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Terremoto no Marrocos: estradas bloqueadas e lentidão do governo em pedir ajuda prejudicam resgates

Sismo de magnitude 6,8 é o mais forte a atingir o país em 120 anos e já deixou mais de 2 mil vítimas

Agência O Globo - 10/09/2023
Terremoto no Marrocos: estradas bloqueadas e lentidão do governo em pedir ajuda prejudicam resgates
Terremoto de magnitude 5,5 atinge leste do país e deixa ao menos 21 feridos - Foto: Reprodução

Dois dias depois do maior abalo sísmico em 120 anos no Marrocos, a lentidão das equipes de resgate para chegar às áreas mais remotas atingidas pode ter um papel crucial na busca por sobreviventes que ainda estão sob os escombros. Até o momento, mais de 2 mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas, segundo último balanço oficial. A tragédia provocou forte comoção internacional e líderes de países como Espanha, França e Estados Unidos prontamente ofereceram ajuda humanitária. No entanto, em uma postura pouco comum nesse tipo de caso, o governo marroquino tem preferido lidar do seu próprio jeito.

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O silêncio do líder do Marrocos, o rei Mohammed VI, também foi sentido. Mais de 12 horas após o sismo, o monarca não havia feito qualquer tipo de pronunciamento. Quando finalmente falou, não foi à população. Mohammed VI deu uma breve declaração afirmando ter instruído as Forças Armadas do país a contribuir com os esforços de resgate. A fala, porém, não deixou claro se o governo aceitaria ajudas externas e apoio internacional.

Na noite de sábado para domingo, milhares de marroquinos dormiram nas ruas ao relento após suas casas terem sido destruídas pelo sismo de magnitude 6,8 que atingiu o país na noite de sexta. Os vilarejos mais afetados ficam na Cordilheira do Atlas, uma remota região montanhosa onde as poucas estradas de acessos estão bloqueadas por escombros e os serviços de telefonia e eletricidade foram interrompidos. Construções a base de tijolos de barro fazem parte da arquitetura tradicional do local, um modelo altamente vulnerável a tremores e chuvas fortes.

Nas áreas rurais, que incluem a província de al-Haouz, onde se concentram cerca de metade das vítimas, os marroquinos escalam os desfiladeiros entre as casas desmoronadas para resgatar corpos de vítimas. Em algumas áreas montanhosas, a própria população tem buscado sobreviventes entre os escombros enquanto as equipes de resgate não chegam.

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Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, mais de 300 mil civis que estavam na turística Marrakech, maior cidade do sul do país, e em seus arredores foram afetados pelo terremoto. "Muitas famílias estão presas sob os escombros de suas casas, e também foram relatados danos em partes da Medina de Marrakesh, um Patrimônio Mundial da Unesco", afirma em comunicado.

Surgiram relatos nas redes sociais de que alguns vilarejos na zona do terremoto ainda não haviam recebido nenhuma ajuda, dois dias após o tremor. Um homem que disse estar se voluntariando como socorrista na província de Taroudant, a sudoeste do epicentro, implorou por mais assistência em um vídeo no Instagram.

— Não temos comida nem água. Ainda há pessoas no subsolo. Algumas delas ainda estão vivas — disse ele, acrescentando: — Há alguns vilarejos que não conseguimos alcançar.

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Na tarde de sábado, o governo marroquino disse em um comunicado que havia restaurado o acesso a seis estradas, mas que 14 outras ainda estavam bloqueadas. Segundo Sami Fakhouri, chefe interino no Marrocos da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, os bloqueios têm dificuldade a resposta humanitária.

— A acessibilidade será difícil e tornará os esforços de resgate mais desafiadores — disse Fakhouri.

Vários governos e grupos de caridade, incluindo os Médicos Sem Fronteiras, também se ofereceram para enviar equipes de ajuda e resgate. Algumas equipes de socorristas voluntários chegaram ao Marrocos, mas outras associações expressaram frustração com a falta de acesso. Arnaud Fraisse, fundador da Secouristes Sans Frontières, disse que o país não havia dado sinal verde para sua organização.

— O governo marroquino está bloqueando completamente as equipes de resgate — disse ele à France Inter Radio. — Não entendemos.

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A Secouristes Sans Frontières, que já ajudou nos esforços de resgate em outros terremotos, incluindo o que atingiu a Turquia e a Síria em fevereiro, disse que estava equipada com câmeras e dispositivos de escuta para ajudar a localizar as vítimas presas sob os escombros.

Autoridades da Turquia, cujo último grande sismo deixou mais de 50 mil mortos, disseram que o país estava pronto para enviar 265 trabalhadores humanitários ao Marrocos, além de mil barracas. Outros países, incluindo os Estados Unidos, a França e Taiwan, também prometeram ajuda humanitária. Mas o Marrocos precisaria primeiro solicitar formalmente a assistência, uma etapa necessária para que as equipes estrangeiras possam ser enviadas.

A Autoridade de Gestão de Desastres e Emergências da Turquia, uma organização governamental, disse em uma mensagem publicada no X, antigo Twitter, que seu pessoal "está a postos para ser enviado à região no caso de um pedido de ajuda internacional do Marrocos".

Em um sinal da escala do desastre, até mesmo países com um histórico de relações conflituosas com o Marrocos se comprometeram a prestar assistência.

Israel, que só normalizou as relações com o Marrocos em 2020, ofereceu ajuda, e a Argélia, que cortou relações com seu vizinho há dois anos, disse que estava pronta para reabrir seu espaço aéreo para voos humanitários e médicos para o Marrocos.

A Espanha enviou uma aeronave com 56 socorristas e quatro animais de resgate ao país, após ser uma das únicas nações a receber uma solicitação formal do reino, informou neste domingo o Ministério da Defesa francês. Os socorristas fazem parte da Unidade Militar de Emergências (UME) espanhola, um corpo das Forças Armadas criado para intervir em situações de emergência como incêndios florestais, inundações e sismos.

O Catar também foi autorizado pelo governo marroquino e enviou veículos e equipamentos especializados para ajudar nos esforços de busca e resgate, informou a mídia estatal, mas alguns países ainda estavam esperando que o Marrocos solicitasse ajuda formalmente, como a França.

O presidente francês Emmanuel Macron disse que seu governo estava em contato com as autoridades marroquinas e estava pronto para ajudar.

— No momento, no segundo em que eles pedirem, nós nos mobilizaremos — disse ele à margem da cúpula do G20 na Índia (Com New York Times e AFP).