Internacional

Com ausências de Xi e Putin, Biden e Modi querem usar cúpula de G20 para projetar liderança global

Pauta da reunião de líderes deve atravessar temas como meio ambiente e mudanças climáticas, desenvolvimento econômico e disputas geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e as tensões no Indo-Pacífico

Agência O Globo - 08/09/2023
Com ausências de Xi e Putin, Biden e Modi querem usar cúpula de G20 para projetar liderança global
Xi Jinping - Foto: Arquivo

Líderes mundiais se reúnem, a partir desta sexta-feira, em Nova Délhi, para um encontro de cúpula do G20 esvaziado pelas ausências de Xi Jinping e Vladimir Putin. Com as mudanças climáticas e a guerra na Ucrânia em pauta, a expectativa é que o presidente americano, Joe Biden, seja o centro das atenções ao apresentar os EUA como liderança estratégica e econômica, em contraposição a China e Rússia, enquanto o premier indiano, Narendra Modi, espera projetar os sucessos recentes da Índia e reforçar sua posição internacional — e sua imagem internamente.

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Aproveitando as ausências de Xi e Putin, Biden desembarca na capital indiana para projetar as pretensões globais americanas, em oposição a Pequim e Moscou. A principal proposta deve ser a promessa de até US$ 200 bilhões (R$ 998 bilhões) em novos fundos para direcionar problemas como a crise climática, segurança alimentar, saúde pública e outras necessidades de infraestrutura em países em desenvolvimento, através de instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial, alavancadas por um menor investimento americano.

A iniciativa é uma resposta liderada pelos EUA ao projeto chinês do Cinturão e Rota, também apelidado de Nova Rota da Seda, que concede empréstimos aos países mais pobres para a construção de portos, linhas ferroviárias e redes de telecomunicações, um empreendimento que expandiu a influência de Pequim em partes do mundo que sua influência pouco chegava. Embora o plano de Biden represente apenas uma fração dos investimentos chineses nos últimos anos, a avaliação nos EUA é de que ele ofereça uma alternativa à presença de Pequim como um credor onipresente.

O presidente americano também espera, diante de líderes mundiais de nações expressivas, obter um alinhamento em questões como a condenação da guerra na Ucrânia e a contenção da crescente atividade da China no Indo-Pacífico — questões que não devem passar com facilidade em um fórum multilateral com interesses divergentes.

Tanto Xi quanto Putin fizeram o possível para diminuir a importância do encontro na Índia. Com uma disputa aberta na fronteira indiana, Pequim antecipou durante a semana que o chefe da delegação do país no encontro seria o primeiro-ministro Li Qiang. Enquanto os representantes de governo desembarcavam em Nova Délhi, Xi se preparava para receber Nicolás Maduro, um de seus aliados mais isolados internacionalmente — em uma agenda com um potencial de conflito, discordância e embaraços muito menor do que o G20.

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O representante de Moscou na conferência da capital indiana será o ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov, que já desembarcou no país asiático. Lavrov também foi o escolhido por Putin para representá-lo na cúpula do Brics, no mês passado, quando o presidente não viajou para evitar o constrangimento por um mandado de prisão em aberto pelo Tribunal Penal Internacional, que poderia forçar agências sul-africanas, que sediaram o evento, ordenarem a detenção do líder russo. Ao contrário da reunião em Johannesburgo, Putin não deve fazer nenhum pronunciamento em vídeo.

Embora os presidentes virem as costas para o encontro, as retóricas diplomáticas de Pequim e de Moscou garantem que os países participarão de forma ativa do fórum. A chancelaria chinesa disse que sua delegação pedirá ao grupo que "reforce a unidade e a cooperação, trabalhando juntos para combater os desafios econômicos e de desenvolvimento global". O ministério russo afirmou, em comunicado, estar trabalhando "em estreita colaboração com todos os países do G20" para que os problemas humanitários e econômicos do mundo não sejam explicados "apenas através do conflito na Ucrânia".

Em paralelo, um Narendra Modi cada vez mais dominante na Índia planejou o evento para transformá-lo em uma afirmação da presença indiana no cenário mundial, partindo da visão de que pode constituir uma espécie de terceira via, alternativa aos EUA e à China, capaz de construir o caminho para alcançar seus interesses, desenvolver sua economia e ampliar seu papel como 'player' global.

Cartazes estampados com a imagem de Modi foram espalhados por todos os cantos de Nova Délhi, em uma associação clara do premier ao sucesso internacional do país. O slogan escolhido para as peças publicitárias foi: Uma Terra, Uma Família, Um Futuro. O governo também declarou um feriado nacional de três dias durante a reunião.

Em declarações anteriores à chegada dos representantes internacionais, o premier indiano sinalizou que deve transitar por pautas como meio ambiente e desenvolvimento dos países emergentes para se projetar. Modi propôs, nos últimos dias, a inclusão da União Africana como membro permanente do grupo e pediu aos líderes do G20 para auxiliar "financeira e tecnologicamente" os países em desenvolvimento na luta contra a mudança climática.

(Com NYT, AFP e Bloomberg)