Internacional

Arábia Saudita se aproxima de Israel, envia delegação à Cisjordânia e recebe ministro israelense pela 1ª vez

Movimento é um símbolo da recente aproximação entre os dois países, capitaneada por Washington, que pode transformar o xadrez geopolítico no Oriente Médio

Agência O Globo 26/09/2023
Arábia Saudita se aproxima de Israel, envia delegação à Cisjordânia e recebe ministro israelense pela 1ª vez
Arábia Saudita se aproxima de Israel, envia delegação à Cisjordânia e recebe ministro israelense pela 1ª vez - Foto: Reprodução

Pela primeira vez em três décadas, a Cisjordânia recebeu nesta terça-feira uma delegação oficial da Arábia Saudita. Paralelamente, o ministro israelense do Turismo, Haim Katz, iniciou a primeira visita da História de uma autoridade do gabinete de Israel ao reino saudita. O movimento é um símbolo da recente aproximação entre os dois países, capitaneada por Washington, que pode transformar o xadrez geopolítico no Oriente Médio.

A delegação da Arábia Saudita é liderada por Nayef al-Sudairi, nomeado em agosto embaixador do reino nos Territórios Palestinos. É a primeira visita de uma delegação oficial saudita à Cisjordânia desde os acordos de paz israelenses-palestinos de Oslo, em 1993, que permitiram a criação da Autoridade Palestina e deveriam levar a criação de uma nação. Segundo o reino saudita — que até os dias de hoje não reconhece o Estado de Israel —, o grupo discutirá a defesa da causa palestina.

Segundo al-Sudairi, "a questão palestina é um pilar fundamental" da política externa saudita.

— É certo que a iniciativa [de paz] árabe, que foi apresentada pelo reino em 2002, é uma pedra angular de qualquer acordo futuro — declarou aos jornalistas, em referência à iniciativa da Liga Árabe que defendia a retirada da Israel de todos os territórios ocupados desde 1967 (Cisjordânia, Jerusalém Oriental, Gaza e Colinas de Golã), bem como uma solução justa para os palestinos, em troca da normalização das relações diplomáticas.

Israel mantém hoje relações com vários países árabes, sobretudo após estabelecer vínculos em 2020 com Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos. Os vizinhos Jordânia e Egito também estão entre as nações com as quais o países tem laços. Para os palestinos, no entanto, que seguem em busca de um Estado próprio, os acordos impulsionados pelos Estados Unidos são vistos como uma traição.

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Nos últimos meses, Riad deu sinais de que poderia mudar a sua posição e anunciou o que deseja dos Estados Unidos em troca do estabelecimento das relações com Israel: garantias de segurança e assistência para um programa nuclear civil, informaram fontes próximas às negociações.

Na semana passada, o líder palestino Mahmoud Abbas enfatizou as suas reservas em relação aos países árabes que estabelecem laços com Israel.

— Aqueles que pensam que a paz pode prevalecer no Oriente Médio sem que o povo palestino desfrute de seus direitos nacionais plenos e legítimos estão enganados — disse na Assembleia Geral da ONU em Nova York.

Nesta terça-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que "vários países do Oriente Médio querem a paz com Israel".

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Reaproximação com Israel

Já o ministro israelense Haim Katz realiza uma visita de dois dias à Arábia Saudita para participar de uma conferência da Organização Mundial de Turismo da ONU, no momento em que as negociações pela normalização das relações continuam. O governo saudita, porém, não confirmou imediatamente a viagem, a primeira de um membro do gabinete israelense.

"O turismo é uma ponte entre as nações. A cooperação no campo do turismo tem o potencial de unir os corações e o progresso econômico", disse em comunicado. "Trabalharei para promover a cooperação, o turismo e as relações exteriores de Israel", acrescentou.

Na próxima semana, o ministro israelense das Comunicações, Shlomo Karhi, também viajará à Arábia Saudita para participar de um congresso internacional.

Na semana passada, Netanyahu declarou na Assembleia Geral da ONU que os países estão "perto de um avanço ainda mais espetacular, uma paz histórica entre Israel e a Arábia Saudita".

— Essa paz aumentaria as chances de paz com os palestinos — afirmou.