Variedades

Tritom lança músicas novas, e músicos refletem sofre amores perdidos, sofrimento e o quanto se aprende nesse processo

Duo formado por João e Vitor regravou também "Por que não eu?'', de Leoni

Agência O Globo - 01/10/2023
Tritom lança músicas novas, e músicos refletem sofre amores perdidos, sofrimento e o quanto se aprende nesse processo
Tritom lança músicas novas, e músicos refletem sofre amores perdidos, sofrimento e o quanto se aprende nesse processo - Foto: Reprodução

João e Vitor formam um duo, o Tritom. Começaram com um canal no Youtube, fazendo versões, até que migraram para suas próprias composições e foram gravados por gente de diferentes estilos. Estão lançando “Tons”, com composições próprias e uma regravação de “Por que não eu?”, do Leoni, um mestre do pop. Melhor, inclusive, que ele apresente a meninada. Com vocês, a palavra do Leoni: “Eu fiquei muito feliz com a gravação da banda Tritom para ‘Por que não eu?’. É uma versão muito atual de uma canção escrita há mais de 40 anos. As vozes, o arranjo, tudo é muito delicado e elegante, e leva a composição para um outro universo e para uma nova geração. Como compositor, adoro que as músicas escritas por mim circulem por gêneros diferentes, porque assim se inscrevem no cancioneiro popular de uma forma mais definitiva. Talvez a atualidade do tema tenha ajudado os dois artistas a escolherem essa canção. Quem nunca se perguntou, ainda mais no fim da adolescência ou início da vida adulta, o que fazer para ser correspondido pela pessoa por quem se está apaixonado? Por que não foi escolhida? Como a maior parte das canções pop, tem a ver com a nossa educação sentimental”.

Como foi o início da carreira de vocês?

(João) Nossa história pode ser dividida em alguns capítulos, onde cada virada de página simboliza um novo avanço na caminhada do autoconhecimento. Começamos a Tritom em 2016 fazendo releituras para o nosso canal do Youtube, estava muito em alta na época. A ideia era introduzir as nossas interpretações ao público, para depois apresentar o trabalho autoral. Logo nos primeiros anos de trabalho, alguns vídeos tiveram performances “virais” e nosso canal do Youtube chegou a ultrapassar cem mil inscritos. Uma das versões mais escutadas foi a de “Despacito”, que ultrapassou 13 milhões de visualizações. No início de 2019 assinamos nosso primeiro contrato profissional de empresariamento e começamos o trabalho autoral. Algumas das faixas foram produzidas pelo Papatinho e contaram com feats da cena do rap na época. A intenção era trazer a nossa musicalidade para um estilo um pouco mais “urbano” da música. Na pandemia, em 2020, demos alguns passos atrás e fizemos diversas reflexões sobre qual energia nós queríamos passar no nosso trabalho, e, então, decidimos dar uma repaginada, tanto no visual, quanto no estilo em si, chegando até o perfil que temos hoje na música. Acreditamos que esse novo estilo seja o mais verdadeiro possível para contar a nossa história. Essa última caminhada começou em 2020 com os lançamentos de versões, evoluindo em 2021 para um trabalho autoral e chegando em 2022 com a assinatura com a Warner Music Brasil.

De que forma as canções de vocês acabaram gravadas por Melim, Lulu Santos e Jorge & Mateus? Um repertório eclético por assim dizer, não é?

(Vitor) Sempre tivemos um gosto musical muito eclético. Tratando-se de música brasileira, admiramos praticamente todos os estilos musicais, e sempre nos provocamos para tentar escrever músicas que tenham a nossa cara de certa forma, mas que se encaixem em artistas de outros segmentos. Da mesma forma que ficamos empolgados com nossos lançamentos, é sempre incrível ver músicas que “não se encaixariam tanto no nosso estilo” sendo aproveitadas, sabe? O sentimento é como se você tivesse uma filha que aprendeu a andar com as próprias pernas e “saiu debaixo da sua asa” para ganhar a vida da forma dela, ainda mais quando acontece com artistas consagrados e que, por mais louco que pareça, nós ouvimos desde criança. A magia da criatividade está na diversidade, acreditamos que toda música tem o seu propósito e seu caminho para gerar emoções e eternizar momentos.

O que mudou na pegada de vocês desde o início para as composições que fazem agora?

(João) No começo, nós tentávamos equilibrar muito dois pilares na composição: a nossa verdade que queríamos contar e o que “estava em alta” na época, naturalmente, como qualquer artista que está começando, tínhamos muita preocupação de que a música fosse comercial. Gradualmente, e com o passar do tempo, fomos nos preocupando menos com a questão comercial e dando prioridade para os sentimentos que queremos colocar pra fora e as emoções que queremos provocar nos nossos fãs, e o mais incrível é que a resposta foi absolutamente melhor quando passamos a ser “mais verdadeiros” por assim dizer, sabe? Tiramos como lição da nossa própria história que não vale a pena tentar seguir uma tendência. A sua verdade sempre vai gritar em algum momento, e o resultado vai ser melhor, em qualquer métrica, quando você falar de coração. Inclusive, eu faço questão de falar sobre isso com qualquer artista novo que me procura para pegar dicas de como começar ou como seguir na música.

Contem um pouco, por favor, sobre a escolha do nome do duo. Por que Tritom?

