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Exército do Gabão derruba presidente e anuncia general como sucessor em mais um golpe de Estado na região

General Brice Oligui Nguema, chefe da Guarda Presidencial, foi anunciado como novo responsável pelo governo

Agência O Globo - 30/08/2023
Exército do Gabão derruba presidente e anuncia general como sucessor em mais um golpe de Estado na região

Militares do Gabão, país localizado na costa atlântica da África, derrubaram o presidente Ali Bongo Ondimba e anunciaram o general Brice Oligui Nguema, chefe da guarda presidencial, como novo chefe de Estado — no mais recente golpe de Estado na região.

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Os militares apareceram em uma transmissão da TV estatal. Soldados podiam ser ouvidos ao fundo gritando "Oligui presidente". Durante a transmissão, ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas na capital, Libreville.

Bongo, o presidente deposto, está em prisão domiciliar, de acordo com o Exército. Noureddin Bongo Valentin, filho e colaborador próximo do presidente deposto; Ian Ghislain Ngoulou, chefe de Gabinete; e outros responsáveis ​​do governo, bem como os números um e dois do Partido Democrático Gabonês (PDG) de Bongo foram detidos, anunciou um coronel do Exército, que leu na madrugada um comunicado anunciando que os militares estavam "pondo fim ao regime".

— Eles foram presos por alta traição contra instituições do Estado, desvio maciço de fundos públicos, desvio financeiro internacional em uma gangue organizada, corrupção ativa e tráfico de drogas — disse o coronel.

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Horas antes do anúncio da tomada do poder, o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) havia divulgado, na TV estatal, sem anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais, que davam a vitória para Ali Bongo Ondimba, com 64,27% dos votos, contra 30,77% do principal rival, Albert Ondo Ossa.

Denúncias de fraude e toque de recolher

O pleito foi altamente questionado pela oposição, que alega fraude. A família Bongo governa o país desde 1967: primeiro foi Omar Bongo que se manteve na Presidência por 42 anos, até sua morte, em 2009. Ali Bongo Omdimba, de 64 anos, substituiu seu pai e assumiu o poder. Antes, foi ministro da Defesa, de 1999 a 2009.

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No dia da votação, duas horas antes do fechamento das urnas, os principais partidos da oposição gabonesa denunciaram uma fraude eleitoral e passaram a exigir que a vitória de Ondo Ossa, antigo ministro e professor universitário, fosse reconhecida.

Em meio à tensão, Ali Bongo cortou as conexões de internet no sábado e impôs toque de recolher obrigatório. Horas após o anúncio do golpe, as conexões de internet foram restabelecidas.

As preocupações com a transparência da votação aumentaram devido à ausência de observadores internacionais e à suspensão de transmissões estrangeiras.

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No comunicado, os militares anunciaram a anulação das eleições e a dissolução de “todas as instituições” do país. Depois de alertarem que uma “deterioração contínua da coesão social” ameaça “levar o país ao caos”, indicaram que “decidiram defender a paz pondo fim ao atual regime”. É o sétimo golpe de Estado no continente nos últimos três anos.

 — Para isso, as eleições de 26 de agosto são anuladas e os resultados invalidados — anunciou um dos militares que falava em nome do grupo. — Todas as instituições da República foram dissolvidas: o governo, o Senado, a Assembleia Nacional e o Tribunal Constitucional.

Os militares, que afirmaram falar em nome de uma “Comissão para a Transição e Restauração das Instituições”, anunciaram também que as fronteiras do país permanecerão “fechadas até novo aviso”.

— Apelamos à população a manter a calma e a serenidade e reafirmamos o nosso compromisso de respeitar os compromissos do Gabão para com a comunidade internacional — disse o porta-voz.

Nas ruas de Libreville, moradores dançaram e comemoraram o golpe. Num vídeo, é possível ver pessoas gritando “libertadas!” e agitando a bandeira do Gabão, ao lado de veículos militares.

Reação internacional

A reação internacional foi rápida. China pediu a “garantia de segurança de Ali Bongo”, enquanto a França, ex-potência colonial, “condenou o golpe militar em curso”. A Rússia, que tem aumentado a influência na região, expressou sua “profunda preocupação”.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse que a eventual confirmação do golpe de Estado no Gabão "aumentará a instabilidade" em toda a região central da África.

— A notícia é confusa. Se isto se confirmar, é mais um golpe militar que aumenta a instabilidade em toda a região — declarou Borrell, ao chegar nesta quarta-feira a uma reunião de ministros da Defesa da UE, em Toledo, na Espanha. — Toda a área, começando pela República Centro-Africana, depois Mali, depois Burkina Faso, agora Níger, talvez Gabão, vive uma situação muito difícil.

Família governa país há décadas

O Gabão fica localizado no oeste da África, vizinho da República do Congo, da Guiné Equatorial e de Camarões. O país tem uma população de cerca de 2 milhões de habitantes e se tornou independe da França em 1960. Desde 1967, a família Bongo governa o país com mão-de-ferro.

Em 2016, o edifício do Parlamento foi incendiado quando eclodiram violentos protestos de rua contra a contestada reeleição de Bongo para o seu segundo mandato. À época, o governo desligou o acesso à internet por vários dias.

Em 2019, um grupo de militares tomou a rádio e TV estatal para anunciar um golpe de Estado. A tentativa de golpe durou menos de uma semana. Dois soldados foram mortos e oito oficiais militares foram presos.