Brasil
Ecoturismo se reinventa de Norte a Sul do Brasil
Novidades, que incluem refeição a quatro pendurados a 90 metros de altura, conquistam até a atriz americana Viola Davis
Tomar um vinho a dois no friozinho da Serra Gaúcha é um programa romântico que ganha ares de aventura se o casal estiver “pendurado” a 90 metros de altura com o cenário de uma cachoeira em Caxias do Sul. A atração vem rodando as redes e impressionou até a atriz americana Viola Davis, que repostou a imagem. Mas essa é só uma das opções de tirar o fôlego do cardápio renovado no campo do ecoturismo no país, eleito mês passado como o melhor destino do mundo no segmento pela revista Forbes. De Norte a Sul, tem de tudo. No outro extremo do Brasil, há de expedição de 16 dias rumo ao topo do Pico da Neblina, no Amazonas, a acampamentos de luxo no meio da floresta.
Operadores do setor de ecoturismo, que conta com cerca de duas mil empresas no país, destacam que o aumento da procura pelo lazer ao ar livre e a descoberta de novos e inusitados passeios resultaram num boom recente.
— No período pós-pandemia, houve crescimento bem significativo de demanda, principalmente de turistas brasileiros — afirma a venezuelana Vanessa Mariño, que há 25 anos trabalha com ecoturismo na Amazônia. — Há muitas Amazônias dentro da Amazônia, com um leque de experiências que nunca acabam. Há desde o público que vem com a família para ficar na selva, mas com conforto, até o que encara a expedição ao Pico da Neblina, ponto alto de aventura na região.
A diversidade de destinos amazônicos ilustra o potencial que nem sempre é aproveitado. Mariño chegou a Manaus como mochileira e se assentou em Presidente Figueiredo, criando sua família praticamente dentro da floresta. Aos poucos, sua casa começou a receber viajantes, e ela acabou fundando o Amazon Emotions, que oferece hospedagem e passeios:
— Todo mundo trabalha com turismo no Rio Negro. Mas Presidente Figueiredo é incrível, com cachoeiras, nascentes e vivências culturais.
Nas trilhas, de curta ou longa duração, o turista tem a companhia de um biólogo, que identifica animais pelo caminho. Uma novidade é o “glamping”, um acampamento de luxo. No último réveillon, duas famílias da Suíça contrataram o serviço às margens do Rio Negro.
A Amazon Emotions é uma das três operadoras credenciadas para expedições ao Pico da Neblina, o ponto mais alto do país. O roteiro dura 16 dias, com oito de caminhada no território ianomâmi, cuja associação fez o plano de visitação junto ao ICMBio e à Funai.
Outro chamariz em Presidente Figueiredo é o circuito Mutum, com cachoeira e piscinas naturais de sete metros de profundidade. São sete “jacuzzis” formadas ao longo de milhares de anos pela erosão. Em vídeos virais, pessoas mergulham em uma piscina e saem na seguinte. A manobra é um truque de edição. Mas o passeio, um sucesso.
O complexo fica numa Reserva Particular do Patrimônio Natural e só foi aberto ao turismo há 10 anos. Por isso, há encantos ainda inexplorados, explica Mario Sergio, da agência Figueiredo Turismo:
— Outro dia encontrei uma gruta, que não era conhecida, com pegadas de onça. Mutum está sendo muito mais buscado nos últimos meses, principalmente por causa das redes — diz o guia, que inclui nos roteiros o mergulho no “rio vermelho”, outra nova atração na região, assim conhecida pela coloração da água.
Sul por outros ângulos
Em Caxias do Sul, fica a aventura da vez nas redes, na Cascata Sepultura, que acabou impulsionada por Viola Davis. A ideia da mesa de piquenique suspensa para quatro (há a opção de deitar também numa rede nos ares) veio com a montagem da estrutura para bungee jumping, conta Ronaldo Garbin, da Rota Aventura.
— Estávamos colocando os cabos e pensamos que seria bom ter uma rede para descansar. Depois, imaginamos uma mesa para um lanche — explica Garbin, que recebe de 200 a 300 pessoas por mês na cascata e abrirá mês que vem um hostel. — Quando comecei, o principal atrativo aqui era o rafting. Havia preconceito contra turismo de aventura por julgarem como perigoso.
Essas experiências de turismo de tirar o fôlego também podem se associar a roteiros gastronômicos. Esse é o conceito do Parque Olivas de Gramado, inaugurado há quase cinco anos numa das cidades mais turísticas do país, também no Rio Grande do Sul. Lá, a visita a plantações para fabricação de azeite de oliva e degustações harmonizadas ganham um quê a mais com a pedalada na tirolesa: a atividade é feita em bicicletas sobre cabos de aço a 23 metros de altura. A tecnologia, recente, foi criada na própria Serra Gaúcha, diz André Bertolucci, diretor do parque:
— O pedal proporciona uma conexão com a natureza, com vista para os cânions e para o olival — diz ele, que vê uma mudança de perfil no turismo de Gramado. — Aqui já foi a cidade dos móveis, da malha, do chocolate, do festival de cinema e do Natal Luz. Temos bons hotéis e restaurantes, mas faltava entretenimento para todas as idades.
Paraíso das escaladas
Uma região hoje buscada por quem gosta de sair do lugar-comum é a Serra do Cipó, em Minas Gerais. Famoso por suas mais de 200 cachoeiras, o parque nacional tem mais de 17 mil quilômetros, sendo que o Morro da Pedreira, uma formação rochosa de calcário, se tornou o oásis dos escaladores. Este foi o quarto ano em que a comunidade de cerca de 150 atletas, com o apoio da prefeitura de Santana do Riacho, organizou a abertura da temporada de escalada.
— O pico já era conhecido, mas deu um salto com a abertura de muitas vias de escalada. Em 2015, eram 350 vias, e hoje já são mil — conta Debora De Mendonça Garcia, que fundou o Climb Cipó em 2019. — Além da escalada, temos canoagem, highline, trecking para cachoeira, mountain bike, quadriciclo, passeios a cavalo e rapel.
No mês que vem, o Brasil participará do encontro mundial de turismo de aventura, no Japão, e em sua apresentação a Embratur vai destacar roteiros como os mergulhos recreativos, rotas de cicloturismo no Sul, os cruzeiros fluviais no Pantanal e na Amazônia, a observação de baleias, as expedições ao Pico da Neblina e as experiências nos parques nacionais, como Chapada dos Veadeiros, Lençóis Maranhenses e Foz do Iguaçu.
— Vamos focar na divulgação de experiências que o turista pode encontrar no Brasil — explica Leonardo Persi, coordenador de Turismo de Aventura e Ecoturismo da Embratur. — O mais importante é conectar essas experiências com operadores internacionais.
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