Internacional

Marrocos defende resposta a terremoto após críticas; total de mortos passa de 2,6 mil

Apesar de vários países terem oferecido ajuda, entre eles a França e os Estados Unidos, o governo marroquino só autorizou até agora a entrada de pessoal especializado de quatro nações

Agência O Globo - 11/09/2023
Marrocos defende resposta a terremoto após críticas; total de mortos passa de 2,6 mil

O governo do Marrocos afirmou que as autoridades responderam de forma eficiente ao terremoto que arrasou parte do país na sexta-feira, deixando até agora ao menos 2.681, em meio a uma série de críticas de que a reação à tragédia vem sendo lenta e descordenada. Nas primeiras declarações diretas de um oficial graduado, o porta-voz do governo, Mustapha Baitas, afirmou em um vídeo divulgado nas redes sociais que as autoridades marroquinas organizaram operações “rápidas e eficazes” de busca, salvamento e resgate. Três dias após o desastre, o rei marroquino, Mohamed VI, ainda não visitou as regiões atingidas pelo tremor, onde as esperanças de encontrar sobreviventes estre os escombros diminuem.

O porta-voz do governo falou depois que o primeiro-ministro marroquino, Aziz Ajanuch, participou de uma reunião de emergência do governo no domingo à tarde. No sábado, o premier também foi chamado ao Palácio real para um encontro com o monarca, que estava fora da capital Rabat quando o terremoto atingiu o país.

As equipes de resgate começaram a alcançar as vilas mais fortemente atingidas pelo tremor, localizadas em áreas remotas de montanhas, mas muitos outros assentamentos ainda esperam auxílio — algumas estradas na Cordilheira de Atlas, epicentro do terremoto a 71 km de Marrakesh, continuam bloqueadas desde o terremoto de sexta. O abalo sísmico foi o mais forte a atingir a região central do Marrocos, dentro de 500 km ao redor da cidade turística de Marrakech, em mais de 120 anos.

Muitos sobreviventes seguem sem energia ou contato telefônico, algo que alimenta a onda de críticas ao governo nas redes sociais. Em algumas áreas reduzidas a pó pelos tremores, os próprios moradores se mobilizam para coordenar esforços de socorro e auxiliar nas buscas. Em Marrakech, muitos foram para a fila doar sangue.

Na pequena localidade de Amizmiz, ao sul de Marrakecha e no pé da Cordilheira de Atlas, que fica na província de Al-Haouz, mais ambulâncias e equipes de emergência uniformizadas eram vistas nas ruas no domingo, e mais sobreviventes se abrigavam em tendas do que em estruturas improvisadas.

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Apesar de vários países terem oferecido ajuda, entre eles a França e os Estados Unidos, o governo marroquino só autorizou até agora a entrada de pessoal especializado do Reino Unido e da Espanha, cujas equipes já chegaram ao Marrocos, e do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

Uma equipe de 48 agentes da Unidade Militar de Emergências espanhola montou acampamento na entrada em Amizmiz. O grupo conta com quatro cães farejadores e utiliza pequenas câmeras para entrar nas pequenas cavidades entre os escombros, além de aparelhos para detectar presença humana. O embaixador britânico no Marrocos, Simon Martin, declarou nas redes sociais que 60 especialistas com equipamento e quatro cães treinados para buscas vão atuar em Marrakech.

A ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, negou que o Marrocos tenha recusado assistência francesa por causa das tensões diplomáticas entre os dois países. Segundo ela, cabe ao governo marroquino decidir o momento e o escopo de qualquer ajuda estrangeira.

Corrida contra o tempo

O número provisório de mortos pelo terremoto subiu para 2.681, anunciou o Ministério do Interior. O tremor também deixou 2.501 feridos, segundo a mesma fonte. Um balanço anterior divulgado nesta segunda informou 2.497 mortos e 2.476 feridos.

— Estamos coletando alimentos para ajudar as áreas afetadas pelo tremor — declarou à AFP Ibrahim Nachit, da organização Draw Smile, que também prevê o envio de uma "caravana médica" aos locais mais necessitados.

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A Cruz Vermelha Internacional fez um alerta sobre a importância da ajuda humanitária que, segundo a organização, pode ser necessária "durante meses ou inclusive anos". Segundo o chefe da equipe de bombeiros espanhola, Annika Coll, que atua em Talat Nyaqoub e Amizmiz, os feridos precisam ser transportados de helicóptero dessas localizadas pelo fato de serem remotas e de difícil acesso.

— É difícil dizer se as probabilidades de encontrar sobreviventes diminuíram porque, na Turquia [onde houve um terremoto violento em fevereiro] por exemplo, conseguimos encontrar uma mulher viva após seis dias e meio. Sempre há esperança — declarou o espanhol.

‘A vida acabou aqui’

Em outra localidade arrasada, um morador resumiu o sentimento dos que vivem ali. Para ele, “o povoado está morto". Tikht, que está a poucos quilômetros do epicentro do tremor e onde viviam cerca de 100 famílias, é agora um amontoado de restos de madeira e alvenaria.

— A vida acabou aqui — lamenta Mohssin Aksum, de 33 anos.

Assim como a maioria dos municípios mais atingidos, Tikht era uma aldeia com muitas casas construídas segundo um método tradicional que usa uma mistura de pedra, madeira e argamassa de adobe.

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— Não é algo em que as pessoas daqui pensem quando constroem as suas casas — explicou Abdelrahman Edjal, um estudante de 23 anos que perdeu a maior parte de sua família na catástrofe.

No caminho para a localidade, é possível ver tendas amarelas erguidas como abrigos de emergência. Agentes da Defesa Civil local transportam macas de um caminhão militar para as barracas. ONGs também operam na região, avaliando as necessidades de abrigo, alimentos e água dos habitantes que permaneceram em povoados como Tikht. (Com AFP, New York Times e El País)