após uma queda no metrô”.

Apesar da versão oficial isentar agentes do Estado de qualquer possível comportamento inadequado, uma jornalista de um jornal iraniano foi brevemente detida ao se dirigir ao hospital e tentar noticiar o caso, enquanto a mãe da adolescente, Shahin Ahmadi, foi presa pelas forças de segurança perto do hospital e levada a um local desconhecido.