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Governo de Nagorno-Karabakh anuncia dissolução do enclave em 1º de janeiro após retirada de metade da população armênia

Primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou que previsões do governo são de que não haverá armênios na região nos próximos dias

Agência O Globo - 28/09/2023
Governo de Nagorno-Karabakh anuncia dissolução do enclave em 1º de janeiro após retirada de metade da população armênia

O governo armênio de Nagorno-Karabakh anunciou, nesta quinta-feira, a dissolução de sua república separatista para janeiro de 2024, uma semana depois da vitória militar do Azerbaijão, o que forçou a fuga de mais da metade da população da região.

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Em um decreto, Samvel Shajramanyan, governante do enclave de maioria armênia, anunciou a dissolução de "todas as instituições governamentais e organizações em 1º de janeiro de 2024". Isto significa que a "república de Nagorno-Karabakh", conhecida pelos armênios como Artsakh e fundada há mais de três décadas, "deixa de existir".

Em Ierevan, o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou que, segundo as previsões do governo, "nos próximos dias não haverá armênios em Nagorno-Karabakh", depois que quase 65 mil moradores, mais de metade da população, fugiram do enclave.

Pashinyan acusou o Azerbaijão de "limpeza étnica" no território do Cáucaso e pediu uma "ação" da comunidade internacional. A Rússia se manifestou, também nesta quinta, afirmando que não haveria risco de limpeza étnica e que os armênios não teriam motivos para se retirar da região.

A região montanhosa está dentro das fronteiras internacionais do Azerbaijão. Os armênios anunciaram a secessão no momento da desintegração da União Soviética. Desde então, os separatistas enfrentaram o governo azerbaijano em duas guerras, a primeira de 1988 a 1994 e a segunda em 2020, quando perderam vários territórios.

Na semana passada, o Azerbaijão executou uma ofensiva militar relâmpago e forçou a rendição dos armênios em 24 horas, sem uma intervenção dos soldados russos de manutenção da paz, mobilizados na região desde o fim de 2020.

A Armênia, que apoiou durante décadas o território, também não intercedeu militarmente desta vez, o que abriu caminho para a reintegração efetiva de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão.

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Desde então, dezenas de milhares de armênios fugiram das tropas azerbaijanas, com medo da repressão, através do corredor Lachin, a única rodovia que liga Nagorno-Karabakh à república da Armênia.

As autoridades armênias registraram a chegada de "65.036 pessoas deslocadas à força", anunciou o porta-voz do governo, Nazeli Baghdasaryan. O número representa mais da metade da população do enclave, que oficialmente tinha 120.000 habitantes.

O governo armênio conseguiu abrigar até o momento apenas 2.850 pessoas, o que antecipa uma crise humanitária.

— A Armênia não tem recursos e não conseguirá atuar sem ajuda estrangeira — disse à AFP o analista político Boris Navasardyan.

Mais de 100 desaparecidos

Para aumentar o sofrimento em Nagorno-Karabakh, mais de 100 pessoas continuam desaparecidas após a explosão em um depósito de combustíveis tomado pelos moradores na noite de segunda-feira. A tragédia deixou pelo menos 68 mortos e 290 feridos.

As autoridades azerbaijanas prenderam na quarta-feira o empresário Ruben Vardanyan, que comandou o governo separatista armênio do enclave de novembro de 2022 a fevereiro de 2023, quando ele tentava entrar na Armênia.

Ao falar sobre os moradores decidam, eventualmente, permanecer em Nagorno, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, prometeu que os direitos dos armênios no enclave serão respeitados.

A ofensiva da semana passada deixou 213 mortos do lado armênio. Baku anunciou que 192 soldados e um civil morreram na operação.