Internacional

Saiba quem é Shawn Fain, o líder sindical que fez Biden participar de um piquete nos EUA

O presidente dos Estados Unidos visitou Michigan nesta terça-feira para apoiar as demandas da greve dos trabalhadores de montadoras automotivas

Agência O Globo - 27/09/2023
Saiba quem é Shawn Fain, o líder sindical que fez Biden participar de um piquete nos EUA

Michigan recebeu nesta terça-feira o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que anunciou na sexta-feira que se uniria às greves históricas contra as Três Grandes montadoras de Detroit. Ele atendeu ao convite do presidente da United Auto Workers (UAW), Shawn Fain, um eletricista com 29 anos de sindicalismo que está transformando o manual de reivindicações de sua organização. Fain, 55, é o primeiro líder em 88 anos de sindicato a ser eleito por voto democrático de seus membros.

Do piquete ao palanque: Onda de greves nos EUA chega à corrida pela Casa Branca

Greve em Hollywood: É possível sobreviver profissionalmente no mundo sem ser uma estrela?

Até as eleições de março passado, decididas em segundo turno por menos de 500 votos entre os cerca de 140 mil filiados que participaram, os líderes do sindicato eram escolhidos por delegados em um processo endogâmico de amizade que resultou em um período de corrupção generalizada. Foi um acordo com o Departamento de Justiça, após acusações contra responsáveis da organização, que estabeleceu a eleição direta.

Luta familiar

Três dos quatro avós de Fain eram filiados à UAW. Um deles começou a trabalhar na Chrysler em 1937, o ano do surgimento do sindicato. O sindicalista afirma que sempre carrega consigo um dos contracheques de seu avô para lembrar de onde veio. Ele se filiou à UAW quando começou a trabalhar em 1994 como eletricista na Chrysler em Kokomo, Indiana, sua cidade natal.

Ele logo se destacou como líder sindical, tornando-se chefe do comitê. Em 2007, quando as montadoras estavam passando por uma crise e os sindicatos concordaram em fazer concessões, Shawn se opôs à ratificação do acordo coletivo que estabeleceu uma escala salarial dupla que reduzia pela metade os salários dos novos trabalhadores. Uma das demandas-chave da greve atual é, precisamente, acabar com essa escala dupla (ou, no mínimo, aproximar as condições dos novos contratados às dos mais antigos). Ele também se opôs à paralisação e ao fechamento de fábricas e a outros acordos que não serviam aos interesses dos filiados.

Após ser eleito presidente do UAW, lançou uma mensagem de unidade no Twitter. “Por muito tempo, este sindicato esteve dividido. A corrupção e a liderança egoísta da cúpula nos dividiram. Em seu auge, a UAW era o modelo de um sindicato limpo, progressista e liderado por seus filiados, mas nas últimas décadas nos afastamos muito desse caminho. Os líderes da UAW, as pessoas escolhidas para liderar e servir este grande sindicato, aceitaram subornos, roubaram contribuições e traíram a confiança dos filiados. Isso acaba aqui”, disse Fain.

Na estratégia para mobilizar os filiados neste ano, ele destacou os lucros recordes das Três Grandes e os salários milionários de seus executivos. “Nós não somos o problema. A ganância corporativa é o problema”, afirmou.

Rompendo com a tradição de escolher uma das empresas como alvo de greve e depois exigir que as outras duas igualassem suas concessões, Fain decidiu atacar as três ao mesmo tempo. Convocou greve em apenas três fábricas, uma da General Motors, outra da Ford e outra da Stellantis. Amparado por regulamentos que não exigem aviso prévio, seu objetivo era manter as empresas “em suspense”. Após uma semana de negociações, puniu a GM e a Stellantis com greve em mais 38 centros, e poupou a Ford por ter mostrado disposição para negociar.

Fain não é exatamente carismático, mas transmite segurança e confiança aos trabalhadores que representa no sindicato.

— Ele sabe o que está fazendo — disse um funcionário da GM em Michigan.