Internacional

Rússia volta a ser convidada para cerimônia do Nobel, e parlamentares suecos prometem boicote

Fundação que organiza o prêmio também chamou embaixadores da Bielorrússia e do Irã, que ficaram de fora do evento em 2022 devido a questões humanitárias

Agência O Globo - 01/09/2023
Rússia volta a ser convidada para cerimônia do Nobel, e parlamentares suecos prometem boicote
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Embaixadores da Rússia e da Bielorrússia foram convidados para a cerimônia do Prêmio Nobel deste ano, após terem sido excluídos da lista em 2022 devido à invasão da Ucrânia, informou a Fundação Nobel nesta sexta-feira. O Irã também foi chamado para o evento, que acontece em dezembro, na Suécia, após ser deixado de fora da edição do ano passado.

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Em uma declaração na quinta-feira, Vidar Helgesen, o diretor executivo da fundação, que administra os prêmios anuais, disse que a decisão tinha o objetivo de reduzir as barreiras entre Estados e grupos em um momento de crescente divisão geopolítica.

"Está claro que o mundo está cada vez mais dividido em esferas, onde o diálogo entre aqueles com pontos de vista diferentes está sendo reduzido", declarou, acrescentando que os Prêmios Nobel "representam o oposto da polarização, do populismo e do nacionalismo".

Nem todos ficaram satisfeitos com a decisão e vários congressistas e lideranças políticas da Suécia disseram nesta sexta-feira que boicotarão o evento.

O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, disse à agência de notícias sueca TT que não teria permitido a participação da Rússia se fosse sua escolha.

— Para isolar a Rússia de todas as formas possíveis, militarmente, economicamente, é necessário — declarou, sem informar se iria ou não à cerimônia de premiação do Nobel.

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Outros foram mais diretos. Muharrem Demirok, líder do pequeno partido de oposição da Suécia, o Partido de Centro, disse que estava ansioso para participar da cerimônia, “mas enquanto a Rússia estiver travando uma guerra contra a Ucrânia, não posso participar da mesma festa que o embaixador deles”.

Märta Stenevi, do Partido Verde, concordou, dizendo que "não há nada para comemorar junto com o embaixador da Rússia". O ministro do trabalho da Suécia, Johan Pehrson, chamou a decisão de "extremamente injusta", e Karin Karlsbro, membro sueco do Parlamento Europeu, de "extremamente inapropriada".

— A decisão prejudica a unidade europeia contra a invasão da Ucrânia pela Rússia — afirmou Karlsbro em uma entrevista à rádio sueca.

Os vencedores do prêmio Nobel deste ano serão anunciados no início de outubro.

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A Fundação Nobel concede prêmios todos os anos nas áreas de física, química, fisiologia ou medicina, economia, literatura e paz. No ano passado, embora os diplomatas russos e bielorrussos não tenham sido convidados para a cerimônia, o Prêmio da Paz foi concedido à Memorial, uma organização russa de direitos humanos, e a Ales Bialiatski, um ativista bielorrusso, juntamente com o Centro de Liberdades Civis da Ucrânia.

Na cerimônia, Berit Reiss-Andersen, presidente da Comissão Norueguesa do Nobel, que seleciona os ganhadores do Prêmio da Paz, disse que as escolhas do ano passado tinham o objetivo de sinalizar que a guerra na Ucrânia precisa acabar.

— Às vezes, um esforço pela paz está na sociedade civil e não apenas nas ambições do Estado — comentou Reiss-Andersen na ocasião.

Os representantes iranianos foram desconvidados no ano passado após a brutal repressão de Teerã aos protestos que eclodiram depois que Mahsa Amini, uma mulher curda, foi presa pela polícia de moralidade do Irã sob a acusação de violar as regras conservadoras do código de vestimenta do país e morreu sob custódia. As manifestações logo extrapolaram para alvos como o regime clerical e queixas incluindo corrupção, crise econômica e restrições sociais e políticas.

Na repressão que se seguiu, as forças de segurança prenderam milhares de manifestantes e mataram centenas, de acordo com o Iran Human Rights, um grupo com sede na Noruega, e as Nações Unidas. Pelo menos sete foram executados.

Embora as manifestações tenham se acalmado em grande parte, as autoridades continuam a assediar ou deter pessoas, inclusive parentes de manifestantes que foram mortos, em um esforço para silenciá-los antes do aniversário dos protestos neste mês. (Com The New York Times)