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Milei diz que se vencer eleição ex-presidente Macri será seu representante no mundo

Candidato do partido A Liberdade Avança reconheceu diálogo fluido com ex-presidente, a quem pretende oferecer 'um papel de destaque' dentro de seu governo

Agência O Globo - 19/08/2023
Milei diz que se vencer eleição ex-presidente Macri será seu representante no mundo
Javier Milei - Foto: Assessoria

Confiante em alcançar uma nova vitória nas eleições de 22 outubro na Argentina, após ter ficado em primeiro lugar nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) há uma semana, o candidato libertário Javier Milei já começou a planejar a equipe de trabalho caso ganhe a Presidência. E o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) deve ter um papel importante em seu gabinete: neste sábado, Milei confirmou que mantém um diálogo com o ex-chefe de Estado — algo que Macri já tinha comentado —, a ponto de planejar lhe oferecer "um papel de destaque" em um futuro governo.

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— Se eu for presidente, Macri terá um papel de destaque como representante da Argentina no mundo. Seria uma figura acima do ministério de Relações Exteriores, um representante do país, não sei definir. O cargo teria que ser criado, mas acho que é alguém que pode abrir mercados — afirmou em entrevista à Rádio Mitre.

Macri apoia Patricia Bullrich, que concorre por sua coalizão política de centro-direita, a Juntos pela Mudança, que terminou em segundo lugar nas primárias (somados os votos de Bullrich e do prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, derrotado na disputa interna). Na semana passada, no entanto, o ex-presidente fez um aceno a Milei, durante o lançamento de um livro, no Uruguai.

— Todos nós que acreditamos na mudança vamos ter que estar juntos para derrotar o peronismo.

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Segundo a imprensa local, Macri já até teria até designado um amigo próximo para arrecadar fundos para a campanha do libertário: o empresário Pedro "Pierre" Pejacsevich, dono da consultoria financeira T&P Asesores, fundada em 2017 no auge do governo macrista.

Neste sábado, Milei confirmou que ele e o ex-chefe de Estado já conversaram sobre vários assuntos.

— Fiquei muito agradavelmente surpreso porque ele não apenas se preocupou em me fazer perguntas sobre economia, mas também mostrou um lado humano inesperado para mim, devido ao vínculo que temos — disse.

Para Bullrich, a aproximação entre Milei e Macri é uma péssima notícia. A candidata já vinha enfrentando dificuldades para se diferenciar de seu rival de extrema direita já que seus programas de governo têm semelhanças, entre elas a proposta de aplicar um forte ajuste fiscal. Se Macri se inclinar cada vez mais a favor de Milei, a campanha de Bullrich, avaliam analistas, ficará esvaziada.

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Por outro lado, estrategistas como Jaime Durán Barba, que trabalhou na campanha presidencial de Macri de 2015, acreditam que uma das grandes fortalezas de Milei é não pertencer a partidos tradicionais, nem ter integrado governos passados. Em entrevista ao canal de notícias La Nación +, o estrategista equatoriano assegurou que o candidato da extrema direita poderia perder votos se começasse a negociar apoios com dirigentes do sistema tradicional, como Macri. O homem que fez Macri conquistar a Presidência há oito anos, hoje considera o ex-presidente um político velho, cuja presença na campanha de Milei poderia ter um custo político para o candidato da Liberdade Avança, que promete combater o que chama de "casta política".

Os movimentos de Macri estão causando revolta dentro da Juntos pela Mudança. A ex-candidata presidencial Elisa Carrió, que disputava uma vaga na Câmara, renunciou à sua candidatura pelo cada vez mais evidente apoio do ex-presidente a Milei.

Conversas com o FMI

Milei também falou sobre o encontro que manteve com autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI), e garantiu que o tratamento foi “muito cordial”. O diretor do FMI para as Américas, Rodrigo Valdés, e outros membros de sua equipe, tiveram uma reunião virtual com o polêmico político argentino na manhã de sexta-feira.

— É o primeiro encontro de muitos, e agora começa uma interação entre equipes técnicas — explicou Milei, garantindo que ele e os representantes do FMI combinaram “bons termos” para um futuro encontro. — Uma das coisas que deixei claro é que os compromissos serão respeitados à risca. O ajuste que propomos implica ir em direção a um resultado financeiro nulo. Significa que não haverá mais dívidas contraídas. A dívida não vai crescer. A Argentina se tornaria solvente — explicou Milei, que no último domingo conquistou mais de 7 milhões de votos em todo o país.

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Entre as propostas do candidato, destacam-se duas que têm gerado muita discussão: dolarizar a economia e eliminar o Banco Central da República Argentina (BCRA), responsável por definir as taxas de juros e controlar uma das inflações mais altas do mundo (115% ao ano).

— Isso faria com que não houvesse mais desvalorizações. O programa seria amplo. Tem potencial para grandes ganhos de capital. Precisamos mudar a moeda — defendeu neste sábado.

No início da semana, o FMI se reuniu com Bullrich, defensora da manutenção de uma economia bimonetária, com a moeda local, o peso, e o dólar.

Para o FMI, as reuniões virtuais "foram uma oportunidade para trocar pontos de vista sobre as perspectivas econômicas atuais da Argentina e compreender suas prioridades de política econômica", disse um porta-voz da organização financeira, que pediu para não ser identificado.

Ato em favor de instituição de pesquisa científica

Outra proposta polêmica de Milei está causando reação no país. O libertário ameaçou privatizar o principal centro estatal de pesquisas científicas da Argentina, o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet). A proposta pautou a agenda eleitoral dos últimos dias, que continua girando ao redor de Milei — como foi desde o início da campanha.

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Na sexta, funcionários fizeram uma ato junto com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Daniel Filmus, em frente à esplanada do polo científico, localizado no bairro portenho de Palermo.

— Não se discute ciência, não se discute educação, não se discute obras públicas. Não podemos voltar atrás nessas conquistas e nesses direitos conquistados — afirmou um dos palestrantes do encontro. — Para isso, precisamos estar aqui e mostrar que muitos de nós pensam que isso não pode ser revertido de forma alguma.