Internacional

Filho de Petro irá a julgamento após deixar de colaborar com o MP e diz ser pressionado para ser 'arma contra o pai'

Nicolás Petro enfrenta acusações de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, crimes que teria cometido durante a campanha do presidente colombiano

Agência O Globo - 26/09/2023
Filho de Petro irá a julgamento após deixar de colaborar com o MP e diz ser pressionado para ser 'arma contra o pai'

O filho do presidente colombiano, Nicolás Petro, deu uma guinada radical na sua estratégia de defesa e deixou de colaborar com o Ministério Público no caso de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito durante a campanha do pai, Gustavo Petro. Com a decisão, ele será julgado em um tribunal de Barranquilla.

Crise na Colômbia: Como o escândalo envolvendo seu filho e o narcotráfico pode afetar o presidente colombiano?

Contexto: Ministério Público colombiano abre investigação contra filho do presidente Petro por lavagem de dinheiro

“Hoje começa a luta da minha vida, eu sabia que o Ministério Público Barbosa não era confiável e hoje mostraram isso. Eles me levaram ao limite com a única intenção de me transformar em uma arma contra meu pai. Decidi levantar-me e não me ajoelhar diante do carrasco”, escreveu Nicolás no X, antigo Twitter, na segunda-feira.

Até agora, o mais velho dos seis filhos de Petro tinha chegado a um acordo com a acusação, o que significava reconhecer de fato os crimes que lhe eram imputados. Os problemas de Nicolás nos tribunais têm sido uma verdadeira dor de cabeça para o presidente, que após 30 anos na política, nunca havia sido afetado por um caso de corrupção no seu entorno mais próximo.

Nicolás é acusado junto com sua ex-mulher, Day Vásquez, quem tornou públicos os supostos crimes depois que Nicolás rompeu o relacionamento. Ela revelou mensagens de WhatsApp nas quais os dois tramavam o que fazer com o dinheiro que recebiam dos empresários enganados, prometendo que as contribuições iriam para a campanha de seu pai — o que, segundo o próprio Nicolás, não aconteceu.

Após as revelações, o Ministério Público começou a investigar o ex-casal, que naquela época havia comprado uma casa e vivia um alto padrão de vida.

Nicolás chegou a ser preso, mas recebeu liberdade condicional por colaborar com a Justiça no caso. A medida foi adotada sob a condição de que ele não saísse de Barranquilla, cidade onde mora, não participasse de eventos políticos e não tivesse contato com nenhuma das pessoas investigadas no processo que tramita na Justiça. A jogada, agora, parece ser arriscada.

Relembre: Presidente da Colômbia comenta prisão do filho e garante 'não intervir' em investigação

A disputa entre o presidente e o procurador-geral, Francisco Barbosa, indicado para o cargo pelo governo anterior, pode ter sido uma das causas. Petro o acusa de ser diligente com casos que o afetam, mas pouco preocupado com casos relevantes para o país, como o da Odebrecht.

O mandato de Barbosa terminará em fevereiro do ano que vem e um procurador indicado pelo Petro deverá substituí-lo. O presidente incluiu em uma lista os nomes de três mulheres com vasta experiência em Direito, nenhuma delas conhecida ou amiga.

Mortal e lucrativa: Rota do Darién vira negócio para políticos colombianos, que cobram milhões de migrantes rumo aos EUA

Barbosa foi colega de universidade do antecessor de Petro, o direitista Iván Duque, e, mais do que isso, amigo pessoal. Senadores como Iván Cepeda consideram que o procurador-geral aproveita a sua posição para se opor ao governo e assim iniciar uma carreira política.

Nicolás Petro deixou dois advogados para trás durante o processo. O primeiro, Juan Trujillo, renunciou por “diferença de critérios”, e disse que discordava da colaboração de seu cliente com o Ministério Público. Ele foi substituído pelo criminalista David Teleki, que também desistiu de defender Nicolás, alegando “razões pessoais”.

Como parte do processo de colaboração com a Justiça, Nicolás confessou o suposto financiamento ilegal da campanha que levou Gustavo Petro à Presidência em 2022, incluindo fundos repassados por Samuel Santander Lopesierra, extraditado por narcotráfico para os Estados Unidos, onde ficou preso entre 2003 e 2021. Também afirmou ter recebido dinheiro de um filho de Alfonso "El Turco" Hilsaca, negociante acusado no passado de financiar grupos paramilitares e planejar homicídios, e de outros empresários.

O depoimento de Nicolás à Justiça abalou o primeiro governo de esquerda Colômbia. O presidente estabeleceu distância do filho e afirmou que nunca seria cúmplice de crimes, mas tentou visitar o filho em agosto no bunker do MP, quando estava detido — Nicolás recusou o encontro. Semanas depois, no entanto, os dois se encontraram na casa de Nicolás em Barranquilla, onde, segundo ele, conversaram sobre assuntos pessoais.