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Indonésios serão indenizados em mais de US$ 27 milhões por governo australiano após terem sido presos quando crianças

Acordo foi acertado nesta semana como resultado de uma ação coletiva movida, em 2020, por mais de 120 vítimas. Algumas tinham apenas 12 anos quando foram jogadas em celas para adultos

Agência O Globo - 06/10/2023
Indonésios serão indenizados em mais de US$ 27 milhões por governo australiano após terem sido presos quando crianças
Foto: José Cruz/Agência Brasil

O governo da Austrália pagará mais de US$ 27 milhões a indonésios adultos que foram presos ou até processados injustamente enquanto ainda eram crianças. A indenização acordada esta semana é resultado de uma ação coletiva movida em 2020 pelas próprias vítimas — a maior parte teria sido apreendida na Ilha Christmas ou em Darwin, entre 2009 e 2012, após chegarem ao território australiano em barcos de contrabando de pessoas. Algumas tinham apenas 12 anos quando foram jogadas em celas para adultos.

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Ao todo, são mais de 120 indonésios que alegam terem sido presos como se fossem adultos ou até mesmo julgados, em alguns casos, como se fossem contrabandistas de pessoas, informou a BBC. O principal requerente é Ali Jasmin, que foi apreendido com 14 anos de idade na Ilha Christmas, em dezembro de 2009, informou o jornal The Guardian. Ele acabou sendo alocado na cela de segurança-máxima antes de ser solto em 2012 e deportado para a Indonésia.

As vítimas afirmam que foram atraídas por ofertas de trabalho supostamente bem remuneradas, mas sem saber o que de fato as aguardavam ou que seriam usadas para transportar navios com requerentes de asilo. Naquela época, há pouco mais de uma década, a lei australiana determinava que crianças encontradas em barcos de contrabando deveriam ser devolvidas ao seu país de origem, o que não aconteceu, explicou a BBC.

Ao contrário, as autoridades justificaram as apreensões segundo os resultados do raio-x no pulso, uma técnica agora desacreditada. O exame é geralmente usado para detectar se a idade óssea da criança é compatível com a sua idade cronológica. Contudo, naquele contexto, qualquer pessoa considerada com mais de 18 anos de idade foi jogada em uma cela — mesmo que tivessem dito às autoridades que fossem crianças, como foi o caso de Jasmin.

Colin Singer, um dos guardas prisionais que ajudou a desvendar o caso, disse à BBC em 2018 que acreditava que o governo australiano tinha apreendido as crianças e adolescentes de maneira “consciente” e que, na outra ponta, o governo da Indonésia “nada queria fazer” para ajudá-los. Em 2012, um relatório histórico da Comissão Australiana de Direitos Humanos disse que o tratamento dado às vítimas apreendidas era “perturbador” e que as autoridades do país “aparentemente davam pouca atenção aos direitos desse grupo de jovens indonésios”, citou o The Guardian.

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Jasmin acusa os oficiais australianos de negligência e descriminação racial, segundo a BBC. O jovem teria alegado violação da Lei de Discriminação Racial e dos direitos das pessoas detidas, citados no relatório da comissão, informou o The Guardian.

Esta não é a primeira compensação paga a um grupo de crianças e adolescentes indonésios presos injustamente. Em 2017, o governo da Austrália concordou em pagar US$ 44,5 milhões a aproximadamente 1,7 mil refugiados e requerentes de asilo por tê-los mantido ilegalmente em condições perigosas na Ilha de Manus. Cinco anos depois, em 2022, um australiano foi indenizado em quase US$ 223 mil após ter sido preso ilegalmente por mais de dois anos em um centro de detenção para imigrantes.

Antes de ser pago, o acordo desta quinta-feira deverá ser sujeito à aprovação final do Tribunal Federal. A BBC destaca que a compensação não é uma admissão de irregularidade.