Internacional

Ilha de Lampedusa duplica população após Itália receber recorde de 5 mil migrantes em um dia

Abrigo local, com capacidade para menos de 400 pessoas, está lotado e homen, mulheres e crianças são forçados a dormir ao ar livre em camas de plástico improvisadas

Agência O Globo - 14/09/2023
Ilha de Lampedusa duplica população após Itália receber recorde de 5 mil migrantes em um dia

A pequena ilha italiana de Lampedusa foi duramente pressionada na quinta-feira para lidar com a chegada de cerca de 7 mil migrantes des barcos vindos do Norte de África, o equivalente a toda a população local. Apenas na terça-feira, a Itália recebeu um recorde de 5 mil imigrantes em um único dia. O bom tempo favoreceu as chegadas.

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O abrigo local, com capacidade para menos de 400 pessoas, estava lotado de homens, mulheres e crianças nesta quinta-feira, todos forçados a dormir ao ar livre em camas de plástico improvisadas, muitos deles embrulhados em cobertores de sobrevivência.

As tensões eclodiram na quarta-feira, quando a Cruz Vermelha Italiana, que administra as instalações, distribuiu alimentos, forçando a polícia a intervir. Alguns jovens dirigiram-se então ao centro histórico da cidade de Lampedusa, onde um fotógrafo da AFP viu alguns comendo sorvete.

Muitos disseram que estavam com fome, mas poucos tinham dinheiro e alguns restaurantes os recusaram. Outros estabelecimentos lhes ofereciam comida de graça, ou moradores e turistas pagavam por ela.

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Quase 124 mil migrantes chegaram às costas italianas até agora este ano, 65.500 a mais que no mesmo período do ano passado. No entanto, os números ainda não são superiores aos de 2016, quando mais de 181 mil pessoas, incluindo muitos sírios que fugiram da guerra, chegaram ilegalmente à Europa.

Situação crítica

Localizada a cerca de 145 km da costa da Tunísia, Lampedusa é um dos pontos de parada dos migrantes que atravessam o Mediterrâneo. A maioria dos migrantes foi recolhida no mar pela guarda costeira, que os levou ao porto de Lampedusa.

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Mas muitos não vão tão longe. Mais de 2 mil pessoas morreram este ano na travessia entre o Norte de África e a Itália e Malta, segundo a agência de migração da ONU. A última vítima conhecida foi um bebê de cinco meses, que teria caído na água na quarta-feira como parte de um grupo que estava sendo trazido para a costa.

Durante anos, o centro de acolhimento de Lampedusa teve dificuldades em lidar com as chegadas. As organizações humanitárias indicaram falta de água, alimentos e cuidados médicos. Em junho, a Cruz Vermelha italiana assumiu a função, prometendo oferecer um acolhimento mais “digno”, mas admitiu esta semana que estava tendo dificuldades com o aumento das chegadas.

A organização informou que mais de 7 mil pessoas estiveram no local na manhã de quarta-feira, um número que levanta “questões de gestão”. Destas, cerca de 5 mil pessoas devem ser transferidas antes do final do dia para a Sicília, onde existem instalações maiores.

Lampedusa: Uma ilha entre extremos

— A situação é certamente complexa e estamos a tentar voltar gradualmente à normalidade — disse Francesca Basile, chefe de migração da Cruz Vermelha italiana. — Apesar da situação crítica, continuamos a tentar distribuir camas para evitar que as pessoas durmam ao ar livre.

O governo italiano de extrema direita destinou 45 milhões de euros (cerca de R$ 235 milhões) a Lampedusa para ajudar a ilha a gerir melhor a sua situação migratória. Mas a chefe do governo, Giorgia Meloni — eleita há um ano depois de prometer acabar com a migração em massa —, pede ajuda à União Europeia.