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Otan recorre a drones subaquáticos e inteligência artificial na tentativa de deter a Rússia

Do total, 14 países da aliança militar, juntamente com a Suécia, estão testando drones marítimos, sensores e o uso de inteligência artificial num exercício de 12 dias ao longo da costa de Portugal

Agência O Globo - 29/09/2023
Otan recorre a drones subaquáticos e inteligência artificial na tentativa de deter a Rússia

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) está correndo contra o tempo para desenvolver tecnologias que permitam a detecção em tempo real de atividades suspeitas perto de infraestruturas subaquáticas críticas, depois que as explosões do oleoduto Nord Stream, há um ano, revelaram uma dificuldade de monitoramento. Neste momento, 14 países da aliança militar, juntamente com a Suécia, estão testando drones marítimos, sensores e o uso de inteligência artificial num exercício de 12 dias ao longo da costa de Portugal que termina sexta-feira. O exercício ocorre no momento em que a Rússia continua mapeando cabos e oleodutos aliados como possíveis alvos no futuro, de acordo com a Otan.

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A Otan ainda não acusou formalmente qualquer país pelas explosões do Nord Stream, e ressaltou o desafio que tanto os governos quanto empresas privadas enfrentam na responsabilização dos ataques. Agora, o objetivo é detectar comportamentos maliciosos em torno da infraestrutura subaquática no momento em que eles ocorrem e compartilhar essas informações com governos e operadores privados.

— A detecção em tempo real envia um sinal de dissuasão ao inimigo, seja ele a Rússia ou qualquer outro país — disse o tenente-general Hans-Werner Wiermann, chefe da célula da Otan para proteção de infraestruturas submarinas, a jornalistas em Portugal.

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Segundo ele, se for detectada a atividade, isso permitirá que os 31 aliados da Otan considerem respostas diplomáticas ou militares com base numa “base sólida de informação”.

A Rússia negou as primeiras acusações de alguns países ocidentais de que foi responsável pelas explosões do Nord Stream. Mas os incidentes ocorridos nos últimos meses — com o que parecem ser navios espiões russos operando perto de sistemas aliados — aumentaram a preocupação, especialmente à luz das avançadas capacidades submarinas da Rússia. Estas permanecem praticamente intactas em comparação com as forças terrestres de Moscou.

Em maio, a Otan alertou para um risco significativo de que Moscou pudesse ter como alvo infraestruturas na Europa e na América do Norte, particularmente para ganhar influência contra países que ajudam a Ucrânia. Moscou estaria, segundo Wiermann, utilizando uma combinação dos seus navios de guerra e científicos, bem como traineiras de pesca comercial, porta-contentores e petroleiros para rastrear os sistemas submarinos críticos de países aliados da aliança.

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Os cabos de dados subaquáticos transportam diariamente cerca de US$ 10 trilhões (R$ 50 tri) em transações financeiras e cerca de 95% do tráfego global da internet, de acordo com a Otan. Dois terços do petróleo e do gás mundial são extraídos ou transportados por mar. Alguns dos sistemas têm milhares de quilômetros de extensão e centenas de metros de profundidade abaixo do mar, o que torna o monitoramento complexo.

Exercícios

Num dos exercícios realizados essa semana, os países procuraram impedir um inimigo fictício que tentava perturbar as redes de dados e causar estragos nos mercados financeiros, utilizando um navio comercial patrocinado pelo Estado para tornar a sua atividade mais difícil de detectar.

Sensores comerciais de fibra óptica nos cabos de infraestrutura detectaram que o navio fictício estava tentando implantar um veículo subaquático não tripulado. Essa informação foi transmitida à cadeia de comando e controle da Otan. Depois de confirmar a ameaça, a aliança enviou então uma combinação de drones aéreos, de superfície e subaquáticos para interceptar e escoltar o navio suspeito.

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A tecnologia desempenhará um papel cada vez mais importante para prevenir essa atividade na vida real. A IA pode ser usada para acompanhar os movimentos dos navios e da bandeira se eles cruzarem infraestruturas críticas várias vezes, segundo Wiermann. No futuro, os próprios cabos de fibra óptica poderão detectar interferências nas proximidades.

Destacando a importância crescente da segurança submarina, os aliados da Otan concordaram, em julho, em estabelecer um novo centro marítimo para infraestruturas críticas submarinas no seu comando marítimo em Northwood, no Reino Unido. Concordaram também em criar uma rede para melhorar o compartilhamento de informações entre a Otan, seus aliados e o setor privado, para agir rapidamente como informações como as captadas pelos sensores ou sistemas de IA.

Após as explosões do Nord Stream, a maioria dos operadores de gasodutos ficaram “muito nervosos” e lançaram varreduras em grande escala dos seus ativos, monitorizando cerca de 9 mil quilômetros (5.592 milhas) de gasodutos, afirmou Wiermann.

— Isso custou uma fortuna. E eles não querem necessariamente fazer isso de novo — disse o chefe da célula da Otan para proteção de infraestruturas submarinas. — Queremos ter a troca de informações o mais rapidamente possível entre os atores porque se quisermos detectar comportamentos suspeitos em tempo real, temos que agir muito rapidamente.