Internacional
Exército do Gabão derruba presidente e anuncia general como sucessor em mais um golpe de Estado na região
General Brice Oligui Nguema, chefe da Guarda Presidencial, foi anunciado como novo responsável pelo governo
Militares do Gabão, país localizado na costa atlântica da África, derrubaram o presidente Ali Bongo Ondimba e anunciaram o general Brice Oligui Nguema, chefe da guarda presidencial, como novo chefe de Estado — no mais recente golpe de Estado na região.
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Os militares apareceram em uma transmissão da TV estatal. Soldados podiam ser ouvidos ao fundo gritando "Oligui presidente". Durante a transmissão, ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas na capital, Libreville.
Bongo, o presidente deposto, está em prisão domiciliar, de acordo com o Exército. Noureddin Bongo Valentin, filho e colaborador próximo do presidente deposto; Ian Ghislain Ngoulou, chefe de Gabinete; e outros responsáveis do governo, bem como os números um e dois do Partido Democrático Gabonês (PDG) de Bongo foram detidos, anunciou um coronel do Exército, que leu na madrugada um comunicado anunciando que os militares estavam "pondo fim ao regime".
— Eles foram presos por alta traição contra instituições do Estado, desvio maciço de fundos públicos, desvio financeiro internacional em uma gangue organizada, corrupção ativa e tráfico de drogas — disse o coronel.
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Horas antes do anúncio da tomada do poder, o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) havia divulgado, na TV estatal, sem anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais, que davam a vitória para Ali Bongo Ondimba, com 64,27% dos votos, contra 30,77% do principal rival, Albert Ondo Ossa.
Denúncias de fraude e toque de recolher
O pleito foi altamente questionado pela oposição, que alega fraude. A família Bongo governa o país desde 1967: primeiro foi Omar Bongo que se manteve na Presidência por 42 anos, até sua morte, em 2009. Ali Bongo Omdimba, de 64 anos, substituiu seu pai e assumiu o poder. Antes, foi ministro da Defesa, de 1999 a 2009.
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No dia da votação, duas horas antes do fechamento das urnas, os principais partidos da oposição gabonesa denunciaram uma fraude eleitoral e passaram a exigir que a vitória de Ondo Ossa, antigo ministro e professor universitário, fosse reconhecida.
Em meio à tensão, Ali Bongo cortou as conexões de internet no sábado e impôs toque de recolher obrigatório. Horas após o anúncio do golpe, as conexões de internet foram restabelecidas.
As preocupações com a transparência da votação aumentaram devido à ausência de observadores internacionais e à suspensão de transmissões estrangeiras.
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No comunicado, os militares anunciaram a anulação das eleições e a dissolução de “todas as instituições” do país. Depois de alertarem que uma “deterioração contínua da coesão social” ameaça “levar o país ao caos”, indicaram que “decidiram defender a paz pondo fim ao atual regime”. É o sétimo golpe de Estado no continente nos últimos três anos.
— Para isso, as eleições de 26 de agosto são anuladas e os resultados invalidados — anunciou um dos militares que falava em nome do grupo. — Todas as instituições da República foram dissolvidas: o governo, o Senado, a Assembleia Nacional e o Tribunal Constitucional.
Os militares, que afirmaram falar em nome de uma “Comissão para a Transição e Restauração das Instituições”, anunciaram também que as fronteiras do país permanecerão “fechadas até novo aviso”.
— Apelamos à população a manter a calma e a serenidade e reafirmamos o nosso compromisso de respeitar os compromissos do Gabão para com a comunidade internacional — disse o porta-voz.
Nas ruas de Libreville, moradores dançaram e comemoraram o golpe. Num vídeo, é possível ver pessoas gritando “libertadas!” e agitando a bandeira do Gabão, ao lado de veículos militares.
Reação internacional
A reação internacional foi rápida. China pediu a “garantia de segurança de Ali Bongo”, enquanto a França, ex-potência colonial, “condenou o golpe militar em curso”. A Rússia, que tem aumentado a influência na região, expressou sua “profunda preocupação”.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse que a eventual confirmação do golpe de Estado no Gabão "aumentará a instabilidade" em toda a região central da África.
— A notícia é confusa. Se isto se confirmar, é mais um golpe militar que aumenta a instabilidade em toda a região — declarou Borrell, ao chegar nesta quarta-feira a uma reunião de ministros da Defesa da UE, em Toledo, na Espanha. — Toda a área, começando pela República Centro-Africana, depois Mali, depois Burkina Faso, agora Níger, talvez Gabão, vive uma situação muito difícil.
Família governa país há décadas
O Gabão fica localizado no oeste da África, vizinho da República do Congo, da Guiné Equatorial e de Camarões. O país tem uma população de cerca de 2 milhões de habitantes e se tornou independe da França em 1960. Desde 1967, a família Bongo governa o país com mão-de-ferro.
Em 2016, o edifício do Parlamento foi incendiado quando eclodiram violentos protestos de rua contra a contestada reeleição de Bongo para o seu segundo mandato. À época, o governo desligou o acesso à internet por vários dias.
Em 2019, um grupo de militares tomou a rádio e TV estatal para anunciar um golpe de Estado. A tentativa de golpe durou menos de uma semana. Dois soldados foram mortos e oito oficiais militares foram presos.
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