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Nagorno-Karabakh: explosão em posto de gasolina deixa mais de 200 feridos em meio à fuga em massa da região

Acidente acontece perto da capital no momento em que dezenas de pessoas abasteciam seus carros para deixar o enclave, tomado por tropas azeris na semana passada

Agência O Globo - 25/09/2023
Nagorno-Karabakh: explosão em posto de gasolina deixa mais de 200 feridos em meio à fuga em massa da região
Nagorno-Karabakh: - Foto: Reprodução

Uma explosão em um posto de gasolina deixou mais de 200 feridos em Nagorno-Karabakh, informaram nesta segunda-feira autoridades separatistas da região, que voltou a ser cenário de conflito entre armênios e azeris nas últimas semanas. A tragédia aconteceu em meio à fuga maciça da população após o Azerbaijão ter tomado o controle do enclave de maioria armênia, cujo território é alvo de disputas há mais de um século.

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"O número de feridos na explosão de um posto de gasolina passa de 200. A maioria se encontra em estado grave ou muito grave", disse o encarregado de direitos humanos de Nagorno-Karabakh, Gegham Stepanyan, nas redes sociais.

Segundo Stepanyan, ainda não está clara a origem da explosão. O incidente ocorreu perto da capital, Stepanakert, onde vive um terço da população de 120 mil pessoas, no momento em que dezenas delas abasteciam seus carros para deixar o enclave — reconhecido internacionalmente como parte do território azeri, mas com a população majoritariamente de origem armênia.

Entidades internacionais já manifestaram sua preocupação diante da possibilidade de mais uma limpeza étnica armênia em curso promovida por forças do Azerbaijão, que assegurou que respeitará os direitos humanos de todos os cidadãos independentemente da etnia. No entanto, desde a escalada do conflito neste mês, cerca de 6.650 pessoas já fugiram da área em direção à Armênia temendo a violência.

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O território já foi palco de duas guerras civis no passado: a primeira de 1917, após a Revolução Bolchevique; e a segunda depois do colapso da União Soviética, em 1991, que só acabou com um cessar-fogo mediado pela Rússia em 1994. Nesse meio tempo, porém, cerca de 30 mil pessoas morreram no que foi classificado como um genocídio da população armênia.

Em 2020, um novo conflito deixou 6.500 mortes em seis semanas, antes de um acordo de cessar-fogo também mediado pela Rússia. A guerra terminou com uma derrota esmagadora para a Armênia, forçada a ceder ao Azerbaijão alguns importantes territórios nas proximidades do enclave e uma parte da região.

Embora o Azerbaijão tenha vencido a guerra, no entanto, ainda não alcançou todos os seus objetivos, incluindo a instalação de corredor terrestre para o exclave de Naquichevão — uma fatia separada do território do Azerbaijão na fronteira da Armênia que daria ao país uma ligação direta com a Turquia, um dos seus principais aliados.

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As tensões que culminaram na mais recente ofensiva recomeçaram no final de 2022, quando o Azerbaijão instalou postos de controle no Corredor de Lachin — a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Armênia — e bloquearam a entrada de alimentos e medicamentos para a população.

O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, reuniu-se nesta segunda com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, em Naquichevão, onde anunciaram a construção de um gasoduto no estratégico local. Segundo Erdogan, a vitória azeri sob Nagorno-Karabakh inspira orgulho.

— É um motivo de orgulho o fato de a operação ter sido concluída com êxito num curto espaço de tempo, com a máxima sensibilidade para com os direitos dos civis — afirmou Erdogan. — Estou muito satisfeito por estar com você no momento em que ligamos Naquichevão ao mundo turco.

Paralelamente ao encontro, o governo dos Estados Unidos aproveitou para criticar a Rússia por não ter impedido o Azerbaijão de tomar Nagorno-Karabakh. Moscou havia enviado 3 mil agentes de paz para monitorar a situação do local após os combates de 2020, mas sua atenção foi desviada desde a guerra na Ucrânia.

— Acredito que a Rússia mostrou não ser um aliado de segurança confiável — disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, a jornalistas. — Acreditamos que deve haver uma missão internacional para garantir transparência, tranquilidade e confiança aos residentes de Nagorno-Karabakh e à comunidade internacional de que seus direitos serão protegidos de acordo com as declarações públicas feitas pelo Azerbaijão.

O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, criticou a Rússia no domingo por não ter agido quando o Azerbaijão tomou territórios de etnias armênias separatistas na semana passada. Segundo ele, há a expectativa de que os cerca de 120 mil civis que vivem na região montanhosa migrem para a Armênia devido ao "risco de limpeza étnica".