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Premier britânico nega interrupção de esforços contra mudanças climáticas após adiar metas cruciais

Rishi Sunak anunciou o adiamento de uma série de metas ambientais, entre elas o veto a venda de carros movidos a gasolina e diesel, que entraria em vigor em 2030

Agência O Globo - 21/09/2023
Premier britânico nega interrupção de esforços contra mudanças climáticas após adiar metas cruciais
Rishi Sunak - Foto: Reprodução

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, rebateu nesta quinta-feira acusações de que o seu governo está dando um passo atrás nos esforços de conter o aquecimento global, após o anúncio do adiamento de medidas centrais para o compromisso do país de zerar as emissões de gases poluentes até 2050. O plano provocou críticas até entre conservadores, incluindo o polêmico ex-premier Boris Johnson e marca um profundo retrocesso na política ambiental britânica, apenas dois anos depois do pais sediar a COP26, em Glasgow.

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— Não estamos em absoluto desacelerando os esforços para combater o aquecimento global — afirmou o líder conservador à rede de TV BBC.

Na quarta-feira, Sunak anunciou mudanças em metas emblemáticas, entre elas a proibição da venda de carros movidos a gasolina ou diesel, adiada por cinco anos, até 2035. O mesmo prazo foi estabelecido para a entrada em vigor do veto a aquecedores domésticos a carvão, combustível ou gás. Ao mesmo tempo, o governo dobrou o auxílio oferecido aos cidadãos para levar adiante a mudança nos sistemas de calefação.

Sunak buscou justificar o plano pela necessidade de ser “pragmático” e “dar mais tempo” aos britânicos afetados pela crise no custo de vida, já que as tecnologias verdes, como veículos elétricos, por exemplo, ainda têm alto custo. O premier garantiu ainda acreditar que o Reino Unido vai atingir a meta de emissões zero até 2050. Analistas, no entanto, creditam o movimento do governo às ambições eleitorais de Sunak em acenar ao eleitorado conservador.

Após o anúncio das medidas, o diretor-geral do Comitê sobre Mudanças Climáticas — que funciona como conselheiro independente do governo britânico — Chris Stark, disse que a visão de Sunak é ilusória e que o país corre sérios riscos de não cumprir os compromissos ambientais. O comitê alertou, no início do ano, que o país já estava “preocupantemente lento” no esforço de atingir a meta. Curiosamente, o rei Charles III esteve, nesta quinta, no Parlamento francês para defender uma nova “Entente” com Paris tendo como objetivo uma resposta mais eficaz à “urgência mundial em matéria de clima e biodiversidade”.

No mesmo dia do anúncio, a Assembleia Geral da ONU, que não contou com a presença de Sunak, organizou um encontro sobre ambições climáticas. Nos bastidores do evento, o ex-vice-presidente americano Al Gore, que se tornou um dos principais ativistas pelo meio ambiente do mundo, disse à rede de TV CNN que o premier britânico "fez a coisa errada", ao comentar as medidas.

Até Boris Johnson

Dentro do Reino Unido, a lista de críticos inclui organizações de defesa do meio ambiente, políticos de oposição, cientistas, conservadores do partido de Sunak e até representantes da indústria que tinham planos desenhados para cumprir objetivos agora adiados. Até o controvertido ex-premier Boris Johnson se posicionou contra as mudanças.

“Não podemos nos permitir falhar agora de modo algum, nem reduzir o nível de ambição do nosso país”, declarou Johnson em um comunicado.

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Fontes ouvidas por diversos veículos de mídia britânicos indicaram que integrantes do próprio governo entraram em alerta diante do plano que reverte compromissos assumidos anteriormente. Analistas dizem que, por trás do recuo ambiental, estão ambições meramente eleitorais do primeiro-ministro. Sunak busca agradar a um eleitorado do norte da Inglaterra, que costumava apoiar os trabalhistas, mas deu apoio massivo em 2019 aos conservadores e à saída da União Europeia — o Brexit proposto por Johnson. Sunak aposta que medidas que supostamente aliviam a pressão econômica de políticas “verdes” vão reforçar o apoio desses eleitores aos conservadores.

A aposta de Sunak remete aos resultados de eleições fora de época em julho. Na esteira de uma crise econômica e de popularidade, o Partido Conservador amargou duas derrotas acachapantes e perdeu dois assentos no Parlamento, mas conseguiu manter a cadeira que pertenceu a Boris Johnson, em Uxbridge e Ruislip do Sul, no subúrbio de Londres. A derrota ali seria simbólica, após o ex-premier renunciar ao mandato parlamentar após uma comissão legislativa acusá-lo de mentir para o Parlamento sobre as festas na sede do governo durante o auge da pandemia de Covid-19 — escândalo que ficou conhecido como Partygate.

Na época, especialistas foram unânimes em creditar a vitória à rejeição do eleitorado diante de uma proposta do prefeito trabalhista de Londres Sadiq Khan de incluir Uxbridge em uma zona de baixas emissões na qual veiculos que não cumprem as normas precisam pagar uma taxa diária equivalente a mais de R$ 76.