Internacional
Separatistas de Nagorno-Karabakh aceitam entregar armas e anunciam trégua com Azerbaijão
Enclave de maioria armênia viveu nova escalada da tensão um dia antes, quando Baku iniciou nova operação militar na região, deixando dezenas de mortos
Os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh anunciaram nesta quarta-feira que entregarão as armas como parte de uma trégua com o Azerbaijão, após a operação militar iniciada na véspera por Baku, que deixou dezenas de mortos. O governo armênio, no entanto, se afastou da trégua e disse nesta quarta-feira que não participou da elaboração do pacto de cessar-fogo.
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— A Armênia não participou na elaboração do texto da declaração de cessar-fogo em Nagorno-Karabakh sob a mediação das forças de paz russas — disse o primeiro-ministro Nikol Pashinyan.
Pashinyan reiterou que “não tem Exército” no enclave montanhoso, reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão — os dois países entraram em guerra pela última vez há três anos. Pashinyan vem sendo pressionado internamente desde que perdeu a última guerra pela disputa do território, em 2020. Nos últimos dias centenas de manifestantes voltaram às ruas da Armênia, pedindo sua saída.
O Azerbaijão e os separatistas anunciaram que começarão a negociar na quinta-feira na cidade de Yevlakh a reintegração do território ao Azerbaijão, segundo os termos do cessar-fogo alcançado com a mediação das forças de paz russas e que entrou em vigor nesta quarta-feira.
Desde o final de 2020, 3 mil russos monitorizaram a frágil trégua, mas a atenção de Moscou foi desviada após a invasão da Ucrânia. Sem citar a trégua, nesta quarta-feira o presidente russo, Vladimir Putin, disse que espera uma resolução “pacífica” para o conflito.
— Estamos em estreito contato com todas as partes do conflito: com as autoridades em Yerevan, com as autoridades (separatistas de Karabakh) em Stepanakert e em Baku — disse Putin durante uma reunião com o novo ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi.
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"Alcançamos um acordo sobre a retirada das unidades e militares restantes das Forças Armadas armênia (...) e sobre a dissolução e desarmamento completo das formações armadas do Exército de Defesa de Nagorno-Karabakh", confirmou a Presidência separatista em um comunicado.
O ministério da Defesa do Azerbaijão também anunciou a entrada em vigor de uma trégua, logo após o anúncio dos separatistas. Segundo o ministério, as Forças Armadas armênias devem abandonar Nagorno-Karabakh e as forças separatistas devem ser dissolvidas. Todas as armas e equipamentos pesados também deverão ser entregues. O governo da Armênia nega de maneira reiterada que tenha tropas na região.
"As unidades militares armênias no distrito azerbaijano de Karabakh e os grupos armados ilegais armênios devem entregar as armas, abandonar suas posições e postos e estar completamente desarmados", afirmou o ministério, ao citar os termos do acordo.
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Na terça-feira, Baku deixou claro que a última ofensiva só terminaria com a rendição, pedindo a retirada "total e incondicional" da Armênia desse enclave montanhoso do sul do Cáucaso, onde estima-se que vivam 120 mil armênios. As tensões aumentaram nos últimos meses, quando o Azerbaijão impôs um bloqueio à única rota da Armênia para a região, conhecida como Corredor de Lachin.
Nagorno-Karabakh proclamou a sua independência de Baku quando a União Soviética se desintegrou, desencadeando um conflito armado vencido pelos armênios no início da década de 1990. Com a vitória, a Armênia ficou com controle de cerca de 13% da área total do território azeri. Baku, por sua vez, recuperou parte da região em uma ofensiva em 2020, aproveitando seus lucros com gás natural para comprar armamento superior da Turquia e de Israel.
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Durante cerca de um mês e meio, Azerbaijão e Armênia guerrearam pela posse de Nagorno-Karabakh naquele ano, mas um cessar-fogo em vigor desde 10 de novembro de 2020 interrompeu o conflito, que deixou milhares de mortos.
Embora o Azerbaijão tenha vencido a guerra, no entanto, ainda não alcançou todos os seus objetivos, incluindo um corredor terrestre para o enclave de Naquichevão, uma fatia separada do território do Azerbaijão na fronteira sudoeste da Armênia, que daria ao país uma ligação direta com a Turquia. Também pretende exercer maior controle sobre o Corredor Lachin, alegando que a Armênia o usa para transportar minas terrestres ilegalmente para Nagorno-Karabach.
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