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Suspeito de matar namorada médica em SP tentou levar corpo do apartamento, mas mala rasgou, diz polícia

Suspeito, que já tem mandado de prisão em aberto, demonstrou frieza após a morte de Thalitta da Cruz Fernandes e foi flagrado por câmeras deixando o condomínio levando uma mochila

Agência O Globo - 21/08/2023
Suspeito de matar namorada médica em SP tentou levar corpo do apartamento, mas mala rasgou, diz polícia
Namorado preso por morte de médica diz que usou cocaína e não se lembra de nada - Foto: Reprodução

A mala em que foi colocado o corpo da médica Thallita da Cruz Fernandes, de 28 anos, rasgou, o que teria impedido o assassino de deixar o apartamento em que ocorreu o crime para ocultar o cadáver. A suspeita é do delegado Alceu Lima de Oliveira, responsável pela investigação do caso. O principal suspeito, namorado da vítima, Davi Izaque Martins Silva, de 26 anos, foi preso no sábado.

Escondido na mala, o corpo foi guardado no armário do próprio apartamento em que a mulher vivia, num condomínio de classe média de São José do Rio Preto. A principal suspeita é de que ela tenha sido morta pelo namorado, que convivia com ela há cerca de um ano e meio e não teria aceitado a decisão da jovem de terminar o relacionamento e mudar o padrão de vida dele.

— A gente acredita que a intenção dele [do suspeito] era levar [o corpo], mas a mala acabou rasgando. A mala estava rasgada acima do zíper. Por isso, talvez, ele tenha desistido [e deixado o corpo no apartamento] — disse o delegado, titular da Delegacia de Homicídios de São José do Rio Preto. — Pelo que nos passaram, ele foi preso quando estava dormindo [na casa da mãe]. Foi surpreendido pela polícia.

'Agora parece que caiu a ficha dele'

Para o investigador, os indícios até o momento apontam para um crime com motivação patrimonial.

— Ele estava muito frio até ontem à noite. Dizia não se lembrar de nada. Agora, parece que caiu a ficha dele. Pode ter uma reviravolta no caso, mas ainda falta muita coisa [para concluir a apuração], muito laudo a ser produzido. Que ele dependia financeiramente da vítima, ele dependia. Não tem outro suspeito — afirmou ao GLOBO o delegado, que voltou ao local do crime nesta segunda-feira.

Segundo Alceu Lima de Oliveira, o suspeito também teria resolvido fugir do local ao ver mensagens de uma amiga da vítima, que estava desconfiada do paradeiro da médica.

Família e amigos começaram a ficar preocupados quando Thallita parou de responder mensagens, ainda na noite de quinta-feira. A angústia se tornou ainda maior quando, durante a madrugada, chegaram mensagens vindas do celular da médica, mas que, para eles, claramente não haviam sido escritas por ela. Continham palavras chulas e gírias que não eram costumeiras da vítima.

– Parentes e amigos da médica não conseguiram contato com ela desde a noite anterior (de quinta-feira), e foram acionadas as polícias Civil e Militar para a ocorrência. Quando a PM chegou no local, viu sangue, já constatou que a vítima estava morta dentro do apartamento – conta o delegado. – Testemunhas contaram que ouviram briga no apartamento, na madrugada em que ela morreu.

A Polícia Civil colheu câmeras de segurança do prédio que mostram o momento em que ele deixa o condomínio em momento posterior ao assassinato, demonstrando frieza. Logo em seguida, ele embarca numa corrida de aplicativo e, desde então, não é mais visto.

A violência empregada foi grande. Foram necessários quatro peritos para analisar a cena do crime, quando normalmente são deslocados apenas dois. O assassino não levou nada além de uma mochila, e o celular de Thallita foi encontrado no apartamento horas depois, com ajuda de funcionários do condomínio. Na cena do crime, os policiais apreenderam dois objetos perfurantes que teriam sido usados como armas do crime.

Homenagens

Crime chocou, não apenas a cidade de São José do Rio Preto, como também a pequena Bady Bassit, onde a jovem também dava plantões médicos. Além de centenas de mensagens de tristeza e condolências em seu perfil, Thallita também foi homenageada por instituições como a Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp), onde se formou em 2021, e pelo Hospital de Base de Rio Preto.

"Com pesar, a Diretoria da Famerp (Faculdade de Medicina de Rio Preto) lamenta profundamente o falecimento trágico da aluna da turma 49, Thalita Fernandes. Sua partida prematura nos entristece. Nossos sentimentos aos familiares e amigos neste momento de tristeza e consternação", escreveu a faculdade de Medicina.

A Fundação da Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto (Funfarme), que administra o Hospital de Base, escreveu: "Em nome de todos seus diretores, corpo clínico e colaboradores, o Complexo Funfarme manifesta profundo pesar pela morte da médica Thallita da Cruz Fernandes. Formada em 2021 pela Famerp, Thallita atuou para melhor atendimento de centenas de pacientes. A Funfarme manifesta suas condolências à amigos e familiares".

Entre mensagens de tristeza e de revolta, nos comentários, pacientes emocionados diziam já ter sido bem atendidos pela médica. Formada em 2021, Thallita começou a carreira na Medicina já estando na linha de frente do combate à pandemia da Covid-19. Em publicações antigas, ela se posicionava, lutando contra a desinformação e orientando que as pessoas respeitassem o uso de máscaras, o distanciamento social e se vacinassem. O amor pela família também é exposto em sua página. São várias as fotos com o pai, Hilton Fernandes, e com a mãe, Juliana Cruz, onde declara o seu amor.

"Estou absolutamente chocada e muito triste…Tenho certeza que todos da Família do Externato Nossa Senhora Menina também estão… Que se faça justiça e que nossa querida ex aluna Thallita Fernandes encontre Luz e amparo nos braços de Deus… Meus sentimentos a toda família, Força querida Juliana Cruz… e a todos os amigos e amigas que fizeram parte da infância e adolescência junto com ela, todo o meu amor nesse dia tão triste … me senti novamente a Tia Ji, com uma vontade imensa de segurar vocês todos nos braços e não permitir que nada de ruim acontecesse", escreveu uma antiga professora da escola no Facebook.