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Irã liberta cinco americanos após EUA desbloquearem bilhões em fundos do petróleo para Teerã

Republicanos dizem que liberar bilhões de fundos do petróleo corresponde ao pagamento de resgate e que estimularia Teerã a fazer mais reféns

Agência O Globo - 18/09/2023
Irã liberta cinco americanos após EUA desbloquearem bilhões em fundos do petróleo para Teerã

Cinco americanos que estavam presos no Irã obtiveram permissão de deixar o país nesta segunda-feira, anunciou o presidente americano, Joe Biden, depois de dois anos de negociações de alto risco em que Washington concordou em desbloquear US$ 6 bilhões (quase R$ 29 bilhões) em fundos do petróleo de Teerã e descartar acusações federais contra cinco iranianos acusados de violar sanções dos EUA.

O anúncio de que os americanos decolaram em um avião em Teerã um pouco antes das 9h (10h no horário de Brasília) ocorreu na véspera do início dos debates da Assembleia Geral da ONU, a que Biden e o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, comparecem nesta terça-feira em Nova York.

Libertados, os cinco americanos pousaram em Doha por volta das 11h40 (horário de Brasília), horas após os fundos, antes retidos pela Coreia do Sul em virtude das sanções americanas contra Teerã, terem sido depositados em seis contas iranianas em dois bancos do Catar, afirmou o presidente do Banco Central dos Irã, Mohamad Reza Farzin, à televisão estatal. Farzin afirmou que o país vai levar a Coreia do Sul à Justiça por ter bloqueado os fundos.

Os americanos — alguns dois quais ficaram na Prisão de Evin Prison, um dos centros de detenção mais notórios do Irã — foram trocados por dois dos cinco iranianos em Doha. Segundo autoridades americanas e a agência Tasnim, os outros três foram soltos, mas não desejam voltar para a República Islâmica.

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Em uma declaração, Biden disse que "cinco americanos inocentes que estavam presos no Irã estão finalmente voltando para casa", acrescentando que "em breve estarão reunidos com seus entes queridos — depois de passar por anos de agonia, incerteza e sofrimento".

A libertação foi um resultado crítico em um impasse de anos. Mas os termos do acordo, celebrado pela ONU, atraíram críticas intensas de republicanos que dizem que liberar bilhões de fundos do petróleo corresponde ao pagamento de resgate e que estimularia Teerã a fazer mais reféns.

O pacto também ocorre como parte de um esforço mais amplo do governo Biden de reduzir as tensões com o Irã, que aumentaram desde que o ex-presidente republicano Donald J. Trump abandonou o acordo nuclear de 2015, que impôs limites ao programa nuclear de Teerã. Os recursos do acordo da troca de presos, produto da venda de petróleo iraniano a Seul, haviam sido bloqueados depois que Washington abandonou o acordo, já que a medida representou o retorno das sanções financeiras contra o Irã.

A Casa Branca negou que o desbloqueio dos fundos iranianos seja o equivalente ao pagamento de resgate pelos detentos e afirmou que também não representa um "cheque em branco". Autoridades do governo também negaram que o acordo indicasse uma grande mudança na relação há muito tempo hostil entre os EUA e o Irã — os dois países têm uma disputa desde a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou um monarca pró-Ocidente.

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Assessores graduados de Biden dizem que sanções financeiras e monitoramento restrito evitarão que o Irã gaste o dinheiro em nada além de alimentos, remédios e outros insumos humanitários. Eles reconheceram, no entanto, que o acordo deve liberar para outros propósitos dinheiro que o Irã já está gastando em itens desse tipo. Paralelamente ao anúncio do acordo, Washington anunciou sanções contra o Ministério da Inteligência iraniano e contra o ex-presidente Mahmud Ahmadinejad.

O porta-voz da diplomacia iraniana afirmou que os recursos permitirão "comprar todos os produtos que não estão sob sanção", e não apenas comida e medicamentos.

Repercussão

Preso desde 2015 acusado de espionagem, o empresário americano Siamak Namazi, nascido em Teerã, agradeceu ao presidente americano por ignorar as pressões políticas internas e tomar decisões "difíceis": "Obrigado, presidente Biden, por colocar a vida dos cidadãos americanos acima da política", disse em um comunicado.

Outros prisioneiros americanos incluídos na troca são o ambientalista Morad Tahbaz e o empresário Emad Sharqi. Teerã não reconhece a dupla nacionalidade e considera que esses americanos são cidadãos iranianos.

A ONU mostrou-se esperançosa de que esse acordo possa significar uma diminuição das tensões entre os dois arquirrivais diplomáticos.

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"Estamos com muita esperança de que isso leve a uma maior cooperação e à diminuição das tensões", disse Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral António Gutteres.

Na semana passada, a agência oficial de notícias Irna revelou as identidades dos iranianos presos.

No grupo, os destaques são Reza Sarhangpour e Kambiz Attar Kashani, acusados de violarem as sanções americanas contra o Irã. Um terceiro preso, Kaveh Lotfolah Afrasiabi, foi detido em sua casa perto de Boston, em 2021, e acusado pela Justiça dos Estados Unidos de ser um agente secreto iraniano. Também foram incluídos na troca Mehrdad Moein Ansari e Amin Hasanzadeh, acusados de vínculos com as forças de segurança iranianas.

Entre os iranianos liberados, "dois retornarão ao Irã (Merhdad Moein Ansari e Reza Sarhangpour), um viajará para um terceiro país, devido à presença de sua família nesta nação, e os dois últimos permanecerão nos Estados Unidos", informou o porta-voz da diplomacia iraniana, Naser Kanani.

Biden tentou restabelecer o histórico acordo internacional de 2015 que resultou na suspensão das sanções contra o Irã, em troca de que Teerã limitasse o programa nuclear com finalidades civis. As negociações, no entanto, se encontram estagnadas (Com AFP e New York Times).