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'Meu coração parou', disse filho de Nobel da Paz ao saber da premiação: veja repercussão global

ONU e Anistia Internacional pedem libertação da ativista iraniana, que cumpre pena na emblemática prisão de Evin, em Teerã

Agência O Globo - 06/10/2023
'Meu coração parou', disse filho de Nobel da Paz ao saber da premiação: veja repercussão global

A família da vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2023, Narges Mohammadi, recebeu com emoção a notícia da premiação. Em Paris, onde vivem no exílio, os filhos gêmeos de 16 anos, Ali e Kiana, e o marido dela, Taghi Rahmani, passaram o dia rodeados de jornalistas e dando entrevistas por telefone.

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— Meu coração parou. Eu não pude gritar na aula, mas estava tão feliz — disse Ali ao New York Times.

O adolescente estava na escola, verificando o celular a todo momento, à espera da divulgação do prêmio. A noticia veio às 11h da manhã no horário de Paris [6h da manhã em Brasília].

— Estou muito, muito orgulhoso da minha mãe — comemorou Ali, que não fala com a mãe há um ano e não a vê desde 2015.

Mohammadi cumpre uma longa pena na notória prisão de Evin, em Teerã, onde costumam ser encarcerados os presos por se oporem ao regime.

— Este Prêmio Nobel encoraja a luta de Narges pelos direitos humanos, mas mais importante, este é na verdade um prêmio para a mulher, vida e liberdade [movimento pelos direitos das mulheres no Irã] — disse à Reuters o marido da ativista.

Em uma mensagem enviada pela família de Mohammadi à CNN, antes do anúncio do prêmio, para ser divulgada caso fosse escolhida, a ativista afirma que não deixará o Irã e continuará a lutar por “democracia, liberdade e igualdade”. A família não sabe se ela foi informada do prêmio. Segundo os parentes, a prisão de Evin não recebe telefonemas para prisioneiros às sextas-feiras.

'Libertação imediata e incondicional'

O prêmio à Mohammadi também provocou reações de autoridades e ativistas, ao redor do mundo. Com a premiação, o Comitê Nobel norueguês lançou luz na "sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos", disse a presidente do comitê, Berit Reiss-Andersen, que também defendeu a libertação de Mohammadi.

— Se as autoridades iranianas tomarem a decisão certa, eles irão libertá-la para que possa estar presente para receber a honraria [em dezembro, em Oslo] — declarou.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos também fez coro pela libertação da ativista, assim como a Anistia Internacional, que pediu liberdade "imediata e incondicional". "O caso de Narges Mohammadi é emblemático sobre os enormes riscos que assumem as mulheres para defender os direitos humanos de todos os iranianos. Pedimos sua liberação e a de todos os defensores dos direitos humanos presos no Irã", informou o Alto Comissariado da ONU .

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que o prêmio representa “um tributo a todas as mulheres que lutam por seus direitos, arriscando sua liberdade, saúde e, inclusive, suas vidas”. Em nota, Guterres lembrou que “os direitos de mulheres e meninas enfrentam uma forte resistência, inclusive através da perseguição a defensoras de direitos humanos, no Irã e em outros lugares”.

Em uma publicação no X [antigo Twitter], a chanceler alemã, Annalena Baerbock, disse que a premiação demonstra o papel crucial das mulheres na luta por liberdade.

O presidente da França, Emmanuel Macron, também se manifestou sobre o prêmio a Mohammadi, “uma forte escolha por uma lutadora pela liberdade que toda vez enfrentou a realidade, a realidade, a crueldade deste regime, incluindo sofrer muitos anos na prisão e sentenças terríveis”. O presidente francês também parabenizou a família da ativista, lembrando que alguns vivem no país.

A iraniana Shirin Ebadi, que também recebeu o Nobel da Paz, em 2003, disse nesta sexta que o reconhecimento a Mohammadi mostra que o mundo está atento às mulheres do Irã e a sua coragem.

—Espero que [o prêmio] ajude Narges e outros prisioneiros políticos a serem libertados da prisão e traga liberdade e democracia para todos os iranianos — afirmou Ebadi, completando que — o mundo deve ficar de olho no Irã.

Aliado do regime iraniano, o governo russo não quis comentar o assunto. O governo do Irã ainda não se manifestou. (Com New York Times e AFP)