Dois dias depois de o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Kevin McCarthy, mandar abrir um inquérito de impeachment contra Joe Biden, o Departamento de Justiça americano denunciou nesta quinta-feira Hunter Biden, filho mais novo do presidente americano, de ter mentido sobre uso de drogas ao preencher um formulário para a compra de uma arma em 2018. Hunter ainda pode enfrentar outro processo por sonegação de impostos.

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A acusação contra o filho aumenta a pressão sobre o presidente, que já está em campanha para ser o candidato democrata à reeleição no ano que vem. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, é pouco provável que o democrata tenha seu mandato encurtado, mas há riscos de que o processo impacte a corrida eleitoral.

— Muitos dos [supostos] crimes foram cometidos pelo filho dele. Se realmente existiram, a vasta maioria deles ocorreu antes de ele se tornar presidente, portanto não podem ser base para um impeachment — analisa o professor titular da Universidade de Georgetown, Erick Langer.

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Além de concordar que os riscos de impeachment são mínimos, Michael Shifter, professor adjunto da Universidade George Washington, vê riscos também para o outro lado. Segundo ele, os republicanos podem “ir longe demais” e prejudicar o própria candidatura, que deve ser obtida pelo ex-presidente Donald Trump, favorito na corrida pela nomeação republicana.

— A menos que apareça alguma evidência de irregularidade, é altamente improvável [o impeachment]. Não haverá votos republicanos suficientes na Câmara, e os democratas controlam o Senado — explica Shifter.

'Um mundo de diferenças'

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Depois de se tornar o primeiro ex-ocupante do Salão Oval a ser denunciado criminalmente na História pelo suposto suborno de uma atriz pornô, Trump foi acusado judicialmente outras três vezes. Os quatro processos vão correr paralelamente à disputa pela vaga republicana na eleição de 2024. Langer prevê que os estrategistas de Trump vão tentar igualar as acusações à família Biden às denúncias contra o ex-presidente. Ele ressalta, no entanto, que os casos são bem diferentes.

— Impeachment é um processo político, e o ex-presidente Trump foi acusado de crimes dentro do sistema judicial americano. Ele foi denunciado por acusações que não estão diretamente ligadas à sua atuação política — pontua Langer.

Shifter defende que as situações de Biden e Trump são incomparáveis, com "um mundo de diferenças".

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— Trump enfrenta quatro denúncias, o que significa que um Grande Júri encontrou evidências suficientes para fazer acusações criminais. O impeachment contra Biden não é um procedimento judicial formal e não há evidência de má conduta criminal — afirma.

Mesmo com a distância entre os dois cenários, os analistas concordam que a pressão judicial sobre o filho pode deixar o presidente pessoalmente vulnerável, podendo afetar, pontua Langer, "a capacidade dele de ter vigor na campanha, porque vai desgastá-lo emocionalmente".

Com o risco de algum deslize em meio ao desgaste emocional, ambos os especialistas avaliam que Biden e a Casa Branca devem evitar ao máximo abordar o tema:

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— Acho que a Casa Branca está tentando esperar isso [a ameaça de impeachment] apenas desaparecer — afirma Langer, que aposta em um enfraquecimento natural do caso que, para ele, é a moeda de troca do presidente da Câmara para conseguir votos da ala radical do Partido Republicano. — Acredito que McCarthy vê a investigação para um impeachment como preferível politicamente do que o orçamento [do próximo ano fiscal] não ser aprovado — analisa.

A partir da orientação de McCarthy, os comitês da Câmara vão seguir na busca de provas de corrupção contra o presidente, agora com poder de requerer dados bancários da família e do próprio presidente, explica Shifter. Paralelamente, a justiça estará processando Hunter.

— Eles [deputados] vão ver se o que descobrirem lhes dá uma base sólida para prosseguir [com o impeachment] — diz o especialista.