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Ucranianos fogem de 'cidade fantasma' que a Rússia tenta retomar

Cruz Vermelha ajuda na retirada de moradores da região de Kupiansk, que esteve sob ocupação russa no ano passado, e é alvo de bombardeiros constantes

Agência O Globo - 06/10/2023
Ucranianos fogem de 'cidade fantasma' que a Rússia tenta retomar

A cidade de Boguslavka, no leste da Ucrânia, já foi um lugar tranquilo, onde era possível apreciar a natureza, com gansos nadando nos lagos e vacas pastando nos campos. A guerra transformou a paisagem que Sergiy, de 71 anos, deixou para trás, ao fechar a porta de casa e entrar no veículo que leva moradores que querem sair do alvo de bombardeiros russos. Ele vinha se recusando a abandonar a propriedade, o cachorro e a criação de galinhas, que agora um vizinho vai alimentar.

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A área, perto da fronteira russa, tornou-se muito perigosa para os civis por causa do avanço das tropas inimigas para recuperar a cidade vizinha de Kupiansk, a menos de 10 km da linha de batalha. A pequena cidade histórica da região de Kharkiv tem uma colina estratégica que os russos querem recapturar. Embora tenham feito progressos, a Ucrânia afirma que a situação está sob controle. Os moradores, no entanto, que viveram sob ocupação russa durante mais da metade do ano passado, continuam cercados por ruínas.

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Em resposta aos ataques com mísseis aéreos guiados, as autoridades ucranianas ordenaram a retirada obrigatória de moradores de partes de Kupiansk e cidades vizinhas. Mas não estão forçando as pessoas a sair. Mas muitos ainda resistem. A Cruz Vermelha leva os que desejam partir para Kharkiv, que também é frequentemente bombardeada pela Rússia.

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'Bastante medo'

Sergiy vai encontrar a mulher em Kharkiv e visitar o neto de 18 anos, que entrou recentemente na Universidade. Ele se emociona ou falar da propriedade que deixou para trás.

— Quero tanto voltar para casa — diz o ucraniano, com lágrimas nos olhos.

Ao chegar a Kupiansk, no caminho, ele se juntou a duas mulheres que também decidiram deixar a área e esperam no ônibus da Cruz Vermelha. Tatiana, de 72 anos, conta que não aguenta mais a artilharia e o medo.

— Me assusto tanto, estou tremendo — desabafa.

A outra moradora é Liudmila, de 60 anos. Ela parece alegre em partir para os arredores de Kiev. Ela fugiu de Kupiansk durante a ocupação e depois voltou. Agora, diz que sente “bastante medo”.

— Sempre digo que devem ir embora — aconselha Klim, comandante da unidade de resposta rápida da Cruz Vermelha ucraniana para a região, que dirige a retirada voluntária de moradores. Ele e o parceiro de trabalho usam coletes a prova de bala para cruzar a ponte que leva a Kupiansk, sob vigilância de militares.

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Horas antes, a ponte foi atingida e os soldados ergueram uma barreira para parar os veículos. No centro da cidade de Kupiansk, há lojas destruídas e prédios de apartamentos com janelas quebradas. Na porta aberta de uma loja, alguém deixou um bilhete avisando: "está vazia, alguém já roubou tudo".

O silêncio é quebrado por disparos de artilharia vindos do outro lado do rio, onde os russos estão posicionados. Das partes mais altas de Kupiansk é possível ver a fumaça subindo de áreas baixas do outro na outra margem.

— A cidade está vazia, é uma cidade fantasma — diz Marina, de 54 anos, encostada no balcão da loja da filha.

Ela conta que sente arrepios quando se lembra da ocupação russa, que espera não viver nunca mais.

— Agora nos sentimos livres, mas antes caminhávamos como se estivéssemos sob um chicote — afirma a ucraniana.