Internacional

Político italiano de extrema direita pede destituição de diretor de museu por 'racismo contra italianos'

Crippa disse que o egiptólogo Christian Greco dirigiu Museu de Antiguidades Egípcias de Turim de 'maneira ideológica', em referência a uma iniciativa que dava descontos para falantes de árabe

Agência O Globo - 22/09/2023
Político italiano de extrema direita pede destituição de diretor de museu por 'racismo contra italianos'
Andrea Crippa - Foto: Reprodução

O deputado e vice-secretário do partido de extrema direita italiano Liga, Andrea Crippa, pediu nesta quinta-feira a destituição do diretor do Museu de Antiguidades Egípcias de Turim, Christian Greco, sob alegação de que ele seria um “diretor de esquerda” e que, além de dirigir o museu de “maneira ideológica”, estaria cometendo “racismo contra os italianos e os cristãos”.

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— Christian Greco, diretor do Museu Egípcio de Turim, faça um gesto de dignidade e peça demissão. Faremos de tudo para removê-lo e pedimos ao ministro da Cultura [Gennaro] Sangiuliano que o remova, caso você não o faça — afirmou Crippa em entrevista a Affaritaliani.it, citada pela Ansa.

A justificativa faz referência a uma ação do museu, implementada entre 6 de dezembro de 2017 e 31 de março de 2018, que dava dois ingressos pelo preço de um a falantes de árabes em reconhecimento às peças egípcias expostas e para estimular o diálogo entre as culturas.

Na entrevista à a Affaritaliani.it, Crippa argumentou que o desconto “nunca” é “para quem professa outras religiões”, em uma inferência à ideia errônea de que todas pessoas de origem árabe seriam muçulmanas, sendo que há milhões de cristãos árabes. O partido da primeira-ministra e a Liga formam, juntamente com o centro-direitista Força Itália, uma coalizão.

Na época, a medida provocou uma onda de protestos da extrema direita, incluindo da então líder do partido Irmão da Itália (FdI, em italiano) e atual primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, que definiu a iniciativa como “idiota” e “descriminatória contra italianos”.

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O caso ressurge agora depois do deputado de extrema direita ter sido inocentado em um processo movido pelo diretor do museu. Na ação, Crippa havia sido acusado de suposta incitação ao ódio.

— Ele me denunciou, fui condenado em primeiro grau e absolvido em segundo, vencendo a causa — contou o deputado em entrevista citada pela reportagem.

Também nesta semana, Maurizio Marrone, conselheiro de Bem-estar do Irmãos da Itália, da região de Piemonte, no norte do país, disse a um jornal local de Turim que o contrato de Greco não seria renovado, porque ele acreditava que haveria candidatos “mais qualificados” para o cargo.

'Interferência política excessiva'

Filas constantes, aumento da venda de ingressos e milhares de visitantes são rotina sob a direção de Greco. O museu registrou um aumento de 6,3% de visitantes em relação ao nível pré-pandemia. Em 2022, chegaram a circular mais de 900 mil visitantes no local.

O egiptólogo italiano já trabalhou sete anos no exterior e disse, em entrevista ao La Stampa, nesta quinta-feira, citado pelo The Guardian, que a “interferência política só existe na Itália”.

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— Na Itália, a interferência política é excessiva. Isso arruina o equilíbrio e é um problema que sempre existiu — disse Greco.

Repercussão

O ex-ministro da Cultura Dario Franceschini manifestou-se a favor do diretor, afirmando que a cultura deve ser mantida "fora dos contornos políticos".

— Acreditar que aqueles que governam devem nomear apenas pessoas leais é um erro e corre o risco de ser um tiro no pé — disse ao The Guardian.

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A deputada Laura Boldrini também se solidarizou com Greco. A política do partido Democrata, de centro-esquerda, disse ao The Guardian que a fala de Crippa expressava "ideias autoritárias e proprietárias" e que sua abordagem foi "perturbadora para o país e para a democracia".

Já a deputada Daniela Ruffino, do partido Azione, de centro, disse que o caso pode mostrar "o quão baixo pode ser o embate político".

— Procurar usar Christian Greco, um egiptólogo de fama e estima universais, para conduzir uma guerra religiosa contra o Islã diz muito sobre o quão baixo pode ser o embate político — destacou ao jornal britânico.