(Vitor) Bem no início do projeto, por alguns meses, éramos três integrantes. Além de mim e do João, tínhamos uma menina chamada Glenda, talentosíssima por sinal, que fazia parte do então trio. Nós sempre curtimos muito abrir vozes nas nossas músicas, fazer segunda (e às vezes até terceira) voz. Com isso definimos o nome Tritom, simbolizando a mescla de três tons musicais, ou três vozes nas músicas, dos três integrantes. Quando a Glenda saiu, por questões profissionais, ficamos pensando se valeria a pena trocar o nome ou ressignificá-lo de alguma forma, afinal estávamos bem no início do projeto. Depois de pensar muito, encontramos uma justificativa que fazia até mais sentido pro nome: Tritom – três vozes: Vitor, João e você. Não faz sentido nenhum se as músicas forem cantadas apenas por nós dois, sempre vai ter um ouvinte do outro lado que vai estar cantando com a gente, seja mentalmente ou cantarolando por aí mesmo. Essa é a única forma de funcionar, sempre os três juntos: Vitor, João e você.

O que seria exatamente esse “desapego para amar” na música “Vida curta”?

(João) A gente acredita que vive em um mundo, principalmente depois dos acontecimentos recentes, em que as pessoas estão sempre muito preocupadas no que está por vir, se esquecem de viver o presente e se entregar a amores reais que nos apresentam todos os dias nos detalhes e nas pessoas próximas. A ideia da música é que você desapegue desses pensamentos e preocupações, e se liberte para amar quem você ama hoje, afinal, a vida é curta demais pra se viver preocupado com o que vem. E essa é a mensagem não só dessa música, que é a música de trabalho, mas de todas as músicas do EP. Episódios de um relacionamento a dois estão sempre presentes nas nossas músicas, mas de uns tempos pra cá, e principalmente nesse trabalho, colocamos muito essa pauta de autoconhecimento e mor próprio nas canções, principalmente por ser algo que temos refletido muito nas nossas próprias vidas. Chega a ser engraçado, mas as mensagens que passamos nas músicas muitas vezes precisamos repetir para nós mesmos.

Qual o motivo da escolha de regravar “Por que não eu?”, do Leoni?

(Vitor) Se minha vida fosse um filme, essa seria sem dúvida a música tema do meu personagem, em todas as desilusões amorosas (e não foram poucas). Durante a juventude “por que não eu?” foi reproduzida no repeat incontáveis vezes. Sempre tivemos o desejo de, de alguma forma, demonstrar no nosso trabalho de onde vêm as referências e inspirações para fazer música. É uma honra pra nós poder interpretar essa canção que é um tesouro nacional, desse artista brilhante e singular que é o Leoni. Além disso, a releitura é algo que está presente no nosso trabalho desde o início, como falamos acima. É algo que representa um pouco a raiz do nosso trabalho, sabe? Por esse motivo também veio a ideia de, dentre todas as faixas do EP, pelo menos uma ser uma releitura de uma música que a gente goste, e de um artista que a gente admire. Quando soubemos que o Leoni ouviu e elogiou a faixa, pulamos de alegria!

As composições de vocês têm alguma inspiração em suas próprias vidas? Já sofreram muito por amor?

(João) Sem dúvida! Costumamos dizer que as nossas composições são reflexo do que vivemos ou do que as pessoas a nossa volta vivem ou viveram. Descobrimos, não muito tardiamente, que a música só funciona se for verdadeira. Se for algo genuíno, sabe? Todas as nossas músicas contam histórias que, de alguma forma, nós já vivemos. “Vida curta” fala muito sobre não se preocupar à toa, viver cada momento e se permitir amar sem medo de ser feliz, afinal todos nós merecemos sim ser feliz. Isso é algo que eu passei muito nos últimos anos, sempre na busca de um relacionamento que faça sentido e que se encaixe perfeitamente em todos os pilares da minha vida. O que descobri foi que os relacionamentos são imperfeitos, e que a felicidade não está no fim, mas sim no caminho e na construção de uma vida juntos. Hoje atingi uma felicidade plena que não sentia nessa “busca”. “Amanhã” e “Seja você” foram músicas que escrevemos na pandemia, num momento triste onde parávamos para refletir sobre tudo o que tínhamos e não dávamos valor. As mensagens de “Imaginar um amanhã melhor”, “Não deixa pra amanhã quem você pode amar hoje”, “Seja você mesmo, sem medo do julgamento”, “Lembra o quanto a vida é bonita e cola com quem te ama e quer te ver prosperar” são todos os “recados” que a gente reforçava pra nós mesmos e acreditávamos que as pessoas ficariam felizes em ouvir também. “Capoeira” e “Mulher de fé” falam sobre a luta do dia a dia na busca de uma vida melhor e como o amor transforma essa luta em uma “dança” no sentido poético. Tudo fica mais fácil quando temos do nosso lado pessoas para batalhar junto. Foram inspiradas tanto nas nossas histórias, quanto nas histórias de pessoas da nossa família. “Mulher de fé” foi muito inspirada nas nossas mães, que sempre batalharam para nos dar uma vida decente e, apesar dos percalços, sempre enxergaram nos detalhes, nas coisas simples, o verdadeiro valor pra ser feliz e agradecer. “Capoeira” foi inspirada nos nossos relacionamentos amorosos. Tanto eu quanto o Vitor temos do nosso lado mulheres incríveis, que batalham e correm ao nosso lado desde o início disso tudo. Às vezes elas acreditam mais na gente do que nós mesmos!