Internacional

Lula retorna à ONU após Bolsonaro promover 'guerra cultural' e política interna em discursos

Caio Spechoto 19/09/2023
Lula retorna à ONU após Bolsonaro promover 'guerra cultural' e política interna em discursos
Lula - Foto: Reprodução

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltará a discursar na Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira, às 10 horas, pelo horário de Brasília, depois de uma sequência de discursos de seu antecessor, Jair Bolsonaro, que promoveu uma espécie de "guerra cultural" e foi voltada à política interna.

Em 2019, em seu primeiro discurso no fórum, Bolsonaro usou cinco vezes a palavra "socialismo", e atacou o Foro de São Paulo. Criticou o programa Mais Médicos, insinuando que os profissionais cubanos eram agentes infiltrados em território brasileiro.

"Já nos anos 60, agentes cubanos foram enviados a diversos países para colaborar com a implementação de ditaduras", declarou Bolsonaro à época. As falas estão registradas no acervo de discursos do Palácio do Planalto.

Bolsonaro também citou outro país que causa rejeição na direita, seu grupo político. "O socialismo está dando certo na Venezuela! Todos estão pobres e sem liberdade!", declarou o então presidente brasileiro em seu discurso de 2019.

Ele mencionou Cesare Battisti, que estava foragido no Brasil e foi entregue à Itália. Temas como esses animavam o eleitorado bolsonarista em território nacional.

O então presidente também citou em seu primeiro discurso na ONU o senador e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, que à época era seu ministro da Justiça. Depois, ambos brigaram e trocaram acusações - antes de se reconciliarem nas eleições de 2022.

"Há pouco, presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e parte do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sergio Moro, nosso atual ministro da Justiça e Segurança Pública", declarou Bolsonaro na Assembleia-Geral das Nações Unidas.

"A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas. A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família. Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo identidade mais básica e elementar, a biológica", disse o então presidente brasileiro em seu pronunciamento.

Em 2020, primeiro ano da pandemia de coronavírus, Bolsonaro reclamou na Assembleia-Geral da ONU do aumento nos preços dos ingredientes para produzir hidroxicloroquina. Tratava-se do remédio que o então presidente promovia como tratamento para a covid-19 sem respaldo científico.

Ele também disse que o Brasil era vítima de uma "brutal" campanha de desinformação sobre a preservação de Amazônia e Pantanal. Além disso, pediu apoio para um combate à "cristofobia". "O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base", declarou ao encerrar no pronunciamento.

O discurso de Jair Bolsonaro em 2021, o terceiro de seu governo na Assembleia Geral da ONU, foi o primeiro em que ele pediu uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Trata-se de uma pauta história do Brasil na política internacional.

Bolsonaro voltou a dizer que antes de seu governo o País estava "à beira do socialismo". E que naquele momento o Brasil tinha "um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo".

Além disso, o então presidente brasileiro fez uma menção disfarçada à cloroquina, chamando-a de "tratamento inicial" para o coronavírus. À época o mundo ainda lidava com mortandade em massa por causa da covid-19.

"Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial", disse na ocasião Jair Bolsonaro.

Em 2022, o discurso de Bolsonaro foi poucas semanas antes do primeiro turno da eleição presidencial. Ele promoveu seu governo e fez menos acenos à direita. O então candidato buscava reduzir sua rejeição fora desse grupo.

Ainda assim, falou contra a "ideologia de gênero" e mencionou "defesa do direito à vida desde a concepção", além de "direito à legítima defesa".

No final de seu discurso, proferiu um dos slogans que usou em sua campanha eleitoral. Disse que o povo brasileiro acreditava em "Deus, pátria, família e liberdade".