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Barras de ouro, carro de luxo e dinheiro vivo: senador dos EUA e esposa são acusados de corrupção

Democrata Robert Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, teria usado de sua influência para beneficiar o governo do Egito e empresários de Nova Jersey nos EUA e no exterior

Agência O Globo - 22/09/2023
Barras de ouro, carro de luxo e dinheiro vivo: senador dos EUA e esposa são acusados de corrupção

O senador americano Robert Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, e a esposa, Nadine, foram acusados de receber milhares de dólares de suborno — em pagamentos feitos com barras de ouro, dinheiro em espécie e presentes luxuosos — para exercer sua influência no exterior e nos EUA para favorecer o governo do Egito e empresários de Nova Jersey. Menendez se disse inocente logo após a apresentação das denúncias nesta sexta, culpando "forças nos bastidores" de tentarem arruiná-lo politicamente.

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A acusação federal implica o casal Robert e Nadine Menendez e três empresários de Nova Jersey. O senador, especificamente, é acusado de usar o cargo para operar esquemas ilícitos. Em um deles, teria tentado fornecer ao Egito informações confidenciais do governo dos EUA. Em outros dois, segundo os promotores, pretendia influenciar em investigações criminais contra dois empresários amigos, um dos quais um antigo financiador de campanha.

De acordo com a promotoria, Menendez teria recomendado que o presidente dos EUA, Joe Biden, nomeasse o advogado Philip R. Sellinger para ser procurador em Nova Jersey, acreditando que poderia influenciá-lo no caso de um processo sobre a arrecadação de fundos. Sellinger, que acabou sendo confirmado para o cargo, não foi acusado de qualquer irregularidade.

Em troca de suas ações, disse a acusação, Menendez e Nadine aceitaram dinheiro, ouro, pagamentos para a hipoteca de uma casa, um veículo de luxo e outras coisas valiosas. Durante duas operações de busca, uma na casa do casal e outra em um cofre em nome de Nadine, os investigadores encontraram US$ 550 mil (R$ 2,7 milhões) em dinheiro vivo, grande parte escondido em roupas, armários e em um cofre. Parte do dinheiro estava enfiado em envelopes que continham as impressões digitais ou o DNA de um dos empresários e de seu motorista. Ainda de acordo com a promotoria, foram encontrados três quilos em barras de ouro.

— Nos bastidores, o senador Menendez estava fazendo essas coisas para certas pessoas, as pessoas que subornavam ele e sua esposa — disse Damian Williams, procurador dos EUA para o Distrito Sul de Nova York, em entrevista coletiva anunciando as acusações.

Logo após a coletiva de imprensa, Menendez divulgou uma nota de uma página, atribuindo as acusações às “forças nos bastidores” que “tentaram repetidamente silenciar minha voz e cavar minha sepultura política”. Ele disse estar confiante de que este assunto seria “resolvido com sucesso assim que todos os fatos fossem apresentados”.

“Os excessos desses promotores são aparentes. Eles deturparam o trabalho normal de um escritório do Congresso. Além disso, não contentes em fazer falsas alegações contra mim, eles atacaram minha esposa pelas amizades de longa data que ela tinha antes mesmo de ela e eu nos conhecermos”, acrescentou.

O advogado de Nadine Menendez, David Schertler, disse que ela não violou nenhuma lei e que contestará "vigorosamente" as acusações no tribunal.

Espera-se que Menéndez, sua esposa e os empresários compareçam ao tribunal federal de Manhattan na quarta-feira, de acordo com Nicholas Biase, porta-voz do Distrito Sul.

Caminho até a acusação

As acusações contra o senador de 69 anos são o resultado de uma longa investigação do FBI e de promotores federais em Manhattan e ocorre quase seis anos depois de um outro julgamento por acusações de corrupção ter terminado com um júri empatado.

O documento de 39 páginas apresentado pela promotoria acusa o senador, sua esposa e os empresários de conspiração para cometer suborno e conspiração para cometer fraude eletrônica em serviços honestos. Também acusa Menendez e Nadine de conspiração para cometer extorsão sob o pretexto de direito oficial, ou seja, usar sua posição oficial para forçar alguém a lhes dar algo de valor.

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De acordo com a acusação, Menendez a certa altura se gabou de que as ações que tomaria em nome de um dos empresários o tornariam “mais poderoso do que o presidente do Egito”.

As acusações não são o primeiro encontro do senador com a lei. Em 2015, Menendez foi indiciado em Nova Jersey por acusações de suborno, no que os promotores federais chamaram de esquema entre o senador e um oftalmologista rico para trocar favores políticos por presentes no valor de quase US$ 1 milhão (R$ 4,9 milhões), incluindo férias luxuosas no Caribe e contribuições de campanha.

O julgamento por corrupção de Menendez terminou com anulação do julgamento em novembro de 2017, depois de o júri ter dito que não foi capaz de chegar a um veredicto. O juiz posteriormente absolveu Menendez de várias acusações e o Departamento de Justiça rejeitou as outras.

Quem é Robert Menendez?

Filho de imigrantes cubanos, Robert Menendez ascendeu ao poder no condado de Hudson, um famoso campo de provas políticas no norte de Nova Jersey, onde começou a servir no conselho escolar em Union City quando era um estudante universitário de 20 anos. Aos 32 anos, ele era prefeito. Menéndez ganhou o cargo depois de usar um colete à prova de balas para testemunhar contra membros da Máfia e um mentor, William V. Musto, o prefeito da cidade que foi condenado por receber centenas de milhares de dólares em propinas de um empreiteiro contratado para construir escolas.

Menendez serviu na Assembleia Estadual e no Senado antes de ser eleito para a Câmara dos Representantes dos EUA. Ele foi nomeado para o Senado dos EUA em 2005 para preencher a vaga criada quando Jon Corzine deixou o órgão para se tornar governador.

Logo depois de ser empossado no Senado, Menendez enfrentou um inquérito federal liderado por Chris Christie, então procurador dos EUA em Nova Jersey, sobre pagamentos feitos por um grupo sem fins lucrativos que alugou uma casa de sua propriedade. Não levou a lugar nenhum, mas o acompanhou por quase seis anos.

(Com The New York Times e AFP)