Internacional

Depois da 'prisão flutuante', Reino Unido agora planeja pulseira com GPS para controlar imigrantes

Fila de solicitantes de asilo atingiu a marca recorde de 175 mil em julho apesar do combate à imigração ser a principal promessa do governo do primeiro-ministro Rishi Sunak

Agência O Globo - 29/08/2023
Depois da 'prisão flutuante', Reino Unido agora planeja pulseira com GPS para controlar imigrantes
Reino Unido

O governo conservador do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, admitiu sem constrangimento que considera a ideia de monitorar alguns dos imigrantes que chegam irregularmente à costa do Reino Unido com pulseiras eletrônicas com GPS.

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“Estamos avaliando todas as opções ao nosso alcance”, reconheceu a ministra do Interior, Suella Braverman, em entrevista à BBC, ao responder a uma pergunta sobre a notícia publicada em primeira mão pelo jornal The Times. “Acabamos de aprovar uma ferramenta fundamental, a Lei de Imigração Ilegal. Vai nos permitir deter e expulsar todos aqueles que cheguem aqui ilegalmente”, advertiu Braverman.

Sunak transformou o combate à imigração irregular em elemento decisivo para o sucesso ou fracasso de seu mandato. E com a intenção de ganhar apoio popular, optou por priorizar uma abordagem criminal em detrimento da visão humanitária, ao se referir às pessoas que cruzam o canal da Mancha para chegar ao país como “ilegais” e não como “irregulares”, como propõe há anos o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). O uso de pulseiras para monitoramento implicaria em impor aos imigrantes uma medida restritiva da liberdade que a lei britânica só permite ocorrer por decisão judicial ou como alternativa à pena de prisão.

— Estão tratando essas pessoas como objetos, em vez de homens, mulheres e crianças vulneráveis que buscam segurança e deveriam ser tratados com compaixão e humanidade — afirmou Enver Solomon, diretor executivo da organização UK Refugee Council, ao saber dos novos planos do Ministério do Interior britânico.

A nova lei de imigração, que o governo Sunak finalmente conseguiu aprovar no Parlamento no mês passado, é uma armadilha auto-induzida para Downing Street. Ao impor ao Ministério do Interior a responsabilidade legal de deter e deportar todos os imigrantes irregulares que cheguem ao Reino Unido, a pressão criada leva a soluções desesperadas, “cruéis e desumanas”, segundo o próprio Arcebispo de Canterbury, chefe da Igreja Anglicana, como a deportação de imigrantes para o Ruanda, o confinamento em prisões flutuantes ou o monitoramento eletrônico.

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Se os planos do Ministério do Interior contemplavam a utilização de pelo menos 25 mil pulseiras eletrônicas em 2025 para o controle de criminosos condenados, a extensão deste mecanismo a milhares de imigrantes que chegam ao Reino Unido sobrecarregaria os recursos disponíveis para a segurança, dizem as autoridades do setor.

Promessas não cumpridas

O primeiro-ministro britânico prometeu há quase um ano acabar com a chegada de barcos com imigrantes irregulares à costa sul do país; aumentar o número de centros de detenção para evitar a utilização de hotéis em todo o país; e eliminar a sobrecarga no sistema de processamento de pedidos de asilo. Três promessas que rapidamente se transformaram em fracassos políticos.

De acordo com as estatísticas mais recente do próprio governo, mais de 175 mil pessoas estavam na fila de espera para o pedido de asilo no fim de julho. É o número mais alto de toda a série histórica de quase uma década — e equivalente a um aumento de 30% em relação ao ano passado, quando o número no mesmo período era de 122 mil. O Reino Unido gasta cerca de 4 bilhões de euros por ano com abrigo, manutenção e assistência a imigrantes. Quase um terço deles, em torno de 50 mil, vivem em hotéis.

Soluções como o gigante navio Bibby Estocolmo — apelidado de “prisão flutuante” — terminaram expondo o governo de Sunak ao ridículo. Ancorado na costa sul inglesa, o navio acabou recebendo apenas 15 inquilinos que precisaram deixar a embarcação após a descoberta da bactéria legionella na água a bordo. No ano passado, outra tentativa de levar imigrantes de avião para Ruanda fracassou porque a justiça europeia impediu o voo. O governo de Sunak, especialmente a ministra Braverman que lidera a ala mais dura, chegou a considerar abandonar a Convenção Europeia de Direitos Humanos se o Tribunal Europeu de Direitos Humanos continuar a impedir os planos de deportação de imigrantes para Ruanda.